O mal do século

Antonio Teixeira

Depressão é escuridão, frio e terrível solidão. Se alguém fica muito tempo lá embaixo, esquece.

 A tristeza agrava seriamente todo o sistema educacional brasileiro. Os sistemas de saúde em todo o mundo registram aumento crescente de morte por suicídio de pessoas com depressão severa, doença complexa, registrada desde a infância. Fonte do Ministério da Saúde mostra que entre os anos 2006 e 2015, a taxa de suicídios entre adolescentes de 10 a 19 anos aumentou 24% e o recorde de 10.575 mortes em 2016, ou seja, um suicídio a cada 46 minutos. A doença é prevalente desde a infância (5 a 9 anos, 0,04%), adolescência (10 a 19 anos, 8,02%), adultos (20 a 59 anos, 74,46%), e idosos (17,26%).

É preciso romper as barreiras que nos impedem de falar abertamente sobre a principal causa de suicídio no Século XXI. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão começa com tristeza profunda, falta de apetite, desânimo, pessimismo e baixa autoestima e tira a vida de um milhão de pessoas a cada ano em todo o mundo. É a segunda maior causa de morte entre 18 a 29 anos e, também, é o principal motivo de incapacidade na realização das tarefas escolares. Na juventude, a depressão se alastra e desafia pais e professores nas universidades. O suicídio é a expressão da dor, do desespero e da desesperança.

As pessoas precisam ser encorajadas a entender a depressão, recebendo apoio e informação para lutar contra a doença. A cada ano, nos dias 10 a 14 de setembro, o Centro de Valorização da Vida (CVV) e a Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (ABRATA) fazem a campanha Setembro Rosa, “Quebrar o Tabu: Depressão sem Tabu”, com um labirinto de girassóis em uma praça de São Paulo.

Fatores ambientais, biológicos, culturais, psicológicos e genéticos são identificados em indivíduos com depressão. Comorbidades e drogas aumentam o potencial da doença. Sintomas como falta de humor, perda de apetite, baixa energia, distúrbio do sono, desconforto e dores no corpo, dor de cabeça intensa, problemas digestivos e dor abdominal podem fazer parte do quadro da depressão. A tristeza e a perda de humor são, em geral, os que mais chamam a atenção.

A pessoa acometida de depressão falta ao trabalho duas vezes mais que o colega ao lado. A doença exige vigilância da família, da comunidade e de profissionais de saúde. Estudos recomendam avaliação de fatores de risco como sentimento de inadequação, dificuldade de concentração, ideação suicida ou pensamento de morte em jovens entre 17 e 30 anos. Entretanto, os questionários de averiguação não substituem a entrevista clínica e história da doença, em busca de fatores psicossociais que podem gerar ansiedade e estresse.

Alguns fatores influenciam o sucesso do tratamento. O principal deles é a qualidade do relacionamento entre o terapeuta e o paciente. A habilidade profissional favorece a percepção do indivíduo. A empatia, a credibilidade, a frequência com que o terapeuta se comunica sem julgamento também contribuem para que o paciente, congruentemente, adote uma postura não-defensiva.

Ao divulgar conhecimento sobre o assunto, cumpre-se a missão de “quebrar o tabu” e favorecer o bem-estar do indivíduo com depressão — e de sua família. Além de conhecimento com base na pesquisa inspirada e executada pelos professores e pelo corpo técnico, a universidade é parceira do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio dos Hospitais Universitários. Assim, assume compromisso com a posvenção, ou seja, o trabalho de apoio para as famílias e para os colegas enlutados. Mais do que palestras pontuais a universidade pode oferecer aulas em disciplina de prevenção e posvenção de suicídio.

Porém, cabe elaborar algumas perguntas que, respondidas, podem contribuir para o enfrentamento à doença:

      1)Como avançar a pesquisa para o reconhecimento de casos silenciosos de depressão, a partir de                   agravos ambientais, genéticos e comportamentais?

2)Como evitar agravos comportamentais, discriminação, bullying, pressão por notas e ansiedade que          desencadeiam suicídios reconhecidos como pedido de socorro?

3)Como buscar cuidado especializado numa clínica de atendimento psiquiátrico (CAP) para prevenir           e reduzir a taxa crescente de suicídios?

4)Qual a abordagem mais efetiva na prevenção de suicídio em deprimidos crônicos?

5)O que a sociedade pode fazer para reduzir o estigma e melhorar a compreensão e a solidariedade               no acolhimento das pessoas com depressão?

6)Como promover o diálogo para mitigar o sentimento de inadequação, dificuldade de concentração,           ideação suicida e pensamento de morte?

A Universidade deve assumir o desafio de quebrar o tabu e prevenir a depressão, doença que entranha na penumbra das noites mal dormidas e suprime a informação retida na alma.

A sociedade deve prestar toda solidariedade às famílias de alunos da rede de escolas públicas e privadas que suicidaram nas últimas décadas.


Imagem de destaque: K. Mitch Hodge / Unsplash

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *