O caminho de volta à escola

Alexandra Lima da Silva

Quando eu tinha 10 anos, e cursava a antiga quarta-série do ensino fundamental, fiquei fora da escola por alguns meses, por motivo de doença. No lugar de ter aulas, eu tinha consultas médicas. Muitas. Até uma cirurgia foi cogitada. Nesses longos e intermináveis meses, eu aprendi a sentir muita falta da escola.

Eu desejava acordar cedo, tomar banho, vestir o uniforme e ter aulas de português, matemática, ciências…

Mas eu não podia, porque eu estava doente. Não podia ir à escola. Eu vivi meses em isolamento, vendo as crianças brincarem desde uma janela.

De casa para hospital, de hospital, para a casa.

E como doía a saudade da escola.

Eu sentia falta do recreio.  Das brincadeiras. Do pique pega. Da correria e da algazarra na hora de “formar”. Da merenda. Do horário de entrada. Do horário de saída. Do sinal. Sentia saudade das coleguinhas. Sentia falta da professora me chamando a atenção porque eu conversava muito durante a aula.

A escola era meu porto seguro e minha vida de criança tornou-se um eterno dia nublado. Aquele ano de 1991 foi longo e doloroso.

A vida recomeçou para mim quando eu fiquei boa da doença e pude finalmente retornar à escola. Mas ela já não era mais a mesma. Tudo tinha mudado. Meu mundo se transformou. Eu me sentia deslocada e confusa. Algumas colegas já não mais me incluíam nas brincadeiras. E para piorar, apesar de todos os meus esforços para tentar acompanhar a turma, aquele ano estava perdido. Tive que repetir a quarta-série. Naquele exato momento, eu entendi que crescer doía, mas que o tempo curava tudo. E o caminho da escola me curou. Me trouxe esperança. Aos poucos, meu mundo voltou a ser colorido.

Num mundo de crianças confinadas, dedico este texto para todas aquelas que hoje não podem ir à escola.

Crianças, resistam.

Vai passar!


Imagem de destaque: Duangphorn Wiriya / Unsplash

 

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