O verbo é o sujeito

Ivane Perotti

Para aqueles que insistem em alimentar o discurso da apatia na escola pública, uma notícia: o verbo é o sujeito, o sujeito é o verbo. Esta aparente antonímia gramatical foi declinada por um aluno do ensino médio, durante um estudo sobre os verbos em língua portuguesa brasileira. Por testemunha, o sol mergulha no presente do indicativo, sublinhando a flexão da conjugação em /ir/, primeira pessoa do singular. E quem não decodificou o nome do aluno, perdeu a voz: vez de quem pensa que pensar não dói! Momento para os sujeitos saírem ao sol de agosto em plena Belo Horizonte verbal.

Aprendentes, oleiros das linguagens, constituem a escola um lugar de conspiração poética: “acidentes” de sentido amalgamam o tijolo das construções linguísticas e embalam o grego Aristóteles em sono retórico. Sujeito e verbo? Substância e acidente? Conhecer um e outro é dar-se a conhecer em abundante devir. E a quem possa interessar, abundância, aqui, não é antítese: é decisão. Decisão que ladeia o olhar sobre a escola tingida pelo sol tímido, acuado entre o seco final de julho e os presságios de chuvas fronteiriças. Abundância na ação criativa de aprendentes diversificados pelas estações individuais; abundância em desconstruir o posto _ particípios deslizam pelas antigas cortinas e deitam-se para refazer o caminho do verbo nascente. Um substantivo espia, indeciso, imberbe diante ação inconclusa: um e outro? Ou um, ou outro? Quem chama à vez aquela voz de adolescente no fundo da sala? _ para conhecer o já sabido.

A língua portuguesa brasileira chora alfabéticas lágrimas de alegria! Eis que abundam possibilidades para quem a toma para si: parteiras de plantão interpretam o fato e esperam pela leitura formal. Sujeito ou verbo? O sujeito é o verbo! O verbo é o sujeito!

Cai em si mesma a consciência “estética da criação verbal” (BAKHTIN). Cai ela, caio eu. Caio embevecida pela natureza escaldante da aprendizagem: processo que carrega baldes de sapos com infinitas possibilidades não costuradas à pobre boca anfíbia tão afeita a práticas não comprovadas. Caio diante das lágrimas alfabéticas que a língua dos “tupiniquins” faz jorrar em ouro líquido: sílabas abertas em quilates de pureza agregam-se às sílabas fechadas. CV, CVV, VC, CVC dançam pela sala de aula como se não houvesse amanhã. Amanhã?  “Demasiadamente tarde, conheci a boa consciência, no trabalho alternado das imagens e dos conceitos, duas boas consciências, que seria a do pleno dia e a que aceita o lado noturno da alma” (BACHELARD). Palavras inteiras mudam de ambiente apenas para dizer que estão lá: prontas para significar. Aprendentes dançam com as palavras apenas para recriar a música. Passos de regência e concordância alinham orações e rezas; todos pedem para que jamais cessem as alfabéticas lágrimas alegres da língua: por todas as vozes do verbo e dos sujeitos, que a língua chore sobre nós! Que chore alegre as perífrases e metonímias, que chore as sílabas de hoje e amanhã… que chore sobre os nativos desta Terra de tantos ais!

Eis a notícia sobre a vida da escola pública: o sujeito é o verbo! 

Caio nessa com insuspeita coragem!            


Referências:

BACHELARD, Gaston. A poética do devaneio. (tradução. Antônio de Pádua Danesi). São Paulo: Martins Fontes, 1988.

BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. 2ª edição. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1997.

Imagem de destaque: Marileide Cassoli

https://zp-pdl.com/online-payday-loans-cash-advances.php https://zp-pdl.com/how-to-get-fast-payday-loan-online.php

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *