Música na Universidade, Pra quê? – exclusivo

Ernane Oliveira

“O ouvido é algo que a gente não desliga como a gente fecha os olhos. A gente mantém a escuta. Assim, quanto mais coisas trouxermos para a nossa fruição sonora, muito mais interessante.” Léo Alves – Músico e Artista Plástico

Prelúdio

Assim como muitos músicos que tocam ‘de ouvido’, como se autointitulam carinhosamente os instrumentistas de formação autodidata, eu sempre sonhei um dia estudar Música na UFMG. Para quê? Eu não saberia na época responder. Possivelmente hoje ainda teria muita dificuldade, e seria bastante hesitante em dar uma resposta definitiva. Não, não cheguei a fazer Música, nem mesmo tentei a temida prova ‘específica’ do vestibular para aquele curso. Ao invés disso, minha entrada na Universidade se deu primeiramente como membro do corpo administrativo, há quase vinte anos atrás; exatamente dez anos depois ingressei na Faculdade de Letras da UFMG, também sem saber para quê, só sabia que não queria dar aulas, e assim optei pelo curso de bacharelado em inglês.

Como tudo em minha vida, sempre fui um autodidata convicto, e a música não seria uma exceção. Comecei com o violão popular aos doze anos, depois fui acrescentando outros instrumentos de cordas, teclas, sopro, e percussão. Nesse longo processo de aprendizado musical, me apropriei do gênero canção como compositor, passei pela poesia, e atualmente me apaixonei pelas diversas lentes audiovisuais.

Isso me trás de volta à pergunta inicial: pra quê fazer música na universidade? Um bom analista do discurso, ou um dialético socrático me devolveria a pergunta com várias interrogações: porquê fazer música? qual música? de quem? pra quem? porquê na universidade?

Para a demanda de um trabalho audiovisual no curso de produção multimídia da PUC/Minas, com tema de livre escolha, fiz essas mesmas perguntas a diversos amigos ligados direta ou indiretamente ao campo da música, que passaram pela Universidade em algum momento de suas trajetórias, ou que lá permaneciam. Alguns levantaram outras questões tanto quanto instigantes, outros enfatizaram a ausência ou quase nulidade de ações institucionais no sentido de circulação cultural dentro do próprio campus, ainda outros apontaram lacunas na formação para a educação musical propriamente dita, ou para a atuação no mercado profissional em música e artes em geral.

É preciso esclarecer que, antes de iniciar o trabalho de campo, participei de uma extensiva cobertura audiovisual de eventos musicais dentro da UFMG, em dois momentos distintos: o 46º Festival de Inverno, dentro do próprio campus Pampulha, e o II Festival Internacional de Música – Percussão Contemporânea – FIM, este realizado pela Escola de Música da UFMG em parceria com Fundação de Educação Artística – FEA. Foram vários dias de total imersão no ambiente musical, em que acompanhei desde a preparação dos palcos, até os mínimos detalhes de produção, o cuidado e intensidade dos artistas em suas performances e em eventos de contato mais direto com o público, como palestras, workshops, oficinas. Tive também contato com uma diversidade de experiências de fruição sonora, desde um duelo de MC’s, passando por um concerto de música contemporânea, danças indígenas e afro-brasileiras em pleno auditório da Reitoria… Enfim, todo esse processo serviria como uma etapa embrionária do trabalho que relatarei a seguir.

PRÓXIMOS POSTS:

I – CARTOGRAFIA SONORAS – O projeto Quarta Doze e Trinta – com Marco Scarassatti

II – O SOPRO DO MUNDO – com Paulo Mariano

III – PELE, COURO E MADEIRA – com Bodô Alcântara

IV – KRAFTWERK EMBOLADO – com Cláudio Emanuel

V – PINCELADAS SONORAS – com Irene Bertachini

VI – OBRA ABERTA – com Leonardo Alves

VII – O GRAVE PERFEITO – com Marcelo Cunha

VIII – PISANDO O CÔCO – com Pedro Campolina

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