Observar para absorver o mundo: A Filosofia como forma de leitura e apropriação da sociedade

Vagner Luciano de Andrade

 

Essencialmente, pensar os textos/contextos atuais é primordial para se repensar a ordem social vigente. Os questionamentos inerentes ao homem e sua vida em sociedade perpassam pela Ágora e pela democracia ateniense e por nomes como Sócrates, Platão e Aristóteles. Assim apropriar-se dos textos clássicos é mergulhar na formação inicial da filosofia e da ciência moderna entendendo como se deu a evolução da mesma. Posterior a este período de gênese, como os pensamentos dos teóricos daquela época foram reapropriados e reconfigurados nos tempos posteriores.

Num delicado momento, onde o discurso de ódio se tornou o irmão gêmeo da liberdade de expressão, urge aos licenciados e professores, em especial aos filósofos pensar a Filosofia, como mecanismo de complementar, e completar a formação democrática dos indivíduos. Filosofar é “observar para absorver o mundo”, numa perspectiva de discernimento e alteridade. Exemplos não faltam para justificar que o você realiza existencialmente para responder às múltiplas questões da vida. O homem escreve sua história, sendo uma das muitas unidades de um livro contínuo e universal. Diante de um mundo cada vez mais complexo, a Filosofia se materializa como forma de leitura da realidade, expondo linhas de pensamento, argumentos e interpretações de extrema urgência e importância. Viver é decodificar diferentes textos, apresentados por filósofos e outros pensadores que buscaram através de suas teorias ou correntes explicar o “inexplicável”. Resumidamente todo contexto possui um texto lógico de argumentos para explicar a ordem/desordem do mundo. Intelectualmente, desde a formação educacional inicial, sempre pesquisamos sobre as influências da história e da filosofia na tessitura da vida social. Este e outros aspectos permeiam esta consciência e são fundamentais à sua formação como prática formativa humana. Filosofar é ler o mundo.

O professor doutor Jose Carlos Bruni (USP), destaca que se aprende a mecânica de ler aos sete anos de idade, mas, entretanto, a leitura, arquitetada como instrumento de apreensão de uma ideia, é processo bem mais complexo. Seu aprendizado não se fixa à uma idade determinada e o aprimoramento da técnica de leitura é tarefa durante toda vida. Aprendemos a ler durante toda a vida, pois a leitura é um exercício e, como tal, melhoramos ou nos aprimoramos com o tempo. Segundo o autor, outro aspecto destacado é o fato de o texto possuir duas estruturas, uma interna (o texto) e outra externa (o contexto), aspectos que melhor explicam a intencionalidade textual, suas nuances e alternâncias, manifestações e decodificações (BRUNI in SILVA, 2019, p. 16).

Fotografia de Fernanda Aparecida Peixoto (2019)

Nossa formação educacional e socioambiental ainda disponibiliza escritos de relevância sobre coletividade e respeito. Diante dessa conjunção, a atividade pedagógica consiste em refletir sobre a importância filosófica de diferentes textos e contextos a partir das questões atuais de veto e censura à democracia e à liberdade de expressão: Classicamente ler textos é refletir sobre a realidade promovendo discordâncias e concordâncias. Por que ler o mundo tem se tornado perigoso na atual conjuntura brasileira? Para tanto, a disciplina (autoritarismo) como materialização da ordem (militarismo), tenta se impor como componente complementar à democracia num contexto antidemocrático. Mas, mesmo assim, uma minoria tenta loucamente destacar abusos e retrocessos na busca de mecanismos opostos ao estado democrático estabelecido há três décadas.  Opor-se à esta desconstrução!

A leitura crítica e aplicação dos teóricos nos faz analisar as conjunturas do passado com vistas a reformulação do presente e a projeção de um futuro mais equânime. Portanto, mais do que nunca é de suma importância que professores e alunos descrevam suas percepções reflexivas nas resistências clássicas para pensar e repensar o projeto de coletividade com suas nuances e projeções, bem como esboçar permanências e rupturas. Reafirmar a democracia como ápice da coletividade humana, sempre!

Fotografia Vagner Luciano de Andrade (1997)

A Grécia antiga é referencial na qual o homem visto como centro do mundo e das discussões é o que promove uma vida de benesses, mesmo que no período medieval, a religiosidade tem centralizado discussões em torno do Teocentrismo, a antiguidade clássica e a filosofia grega vão trazer os pressupostos para reformulação do humanismo e da modernidade a partir da Renascença. O homem como centro do mundo e das discussões da humanidade em reformulação, na qual emana do ser humano todo poder e toda a potencialidade, enquanto um pressuposto que fundamenta a humanidade de hoje e consolida cenários de avanços e retrocessos. Assim buscar os referenciais teóricos clássicos é uma forma de atualizar e de se pensar o tempo de hoje com vistas às adequações e reflexões emergenciais e, portanto, necessárias.


PARA IR ALÉM

SILVA, Edson Barbosa da. Filosofia e Leitura de Textos Filosóficos. Maringá/PR: UNICESUMAR, 2019.

Plano de aula – Discurso de ódio e racismo nas redes sociais/Nova Escola.

Bolsonaro decreta fim das faculdades de Filosofia e Sociologia: “Objetivo é focar em áreas que gerem retorno imediato” – Revista Fórum.

Por que os cursos de Filosofia e Sociologia incomodam Bolsonaro? – Carta Capital.

Imagem de destaque: Senado Federal / Reprodução

  http://www.otc-certified-store.com/eye-care-medicine-europe.html https://zp-pdl.com/best-payday-loans.php https://www.zp-pdl.com https://zp-pdl.com/get-quick-online-payday-loan-now.php

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *