O lúdico em turmas de 1º ano do Ensino Fundamental – exclusivo

Renata Simões

 

“Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem.” – Carlos Drummond de Andrade

 

A inserção da ludicidade no cotidiano das turmas de 1º ano do Ensino Fundamental é um tema que vem sendo discutido no interior das escolas desde 2006, ano em que a Lei nº 11.274, que regulamenta o ensino fundamental de 9 anos, foi sancionada com o objetivo de assegurar às crianças um tempo maior de convívio escolar, maiores oportunidades de aprender e, com isso, uma aprendizagem com mais qualidade.

A política de ampliação do ensino fundamental e a inclusão obrigatória das crianças de seis anos na Educação Básica possibilita aos educandos, especialmente os oriundos de famílias menos favorecidas financeiramente, que muitas vezes não contam com a inclusão de seus filhos na Educação Infantil, uma ampliação do tempo destinado à alfabetização, buscando, assim, respeitar os tempos individuais de cada criança, conforme indica o PNE (Lei nº 10.172/2001, meta 2 do Ensino Fundamental). O principal argumento para a ampliação do Ensino Fundamental é “[…] oferecer maiores oportunidades de aprendizagem no período da escolarização obrigatória e assegurar que, ingressando mais cedo no sistema de ensino, as crianças prossigam nos estudos, alcançando maior nível de escolaridade” (BRASIL, 2004, p. 14).

A Lei nº 10.172/2001, em seu Art. 5º, deu aos Municípios, aos Estados e ao Distrito Federal o prazo de até 2010 para implementar a obrigatoriedade da oferta do Ensino Fundamental de nove anos. Entretanto, boa parte desses sistemas de ensino não fizeram uma adaptação progressiva, deixando a implementação desse modelo para o último momento. A adequação abrupta ao disposto na lei gerou muitos questionamentos, inseguranças e dificuldades na adaptação dos sistemas de ensino e das unidades escolares sob diversos aspectos: currículo, metodologias, mobiliário, concepções, entre outros.

Foi preciso pensar em um ambiente alfabetizador que considere a criança em sua condição real e conceber uma nova estrutura de organização dos conteúdos atenta ao perfil dessas crianças de seis anos, distinto das crianças de outras faixas etárias, sobretudo pela imaginação, curiosidade, movimento e desejo de aprender aliados à sua forma singular de conhecer o mundo por meio das situações lúdicas e das interações com os brinquedos.

O lúdico contribui para o processo de aprendizagem dos alunos por sua característica de envolvimento que desperta o interesse e o prazer pela aprendizagem. Não é o caso de afirmar que o processo de aprendizagem acontece somente por meio da ludicidade, mas que o envolvimento da ludicidade favorece e enriquece esse processo, tornando a aprendizagem mais prazerosa.

O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil destaca a importância de se estabelecer relação entre o brincar e a aprendizagem:

Brincar é […] um espaço no qual se pode observar a coordenação das experiências prévias das crianças e aquilo que os objetos manipulados sugerem ou provocam no momento presente. Pela repetição daquilo que já conhecem, utilizando a ativação da memória, atualizam seus conhecimentos prévios, ampliando-os e transformando-os por meio da criação de uma situação imaginária nova. Brincar constitui-se, dessa forma, em uma atividade interna das crianças (BRASIL, 1998, p. 23, v. 2).

Devido a sua relevância no universo infantil, os processos lúdicos de ensino e aprendizagem como suportes para o desenvolvimento das potencialidades afetiva, criativa, cognitiva e social da criança e, ainda, como elemento básico para um crescimento equilibrado e consciente, devem fazer parte do cotidiano escolar, especialmente das turmas de primeiro ano. Propor atividades que permeiem o mundo da criança de forma que a aprendizagem não seja esvaziada de sentido, inclui o lúdico como agente potencializador das práticas pedagógicas (CHAGURI, 2006, p. 2).

Contudo, alguns professores, pedagogos e gestores escolares apresentam resistência em adotar recursos lúdicos por acreditarem que o jogo e o brinquedo perturbam a ordem, causando indisciplina e, por isso, infelizmente, tendem a separar o jogo e a brincadeira do trabalho escolar, deixando de envolver essas importantes ferramentas no processo do aprendizado, delegando-as apenas a poucos momentos de recreação.

É preciso ampliar o olhar para o novo. O uso do lúdico na escola é uma ferramenta metodológica capaz de promover o desenvolvimento da criatividade, da descoberta, uma vez que se propõe a romper com a reprodução mecânica, na medida em que implica oportunizar momentos de exploração, experimentação e expressão tão necessários ao desenvolvimento das crianças e à adaptação a novas situações, entre elas: o primeiro contato formal com o código escrito, no processo de alfabetização.

Por meio de atividades que considerem a relevância de práticas lúdicas para o desenvolvimento das crianças, o processo de ensino e aprendizagem tende a acontecer de maneira mais natural, conduzindo os educandos ao conhecimento significativo e contextualizado com a realidade na qual estão inseridos.

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