O ensino da ciência e da evolução – parte III

– Interveniência na biologia da evolução? –

 

Antonio Teixeira
Luiz Antonio Barreto de Castro*

 O ensino do conhecimento científico no sistema educacional é fundamental para desvendar mistérios da vida e embelezar a existência humana.

Organizações fundamentalistas com diferentes designações formam a tropa de combate à teoria da evolução de Charles Darwin. Relojoeiros Inteligentes e Criacionistas Científicos são os mais aguerridos. A crônica nos Estados Unidos é conhecida; os fundamentalistas conduziram ataques contra a biologia da evolução em escolas públicas, principalmente, de 1960 a 1990. Desde então e até o presente os Relojoeiros Inteligentes assumiram uma série de escaramuças inconvenientes. Em todo esse período os Teístas Evolucionistas ficaram de longe, exceto os que foram citados como testemunhas no processo na Corte de Dover que garantiu o ensino da biologia da evolução nas escolas públicas. Os cientistas laicos negam que isso seja científico, pois se trata de importação de crença religiosa disfarçada de ciência. A ciência não pode ser desmerecida pela fé que, eventualmente, trivializa a imagem de Deus1-3.

Se o Relojoeiro desenhou e deu vida ao olho, porque muitos não enxergam?

Os ataques dos Relojoeiros contra a biologia da evolução são frequentes; o olhar para formas avançadas de vida evidencia complexidade crescente e não se pode separar cada segmento e reduzi-lo a seus componentes químicos, mantendo-os vivo4. A redução significa morte porque seres vivos complexos não são como parede de tijolos empilhados. Como teria sido composta a irredutibilidade complexa? Certamente, não teria evoluído a cada passo pela deriva genética e seleção natural, dizem os fundamentalistas. Pois, o sistema complexo só pode ser montado pelo Relojoeiro Inteligente (omite o nome de Deus) que transcende e intervém no processo da criação. No olho, por exemplo, com imensa complexidade, cada célula tem diferente função e nenhuma célula vê quando isolada. O olho não poderia ter origem e evolução gradual pelos incrementos e modificações resultantes de mutações, de deriva genética e seleção ambiental; apenas a intervenção do Relojoeiro Inteligente deu ao olho o sentido da visão4-6. Porém, o Relojoeiro Inteligente não explica porque existem animais que vivem na escuridão do subsolo e não enxergam. Ou seja, não considera que a luminosidade e outros estímulos do meio ambiente são essenciais para o desenvolvimento do complexo aparelho da visão, conforme ensina a teoria da evolução7.

Ademais, a biologia da evolução reconhece que a complexidade é herança poligênica associada a polimorfismos que suportam a imensa diversidade multicolorida do olho anatômico e da visão como fenômeno físico; cada célula da retina é capaz de captar um fóton, partícula de luz conduzida pelo nervo ótico para neurônios de áreas do cérebro especializadas no processamento de imagens. A primeira parte desse conhecimento foi possibilitada pela ciência básica que descobriu o eletromagnetismo e levou à invenção do oftalmoscópio e de outros aparelhos óticos que ajudam a corrigir miopias e outros tipos de distorções no olhar.

O apelo à transcendência para explicar a incrível complexidade do olhar não deveria olvidar as evidencias encontradas pelos cientistas que analisaram formas primitivas ou parcialmente desenvolvidas de olhos e demonstraram sua evolução numa longa escala de tempo.

Se a interveniência de Relojoeiro Inteligentepermitiu a evolução do olho, porque muitos de nós precisamos usar óculos?

A teoria da evolução é empregada como modelo científico da realidade que inspira estudos multidisciplinares, visando à reconstrução da história biológica, nas melhores universidades do mundo civilizado. A teoria da evolução inspira estudos de biologia comparada de uma espécie com outra e tentativa de reconstrução da história da vida na terra. Essa inspiração comanda os estudos de cientistas sobre processos físico-químicos e metabólicos em células e suas pesquisas médicas para desenvolvimento de novas terapias. Assim, cientistas usam o modelo darwiniano para estudar vírus visando a possíveis terapias de doenças incuráveis. Outros investigam seleção negativa: como mutações remodelam o genoma e produzem doença autoimune e como uma mutação no gene da proteína que liga filamento contrátil à membrana da célula está associada à distrofia muscular e a um tipo de cardiopatia dilatada. Com participação de jovens cientistas a pesquisa sugere que o tratamento de doença autoimune requer transplante de medula óssea sadia pós-deleção da medula óssea doente, método empregado em vários hospitais de universidades. Essa abordagem também sugere o tratamento com múltiplas drogas para coibir a infecção de micróbioque enxerta o seu DNA no genoma humano. Com inspiração na biologia da evolução a ciência produzida no Brasil tem avançado no controle de doenças. Inspirados na imensidão da floresta Amazônica e do Cerrado, os cientistas concordam que um programa multicêntrico, visando à obtenção de novos medicamentos, tem chance de sucesso com inspiração criativa encontrada na ilimitada diversidade do reino vegetal, arquivo vivo da biologia da evolução. Essa é só uma breve amostragem que prova o darwinismo é uma teoria fértil, visto que gera conhecimento científico em série.

Os cientistas concordam que o investimento de bilhões de reais na biodiversidade da Amazônia e do Cerrado devolveria à sociedade os insumos para novos produtos e medicamentos necessários à manutenção da saúde que assegura qualidade de vida. Como prova disto, vê-se que os insumos oriundos da biodiversidade marinha já geraram dezenas de milhares de patentes, não obstante a imensurável biodiversidade inexplorada em grandes ecossistemas terrestre.

A garantia da liberdade do ensino da teoria da evolução no sistema educacional é fundamental para desvendar mistérios da vida e embelezar a existência humana. Os cientistas concordam que é preciso analisar toda dúvida ou controvérsia eavaliar continuadamente o modelo da biologia da evolução que potencia o conhecimento científico que cura doenças e promove o bem estar social.

Citações

  1. Miller K. Finding Darwin’s God, NY: Ciff Street Books. 1999.
  2. Warfield B.B. Evolution, Science, and Scripture: Selected Writings, ed. by Mark A. Noll and David N. Livingstone. Grand Rapids MI: Baker Books, 2000.
  3. Haught J. God After Darwin. Boulder CO: Westview, 2000.
  4. Dembski WA. Intelligent Design. Downers Grove IL: Intervarsity Press, 1999.
  5. Johnson PE. Darwin on Trial. Downers Grove IL: InterVarsity Press, 1991.
  6. Van Till, H J. The Fourth Day. Grand Rapids: Eerdmans, Center for Theology and Natural Sciences.1986.
  7. Pennock RT. Tower of Babel: The Evidence against the New Creationism. Endeavour 24(2):90-90, 2000.

*Agrônomo, pesquisador da EMBRAPA/CENARGEN tem pós-doutorado em biologia molecular de plantas na Universidade da Califórnia, e Ex-Secretário Executivo do PADCT/MCT/BR.


Imagem de destaque: Matt Seymour / Unsplash

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