O Brasil que nega seus intelectuais

Eudásio Cavalcante Melo*

A situação que estamos testemunhando e vivenciando na educação brasileira em tempos recentes, me levou, como educador, a pensar e decidir escrever este artigo como forma de protesto a tanta humilhação que passam os profissionais comprometidos na construção da intelectualidade em nosso País.

A educação brasileira está à deriva. Nunca vivemos numa situação de tamanho desprezo, da parte daqueles que dirigem esta Nação, um total descompromisso em relação a uma área de indiscutível importância em qualquer País sério. O Governo simplesmente virou às costas para uma classe que garante a existência de todas as outras classes. A ausência de projetos significa um futuro obscuro.

Quando falamos em educação, estamos falando de vida e sobrevivência. Um País que não investe na educação, está provocando sua própria morte, está jogando fora a sua bússola, que seria a garantia de chegar a algum lugar. Estamos em alto mar, sem nenhuma certeza de que iremos chegar ao nosso porto seguro, que é um direito de todos. Furtaram o nosso direito de respirar conhecimento, que nos forneceria esperanças de um mar com águas mais calmas, que possibilitasse, igualmente a todos, a condição de encontrar a bússola perdida e assim chegar à terra firme.

O título que dei a este artigo é, com toda convicção, uma afirmação que retrata a escuridão que nos impede de ver o que está mais próximo de nós, o nosso direto de viver, a nossa consciência. Negar a todos esta condição natural, é tirar o direito de pensar de forma independente e, assim, nega-se o direito de construir uma Nação que seja resultado de um único corpo pensante, o povo que a constitui.

Uma Nação sem intelectuais, pode ser comparada a um violão sem cordas, não se consegue extrair dele nenhuma melodia. Uma Nação em que a intelectualidade é viva, pode ser comparada a uma grande orquestra, onde cada um tendo consciência do som que pode tirar do seu instrumento, juntos produzirão belíssimas melodias.

O papel dos intelectuais hoje, é de fundamental importância na compreensão de propostas necessárias que visem mudanças significativas no campo da educação e, a partir desta, atingir a todas as outras áreas. A história da educação no Brasil passou por momentos distintos quanto a sua prática e atuação e obteve resultados diferentes, dependendo da forma de conduzir estas práticas.

No Brasil não foi diferente em relação a outros países, no que se refere ao envolvimento da Educação neste processo incontido de evolução econômica, o que levou a construção de uma nova concepção na forma de conduzir o aluno à aprendizagem, bem como, uma nova concepção na relação professor/aluno. Esta aproximação gerou maiores e melhores resultados, que beneficiaram a estes novos propósitos políticos, sociais e econômicos nesta nova virada na história do Brasil. Uma virada tecnológica.

Não podemos negar que a palavra transformação seja inerente à própria condição humana. Não podemos pensar a história da humanidade sem levarmos em conta esta necessidade de estar sempre mudando. E quando se fala em mudanças, a educação pode ser vista como um caminho real para as transformações necessárias às condições históricas da humanidade.

É dentro deste contexto de mudanças que vamos encontrar intelectuais como Antônio Carneiro Leão, Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Paulo Freire e tantos outros homens preocupados e comprometidos em transformar a sociedade brasileira através da Educação, colocando isso como uma meta necessária que objetive instituir uma consciência coletiva que vise provocar mudanças, tendo a educação como fonte geradora e instrumento para se chegar a grandes conquistas que possam atender a estas novas demandas de um novo Brasil emergente.

Tirar o Brasil desta escuridão intelectual, este era o objetivo principal daqueles que almejavam ver um Brasil com uma estatística diferente da existente, qual seja, no início do século XX, 80% dos brasileiros não tinham acesso à instrução. Eram necessárias reformas que pudessem garantir e ampliar este direito à educação. Tarefa árdua, mas necessária. O combate aconteceu, a estatística melhorou, mas há muito ainda a ser feito.

Na história da humanidade vamos encontrar registros que nos faz entender os graus de evolução humana alcançados em cada período da história, que significou a busca de sentidos à própria existência humana. Nos registros, esta busca, que é uma constante na história, aparece com nuanças diferentes porque é resultado de experiências culturais das mais diversas.

A evolução, aqui entendida como um movimento que impulsiona o olhar humano sempre para frente, é resultado de um trabalho mental, portanto intelectual, que conseguiu criar e estabelecer visualizações que vão sempre além dos fatos.

Aqui nasce a ideia que temos hoje dos INTELECTUAIS. Figuras importantes, que nos levam a entender a história no que há de mais essencial, a própria história. Podemos afirmar que o trabalho dos INTELECTUAIS na história, é comparado ao trabalho de um artesão, ou seja, àquele que dá forma, àquele que lapida. Ele é, num sentido aristotélico do termo, a causa eficiente da HISTÓRIA. É ele que orienta e direciona os rumos e caminhos possíveis a serem percorridos, mas com um detalhe importante, respeitando a liberdade de cada um, pois o que caracteriza o trabalho intelectual, não é o de dominar, mas o de libertar o ser humano das garras de sua ignorância, lembrando aqui o velho Sócrates, como poderíamos lembrar de tantos outros, que em muito contribuíram na construção de uma sociedade, cuja identidade seja sua própria realidade cultural.

A história dos intelectuais coincide com a própria história da humanidade. O problema era ter que mudar a mentalidade política educacional de épocas diferentes na história. O que prevalecia era a ideia de um sistema educacional enraizado numa concepção elitista fundamentado em um ensino literário e retórico. O novo era possível, mas algumas resistências políticas fizeram com que projetos de reformas educacionais, que trariam avanços significativos, não tivessem aprovação, não permitindo que ideias futuristas e transformadoras fossem colocadas em prática no Brasil como se esperava.

Em cada época apresenta-se diante da humanidade desafios que devem ser enfrentados de forma inteligente para que soluções fluam em benefícios de todos. Este é o papel fundamental da classe intelectual, buscar soluções para arrumar a sua própria casa.

No Brasil não tem sido diferente. Poucos incentivos. A situação da educação por aqui, passa por um momento degradante em todos os sentidos. Falta autoestima tanto do lado de quem ensina, como também do lado de quem aprende. O diagnóstico é comparado a um câncer no seu estado terminal. O que se presencia é um verdadeiro extermínio daqueles que defendem uma educação comprometida na construção de uma intelectualidade que desperte em todos o desejo pelo conhecimento. Mas o movimento caminha no sentido contrário, onde nas próprias escolas aqueles que estudam um pouco mais, estão comprometendo a sua estabilidade no emprego. Desperta o medo em alguém de perder o seu lugar. Em lugar de insegurança, a intelectualidade é sufocada.

Portanto, o que se percebe é uma reação no sentido de intimidar as pessoas que oferecem a sua situação de ser, em defesa daqueles a quem são impostas uma situação de não ser. O intelectual é aquele que procura dar um brilho diferente em lugares de pouca luz, de pouco entendimento, de pouca racionalidade, de pouca humanidade, de pouca liberdade. Salve os intelectuais! Viva a Educação!


*Graduação em Filosofia, pós-graduação em História, Psicopedagogia, Gestão Educacional e Mídias na Educação.

Imagem de destaque: Mural da Escola Municipal Paulo Freire, do bairro Cidade Nova, Caxias do Sul. Foto: Claudia Velho/reprodução

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