Os ideais democráticos e a educação infantil – exclusivo

Marcelo Ribeiro

Não há nada mais absurdo para não dizer hipócrita do que a ideia de uma educação que não seja de uma ordem política. A grande questão é de que tipo de política estamos falando ou ensejando na educação. Basicamente, em posições antagônicas, vamos encontrar, pelo menos nos modelos mais típicos, uma política autoritária versus uma política democrática.

A primeira tem característica totalizadora, com relações de poder rigidamente assimétricas e desejosa por corpos dóceis e sujeitos autômatos, como abordado criticamente por Michel Foucault e pelos estudiosos da escola de Frankfurt.

A política democrática, que não é isenta de problemas, se configura pela pluralidade e liberdade de expressão, pela ideia de sujeito de direito e tem, como base, o princípio do diálogo.

Dessa forma, a política, em seu sentido lato é forjadora de sujeitos, pois organiza e medeia as relações, criando condições para um modus operandi social. Seja em seu modelo típico autoritário ou democrático, teremos sujeitos impactados pela ordem política em todo o seu processo histórico-desenvolvimental.

Partindo do princípio que educar é antes de tudo uma tomada de posição, um assumir a perspectiva em relação ao humano e ao mundo, a ordem política sempre será uma condição sine qua non dos processos educativos. Educar é uma ordem política, portanto, mesmo quando não se queira assumir essa ordem.

John Dewey foi um dos pensadores que assumiu radicalmente essa ordem (política) na educação, sobretudo em relação aos processos escolares. Para Dewey, a educação deveria estar voltada para formação de uma sociedade democrática (obviamente por assumir essa posição), assim como esta (a sociedade) sustentaria espaços escolares para o desenvolvimento de valores e práticas democráticas.

Acertadamente as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil, compreende a criança como sujeito histórico e de direitos, construindo sua identidade individual e social, vivendo a ludicidade e produzindo sentidos. Sendo assim, essa criança, ativa em seus processos, está inserida uma instituição da educação infantil (seja creche ou a pré-escola) que, ao assumir valores, práticas, atitudes e mediar tudo isso em suas ações sociais-pedagógicas, está, indubitavelmente, na ordem de uma política.

No que se refere aos ideais democráticos, sobretudo a valorização das diferenças, a autonomia, a participação e o diálogo como base das relações humanas, estes precisam ser trabalhados, vigorosamente, desde a educação infantil. É certo que a educação por si não garantirá uma mudança social, de uma perceptiva autoritária para uma democrática, mas sem a contribuição da educação, as mudanças ficariam muito mais comprometidas. E a educação infantil, no que diz respeito a sua ordem política (democrática) é fundamental para garantir a formação das crianças em suas especificidades, mas também em suas potencialidades enquanto novas gerações de adultos.

Por fim, perguntas devem ser lançadas a todos para que possamos manter vivo o entendimento de que educar é um ato político. Além disso, certamente, a ordem democrática precisa ser garantida desde a educação infantil. Sendo assim: que sociedade queremos? Que humanos desejamos? Que tipo de educação infantil iremos disponibilizar para as nossas crianças? Uma educação de ordem política autoritária ou democrática?

Obs. Este texto é dedicado a Rita Coelho, recentemente exonerada da função de Coordenadora Geral de Educação Infantil do MEC. Eis uma defensora da ordem democrática na educação infantil.

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