O guarda da esquina

Dalvit Greiner de Paula

Enquanto Jarbas Passarinho mandava os escrúpulos às favas na edição do mais terrível ato institucional da ditadura militar brasileira, o AI-5 de 13 de dezembro de 1968, Pedro Aleixo, o vice-presidente civil do general-presidente Costa e Silva, dizia ao presidente que ele era bonzinho e que o problema era o guarda da esquina. A lição foi aprendida e agora, em pleno século XXI, os guardas de todas as esquinas do Brasil, autorizados pelo presidente, estão transformando o país num inferno.

Já naquela época o guarda da esquina tornou-se um grande problema nacional. Os chargistas do Brasil inteiro ironizaram a onda de “dedo-durismo” que assolou o país com estudante entregando professor, colega de trabalho denunciando colega, subordinado entregando o chefe. Gianfrancesco Guarnieri tocou no assunto com o seu famoso “Eles não usam black-tie” e se formos procurando por aí acharemos na História várias histórias daquele tempo, noutros tempos e noutros lugares. Não teve o caso do menino Pavlik que entregou o próprio pai ao regime stalinista? Verdadeira ou falsa essa história fica claro como que um Estado de terror entra pela casa da gente. Direitos humanos? Nem pensar. Só atrapalha.

Mas, pior que o “dedo-duro” apontando para a polícia, milícia ou quem quer que seja é perceber que quem está no poder incentiva, autoriza e investe um cidadão-comum, um zé-ninguém medroso a se tornar o executor da sua política de extermínio. O Comandante-em-Chefe autoriza o armamento e ele se torna legal. Você pode escolher o seu guarda da esquina. Temos aqueles que andam fardados e são mesmo guardas: o atirador do Witzel, o próprio Witzel. O policial aposentado e armado que mata motoristas no trânsito. Claro que eles não têm nome. Eles não podem ser pegos por alguém mais forte e melhor armado que eles.

Mas, ainda pior que o “dedo-duro” é o justiceiro. Quando o guarda da esquina se transforma no promotor-juiz-executor da pena: um sérgio-moro da periferia. Geralmente, é a pena de morte que eles aplicam. Assim vale para o policial na periferia – e apenas na periferia – que resolve por sua conta própria matar o menino que passou correndo. Aquelas balas que se dizem perdidas só se perdem na periferia porque apenas na periferia tem guarda da esquina. Na região mais rica da cidade, o guarda da esquina é cortês, “adotam formas diferentes de abordar e falar com moradores” para não ser deselegante com o cidadão. Para eles, na periferia não tem cidadão. Se o chamarem de “cidadão”, desconfie, mas não corra.

O outro modelo de guarda da esquina foi “o amor da minha vida”. Sabe onde moro, qual a escola das crianças, o supermercado que busco a comida. Ele é o ex-marido, ex-amante, ex-namorado, ex-ficante, ex-tudo que, de orgulho ferido, sem saber ouvir um “não” depois de outros milhares de não, resolve por conta própria matar a mulher. Ameaça, violenta e por fim, mata como se fosse a ação mais natural para o fim de um relacionamento. Sequer é capaz de pensar no trauma provocado nos próprios filhos, na medida em que o guarda da esquina não pensa. Ele age!

E o guarda da esquina na escola? Quem é ele? Identifique o seu. Em geral é um seu aluno que está sofrendo bullying. Na maior parte das vezes, tira a própria vida, culpando-se de ter nascido, de estar ali e ninguém nota-lo. Outras vezes, volta à escola armado e o resultado já o sabemos. Além desses dois exemplos, temos o professor(a) justiceiro(a) que agora, no terceiro trimestre, sem mover uma palha para alertar e ajudar seu aluno ou aluna ao longo do ano dá-lhe “bomba”, só para ele aprender!

E ele ou ela aprende. Aprende a aumentar a sua violência para se tornar, mais tarde, outro guarda da esquina.


Imagem de destaque: Rovena Rosa/Ag.Brasil

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