Na memória, um prédio escolar: o CEFET-MG

Bárbara Braga Penido Lima

 

Quando eu tinha dezesseis anos, ingressei no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, no curso de Turismo e Lazer. Era o ano de 2006, um ano depois de uma greve que pareceu interminável para meus veteranos. Para mim, significou apenas que as aulas começariam no dia 26 de junho e que minhas férias é que pareceram intermináveis. Fiquei ansiosa para o começo das aulas. Para entrar no CEFET-MG, tive de estudar muito. O processo seletivo da instituição era, e ainda é, praticamente um mini vestibular. Para mim, como para outros alunos da rede pública estadual, era enfrentar uma prova difícil. Aprender matérias que só eram lecionadas no ensino médio. Entrar ali, na minha visão de adolescente, era uma conquista enorme. Só não imaginava que de todas as que sucederiam na minha vida, essa primeira experiência escolar seria a mais emocionante.

Na data estabelecida para o início das aulas estávamos todos lá: os calouros. Uma recepção organizada pela diretoria foi realizada. O diretor explicou um pouco sobre a rotina escolar e nos deu as boas-vindas. Eu nunca havia entrado num auditório daquelas proporções. Na verdade, todo o CEFET-MG era imenso aos meus olhos. Havia salas demais, um campo gramado de futebol, três ou quatro quadras poliesportivas, laboratórios de física, química, biologia, as salas para o ensino de artes, laboratórios de línguas estrangeiras e laboratórios do ensino técnico. Atualmente, toda a parte dedicada à educação física passou por uma reforma e está bem mais estruturada. Havia um refeitório, ou “bandejão”, que ficava alocado no segundo andar. Hoje também foi reformado e está mais para uma construção anexa ao prédio escolar juntamente com a nova biblioteca. Passei pelo CEFET-MG antes dessas reformas. Outras gerações passaram por lá antes de mim e viam a escola com sua grandiosidade. Para cada um que construiu sua jornada ali dentro, o CEFET sempre representou uma marca muito forte na memória.

Saí da palestra de recepção e fui procurar minha sala. Estava inebriada. Porém, ao sair do auditório me deparei com algo inusitado: a imensidão dos corredores desse prédio. Há quem diga que a escola detém um dos maiores corredores escolares do país. Talvez seja verdade, talvez seja apenas um mito transmitido pelos veteranos para brincar com nossa imaginação.Para mim, pouco importava essa informação. Os corredores eram gigantescos na minha opinião. Além dos corredores, haviam as rampas de acesso a cada andar. Subir rampa correndo ou descer rampa correndo era um cotidiano de todo aluno atrasado. Apenas os professores caminhavam por ali no seu próprio ritmo. Alguns, para nossa felicidade vinham a passos de tartaruga. Todo mundo se conhecia pelos corredores, claro que fui aprender isso com o tempo.

Admito que achar minha sala não foi tarefa fácil. Estava conhecendo o prédio, me perdendo na sua arquitetura. Observando o movimento dos alunos e lendo os inúmeros avisos nos quadros de leitura. Depois de algum tempo de buscas, muitas perguntas e gafes, encontreia sala do curso de Turismo e Lazer. Entrei e me sentei. Aos poucos chegavam mais alunos. Eu sempre fui tímida. Então fiquei quieta. Alguns alunos já se conheciam através de redes sociais, dos famosos cursinhos preparatórios ou já eram amigos de outras instituições de ensino. O silêncio durou pouco. Um burburinho se formava. Estávamos nos conhecendo naquele espaço. Até que começaram os trotes, então a partir desse momento nós conhecemos muito mais alunos do que poderíamos calcular.

Eu não gostei do trote nem de como ele foi organizado. Não gostei de ser totalmente suja de tinta, de pedir dinheiro no sinal, de assistir aula totalmente rabiscada e blusa manchada. Mas, de alguma forma era divertido. Era um rito, que hoje eu nem sei se existe mais. Todos passávamos por ele. E por uma semana inteira. Nessa primeira semana – apesar do deslumbre de estar ali, de desfrutar de uma liberdade escolar inimaginável e das aulas – sempre estávamos sujeitos às brincadeiras dos veteranos. E era nesse momento que todas as amizades possíveis iam se travando e descobríamos que ali dentro o aprendizado ocorre no cotidiano, na nossa experiência escolar. Pois íamos recebendo informações de cada professor, de como nos comportamos em cada matéria e de como o resto do ano seria puxado. Aprendíamos lições valiosas, em meio aos trotes.

A primeira lição era a do “aluno fantasma”. Em um lugar em que assistir aulas não era obrigatório, cada um era responsável por sua frequência. E, pasmem: a ausência reprovava o aluno, e nós só podíamos ter uma margem de 25% de faltas. A segunda lição era “as notas do primeiro bimestre servem para assustar mesmo”. Veja bem, as notas eram péssimas. Minhas primeiras notas foram péssimas. Nossa autoestima baixava. Não importa o quanto tivéssemos estudado: para as primeiras provas não teria sido o suficiente. A terceira lição era “nos corredores se aprende muito”. Corredores enormes, abrigando um número significativo de salas, permitiam a troca de conhecimento entre alunos – ainda que todos estivessem desesperados com as provas e trabalhos. A quarta lição era “o CEFET irá se tornar CEFERNO, mas representará os melhores anos da sua vida”. Era assim que todos apelidávamos o CEFET. A carga horária era dobrada, e para quem fazia atividades extracurriculares significava chegar a partir das sete da manhã para as aulas e deixar a escola, às vezes, nove horas da noite. Era o meu caso. Cheguei a fazer espanhol e a participar da equipe de xadrez, atividades que começavam normalmente no horário noturno. Era meu cotidiano. A história dele continua…


Imagem de destaque: CEFET-MG Campus 2/ Foto: João Pedro Renan

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