O problema não é a Greta, são suas pautas que afrontam o capital e é a violência aplicada aos que se manifestam

Tiago Tristão Artero

Comparar Greta à Malala, pode gerar alguns estranhamentos. Exaltar Malala e rebaixar a Greta significa negar a reflexão trazida por esta.

Na falta de argumento e embasamento causal para criticar Greta, falam de suas expressões faciais, de seu jeito de falar, da sua entonação. Criticam-na pela condição econômica de sua família e de seu país, colocando-a como privilegiada e sem legitimidade para discorrer sobre elementos da vida e da sociedade.

Exaltam Malala porque seus algozes eram do Talibã, por ela ter uma fala suave, por não ser hostil. Exaltam-na por ela ser resiliente. Neoliberais adoram esta “virtude”, pois ela remete (não é o caso da Malala) à aceitação, subjugação, adormecimento de possíveis ideias de revolta.

Malala afronta o sistema, mas é um sistema que está longe dos norte-americanos e do neoliberalismo. Malala não incomoda, mais especificamente, não incomoda o capital.

Greta incomoda o capital. Embora não cite enfaticamente sobre novas relações sociais e trabalhistas, Greta aponta um dos cernes do problema do capitalismo, sua insustentabilidade.

Ao incomodar o capital, mexe com toda a bancada que está, de alguma forma, arraigada aos mecanismos mais destrutivos do capitalismo.

No Brasil, Greta gera desconforto tremendo na bancada da bíblia, do boi e da bala.

Já era esperada a reação dos ligados ao agro, mas por que evangélicos, espíritas e católicos da extrema direita estão esbravejando contra ela?

Já sei, Greta não é resiliente, questiona, não aceita. Isso é imperdoável nos ambientes religiosos, quando pouco, gera desagrado.

O mesmo foi feito com Felipe Neto, quando, na tentativa de desqualificar sua luta e suas pautas, falaram de seu aspecto físico, de suas expressões faciais (assim como fizeram com Greta), corromperam seu trabalho, editando vídeos e descontextualizando falas. Embora Felipe Neto não incomode o capital, questiona os moralistas, em especial, os falsos.

Esse mecanismo é bastante conhecido. Já citava Gramsci que as classes dominantes buscam, das mais diversas formas, manter sua hegemonia. Ora pela formação de hegemonia, ora pela força, de maneira que estes mecanismos coexistam.

No caso do Felipe Neto, as ameaças o fizeram viabilizar a saída de sua mãe do Brasil, o que também ocorreu com um político de grande representatividade, Jean Wyllys, que teve que sair do Brasil – fato que gerou grande repercussão internacional.

Enquanto bolsonaristas desfilam livremente pelas ruas com suas camisetas amarelas e ostentam a bandeira do Brasil na frente de suas casas (que fique claro, que utilizam a bandeira como símbolo da ideologia da direita e da extrema direita), lulistas, psolistas, petistas, pedetistas, acoados, esperam o melhor momento para poder se manifestar, geralmente em grupo, em local movimentado e que gere, de alguma forma, alguma sensação de segurança.

A camiseta com a foice e o martelo pode estar mofando no armário, assim como a do sindicato ou qualquer outra que represente a luta pela superação dos mecanismos desastrosos do capital. Isso não é bom, pois a tolerância pelo intolerante contribuiu para a criação de um ambiente de autocensura nos mais diversos ambientes.

A hostilização da Greta, a sugestão de que sua revolta seria por falta de sexo (feita por um radialista de direita) ou por ser acusada de ter uma vida de regalias (e que não sabe nada da vida) ilustra muito bem o ambiente que nós, brasileiros, estamos imersos. Dizer que para alguém se manifestar sobre determinado assunto deve ter sofrido na vida, passado pela pobreza e pela violência é um raciocínio obscurantista e castrador.

A violência manifestada em relação à Greta é aquela que no dia-a-dia incapacita a articulação dos indivíduos rumo à superação das contradições presentes em nossa sociedade. Esta violência intenta barrar qualquer movimento de mudança dos meios de produção – mesmo que devastadores da vida humana e do meio ambiente – e qualquer alteração do status quo que signifique minorar as desigualdades sociais de maneira permanente.

Se a Greta, realmente, for uma menina mimada, que venham mais Gretas, que surjam mais meninas mimadas que não se autocensuram para afrontar a desumanidade dos que se dizem representantes das nações, mas que furtam o futuro das crianças e jovens de hoje, deixando como legado um rastro de destruição, depredação e guerras.


Imagem de destaque: ONU/Cia Pak

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