“Nossa cultura tem som”: a valorização da cultura da Ilha de Itamaracá (PE) por grupo de estudantes locais

Raquel Barreto Nascimento

“Minha ciranda não é minha só,

Ela é de todos nós

A melodia principal que

Guia é a primeira voz

Pra se dançar ciranda

Juntamos mão com mão

Formando uma roda

Cantando uma canção”

(LIA DE ITAMARACÁ, 2000)

Ao passo em que nossos símbolos culturais e tradições vêm se perdendo, nos defrontamos com a gritante necessidade de preservação de nossas tradições, cultura, língua e símbolos.  No caso da Ilha de Itamaracá, localizada no litoral do estado de Pernambuco, é praticamente inconcebível conhecer a sua história e elementos da cultura de seus moradores sem que antes se faça menção da Ciranda, representada por Lia da Ciranda ou, como também conhecida, Lia de Itamaracá.

Batizada de nascimento por Maria Madalena Correia do Nascimento e consagrada nas rodas de ciranda como Lia de Itamaracá, a dançarina e compositora é reconhecida como patrimônio cultural de Pernambuco e possui o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Para os moradores da Ilha de Itamaracá, estudiosos da cultura popular e apreciadores da Ciranda¹, Lia representa a valorização das tradições locais, dos ritmos, da cultura popular.

É assim que a percebe também a professora Nielza Lopes, que atua em uma escola estadual no referido município. Neste sentido, foi buscando aproximar os alunos aos aspectos culturais de sua comunidade e, ainda, despertar na comunidade o interesse pela participação e valorização dos projetos desenvolvidos na escola, que tomara a iniciativa de desenvolver um projeto educacional com as turmas do 1º, 2º e 3º ano do Ensino Médio.

A idealização deste projeto se deu em decorrência da criação de uma disciplina eletiva com a proposta de envolver os alunos com a musicalidade. Com o intuito de duração de 03 meses, o projeto tomou proporções inesperadas e hoje, em 2020, está completando quase 3 anos. Neste sentido, o pontapé inicial para a criação do projeto que dá origem ao grupo intitulado “Nossa cultura tem som”, se deu quando a professora percebeu que em toda festa na escola ou em alguma atividade semelhante, alguns alunos se recusavam a dançar Ciranda.

No âmbito do projeto, o seu desenvolvimento contou com a realização de pesquisas de campo que visavam conhecer a origem da ciranda bem como homenagear e conhecer a trajetória de Mestra Totinha (70), Mestra Anjinha do Coco de Roda² (92) e Lia de Itamaracá (76), ambas itamaracaenses que contribuem significativamente para a perpetuação da cultura local, tendo esta última passado a ter reconhecimento por suas composições a partir da década de 1960 até os dias de hoje.

Exitoso no objetivo de resgatar e fortalecer os valores da Ciranda e também do Coco de Roda, o projeto continua a ganhar corpo e som, envolvendo cada vez mais a comunidade à vida escolar e os estudantes nas vivências e cultura local. O projeto visa também valorizar a expressividade dos alunos, a capacidade de comunicação e, ainda, engajá-los nas atividades desenvolvidas pela comunidade.

Neste sentido, enquanto resultado dos objetivos propostos, os alunos passaram a nutrir interesse pela história de sua comunidade, nos revelando a importância de realização de atividades semelhantes em diversas comunidades. Isto porque, como ressalta a professora Nielza Lopes, a Ciranda e o Coco de Roda não são só músicas. Do contrário, elas contam a história do dia-a-dia do povo de Itamaracá e suas letras são sempre uma homenagem.

Enquanto frutos deste projeto, os alunos também passam a compreender os impactos negativos gerados a partir da desvalorização da cultura local, atentando para a necessidade de manutenção da memória e das tradições, fazendo com que os estudantes se transformem em multiplicadores culturais.

¹ É uma das danças mais tradicionais do Brasil e bastante popular no estado de Pernambuco, sobretudo na Ilha de Itamaracá. Musicalmente, são utilizados principalmente instrumentos de percussão. As cantigas muitas vezes são improvisadas pelo mestre, que acompanha os músicos no centro da roda enquanto os demais integrantes dançam.

² É uma dança de roda oriunda da região Nordeste do Brasil, tendo sofrido influências dos batuques africanos e dos bailados indígenas.


Imagem de destaque: Lia de Itamaracá – IX Encontro das Culturas Populares e Tradicionais. Serra Talhada, Pernambuco. 26 de Novembro de 2015. Foto:  Janine Moraes / MinC

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