O Brasil vai virar uma Venezuela?

Dalvit Greiner

 

Claro que não. Isso é afirmação de má fé de quem quer aterrorizar as pessoas em época de campanhas eleitorais. É eleitoreiro e não tem nenhum fundamento. Isso quer dizer que a Venezuela vai bem? Claro que não. A Venezuela entrou nesse processo antidemocrático por uma questão de sobrevivência de quem está no poder. O poder é algo tão sedutor que todos que o alcançam não pensam, em hipótese alguma, perdê-lo. Estar no poder significa usufruir de todos os bens em primeiro lugar. Não interessa se apenas um ou o seu grupo. O que interessa é que quem chega ao poder liderando um grupo quer o máximo de bens e benefícios. A questão está em saber quem lidera qual grupo. Assim, vamos lá!

Quando os bens se reduzem a um único produto a tendência é o país se tornar centralista e autoritário. É o caso da Venezuela. A única fonte de riqueza da Venezuela é o petróleo. A Venezuela tem a maior reserva de petróleo do mundo e oitenta por cento da sua receita de exportação depende dele. Ou seja, a Venezuela sem petróleo não é nada. E como isso se reflete na política! Se temos apenas um produto para garantir a sobrevivência, a tendência é correr, pegar e não largar. A Venezuela até a chegada de Hugo Chávez era um país em que a elite controlava, através da PDVSA, a empresa venezuelana de petróleo, da extração à exportação e, claro, toda a receita gerada. Não sobrava nada para o povo. A Venezuela, produtora de petróleo, era um país pobre. Com a chegada de Chávez há uma inversão radical. O petróleo aumenta substancialmente de preço e o governo Chávez cria mecanismos de distribuição dessa renda para o povo: salário, escolas, casas, etc.

Politicamente, Chávez começa a criar as condições para uma longa permanência no poder. Convoca eleições e um congresso constituinte que cria as leis que vão garantir vida longa ao regime chavista. A elite venezuelana não gosta dessa ação e tenta tirar Chávez do poder. Participa das eleições e perde. Tempos depois, se recusa a participar das eleições e entrega, de bandeja, todo o poder a Chávez, na medida em que não havia nenhum deputado de oposição no Congresso venezuelano. Depois, à força. Tenta um golpe de estado, mas Chávez retorna vitorioso com o apoio da população. Apenas a doença e a morte tiram Chávez do poder. Coincide com a morte de Chávez uma queda significativa nos preços do petróleo e assim, Maduro não consegue sustentar a política social de Chávez, deteriorando todo o bem estar social construído anteriormente. Ao invés de criar mecanismos de distribuição de renda, no caso do petróleo, e transferir o poder político de forma democrática, Maduro insiste em se manter no poder flertando com o autoritarismo e contribuindo com uma propaganda extremamente negativa para as esquerdas na América Latina e no mundo.

E o Brasil? O Brasil é muito diferente da Venezuela. O Brasil não é e nem virá a ser a Venezuela. Primeiro, nossa pauta de exportação é muito mais ampla, o que significa muitos interesses em jogo. É claro que a elite é sempre a mesma, mas tem interesses diversos e luta entre si também para defender esses interesses. O fato de ter uma população urbana maior que a população rural diversifica também os interesses populares, o que provoca muitos conflitos, legítimos ou não. Por exemplo, uma classe média que possui dois imóveis não olhará com bons olhos o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, assim como os latifundiários não olham bem para o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra.

Assim, a diversidade de interesses no Brasil impede uma polarização nos extremos políticos. O que vemos hoje é uma falsa polarização centrada num discurso religioso, xenófobo, moralista e sexista. Esse discurso é variável importante no jogo democrático, mas não é definitivo, pois, no médio e longo prazo ele não se sustenta. É, no máximo, discurso de uma geração e é pulverizado em vários partidos com interesses diversos. Por fim, esse discurso não acaba nunca: ele apenas adormece e retorna sempre que alguém resolve usá-lo politicamente. Veja a Europa. Isso apenas nos põe em luta constante para modificar a educação e a cultura que antecede a luta política.

Dessa maneira, o Brasil acaba de eleger um congresso bastante à direita. Houve uma renovação do congresso, garantido por esse discurso moralista, mas uma manutenção das ideologias de direita, principalmente a defesa da propriedade. Se juntarmos a Bancada BBB (boi, bala e Bíblia) com a FPA – Frente Parlamentar da Agricultura, que se fundem e se confundem, a nossa direita política tem maioria apertada no congresso. Porém, na maioria das votações atrai com facilidade o centro obtendo assim uma maioria com folga e até os dois terços necessários para mudar a Constituição. A esquerda no Brasil não está enfraquecida, mas tem que manter-se em constante luta contra os ataques da direita.

Para concluir e responder a questão que dá título a este texto: o Brasil vai virar uma Venezuela? Não e sim. Se pensarmos à esquerda, não. A esquerda brasileira hoje não tem condições e nem quer transformar o Brasil no modelo venezuelano. A esquerda brasileira, capitaneada pelo PT – Partido dos Trabalhadores, respeitou e respeita cotidianamente a Constituição e as leis. Não rasgou nenhuma lei, não tergiversou, não se omitiu no cumprimento da lei; reforçou os poderes de polícia e instituiu eficientes mecanismos de controle social do Estado brasileiro como a Controladoria Geral da União, o Ministério Público, a Polícia Federal, etc.

Sim, o Brasil pode virar uma Venezuela no pior sentido que podemos dar a isso. A direita brasileira tem feito de tudo para seguir os piores exemplos de Nicolás Maduro. Ao contrário da esquerda, a direita no Brasil quebrou todas as leis, inclusive a Constituição. Trouxe para si uma interpretação personalista colocando-se acima da lei. A direita no Brasil rouba e não vai para a cadeia; ofende e calunia e não vai para a cadeia nem perde o mandato; o desemprego aumentou e o número de desempregados no Brasil é quase a população masculina da Venezuela; abaixo da linha de pobreza no Brasil temos uma Venezuela. E isso tudo se agravou drasticamente nos dois anos que a direita ocupou a presidência da república com o sr. Michel Temer.


Imagem de destaque: Google Maps

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