O imaginário coletivo e o golpe militar

Antonio Carlos Will Ludwig

O imaginário, um dos modos de expressão da capacidade criativa humana, refere-se à faculdade intelectual produtora de representações da realidade. Seu estudo, desde há muito tempo, vem sendo feito por acadêmicos pertencentes a quase todas as áreas das Ciências Sociais e Humanas. Uma das descobertas mais importantes advinda da Psicologia aponta para as formas de sua manifestação.

Estas formas podem ser assim enunciadas: imagens fantasiosas resultantes da seleção e da combinação de elementos reais, imagens variadas consequentes de experiências narradas por pessoas que as vivenciaram, imagens novas que tendem a ganhar existência própria na realidade e imagens específicas derivadas da reelaboração dos elementos obtidos do meio circundante.

Note-se que tais representações, apesar de serem diversamente constituídas, passam a integrar o repertório das crenças pessoais. Com base nestas formas é possível expor e examinar alguns acontecimentos recentes que estão contribuindo de modo ostensivo para o ativo funcionamento do imaginário popular. Eles incluem principalmente as manifestações discursivas emanadas de servidores fardados que ocupam cargos no governo.

Num artigo publicado em maio deste ano o general Mourão fez algumas afirmações preocupantes. Disse que ”a pandemia de covid-19 por suas consequências pode vir a ser [uma questão] de segurança”. Referindo-se aos males que afligem o país falou sobre “um estrago institucional [que] atingiu as raias da insensatez”. Logo a seguir afirmou que “opiniões distintas, contrárias e favoráveis ao governo devem ter o mesmo espaço nos principais meios de comunicação. Sem isso teremos descrédito e reação”. Ao conceder importância à separação dos poderes asseverou que é “uma regra estilhaçada no Brasil de hoje”. Para evitar que o país rume ao caos, propôs que sejam respeitados “os limites e as responsabilidades das autoridades legalmente constituídas”.

Também em maio deste ano o general Heleno divulgou uma nota motivada por uma eventual apreensão do celular do presidente Bolsonaro. Nela ele disse que era “uma interferência inadmissível de outro poder na segurança institucional do país”. Na sequência afirmou que “tal atitude poderá ter consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional”. Ainda neste mesmo mês o General Fernando de Azevedo também em nota divulgada concordou com o general Heleno “por se tratar do celular do Presidente da República, que é um assunto de segurança institucional”.

Em data posterior uma nota assinada pelo capitão Bolsonaro, pelo general Mourão e pelo general Fernando de Azevedo destacou que as Forças Armadas “não cumprem ordens absurdas. Também não aceitam tentativas de tomada do poder por outro poder da República”. Antes o general Eduardo Ramos havia dito que constituía um insulto especular sobre a intervenção das Forças Armadas. Negou também qualquer intenção antidemocrática do Presidente, porém alertou “não estica a corda”.

Similarmente foram divulgados dois documentos assinados por oficiais da reserva. Um deles apontou que ”as sucessivas arbitrariedades, que beiram a ilegalidade e a desonestidade, praticadas por este bando de apadrinhados que foram alçados à condição de ministros do STF, trazem ao país insegurança e instabilidade, com grave risco de crise institucional com desfecho imprevisível, quiçá, na pior hipótese, guerra civil”. O outro foi endereçado ao Ministro Celso de Melo. Seu teor, de cunho incisivo e descortês, versou sobre o perfil do militar brasileiro  Além dessas manifestações ocorreram diversas passeatas onde militares da reserva bem como o próprio presidente estiveram presentes. Nelas seus integrantes entoaram frases e exibiram faixas e cartazes desrespeitadores do regime democrático.

Embora seja possível admitir que cada uma dessas ocorrências surgiu por motivos distintos e específicos, o fato é que elas atuaram conjuntamente e produziram uma consequência comum, ou seja fizeram aflorar na memória das pessoas as diversas intervenções na política executadas pelos militares nos tempos idos levando-as a acreditar na possibilidade de aparecimento de um novo golpe.

Ademais estes acontecimentos contribuíram para provocar um enorme saldo negativo. O poder judiciário, particularmente o STF, continua reagindo veementemente ao poder executivo sendo que um de seus ministros está atuando para articular um cinturão antigolpe. Setores da sociedade civil estão se organizando e fazendo manifestações contra os atos antidemocráticos. Entidades e partidos políticos já protocolaram vários pedidos de impeachment na Câmara dos Deputados. A imagem das Forças Armadas sofreu arranhões. O cisma dos civis em relação aos militares voltou à tona. A normalidade democrática encontra-se seriamente abalada. A figura do Brasil no exterior se mostra bastante maculada. É indubitável que este saldo negativo tem por responsável principal o atual Presidente da República que é um indivíduo destituído da capacidade de governar o país segundo as normas do regime democrático.


Imagem de destaque: Marcelo Camargo / Agência Brasil http://www.otc-certified-store.com/antibiotics-medicine-usa.html http://www.otc-certified-store.com/obesity-medicine-usa.html https://zp-pdl.com/how-to-get-fast-payday-loan-online.php www.zp-pdl.com https://zp-pdl.com/online-payday-loans-cash-advances.php http://www.otc-certified-store.com/antivirals-medicine-europe.html

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