“Mude sua mente, mude o mundo”: uma prática inspirada no direito humano de ser inteiro

Fabiana Vilas Boas Borges¹

Ana Claudia Gomes²

Trazemos aqui um breve relato da experiência no Projeto “Mude sua mente, mude o mundo”, da Escola Municipal Aristides José da Silva (Betim/MG), especialmente no que se refere ao pilar da formação profissional e docente no âmbito do referido Projeto.

A Escola Aristides atende a quase mil alunos numa comunidade implantada diante da fábrica da Fiat Automóveis, em Betim. A ocupação recente daquele território se deu em função da presença da montadora, com base em expectativa de emprego e de qualidade de vida por parte dos migrantes advindos principalmente do interior de Minas. A trajetória da comunidade inclui alta densidade demográfica, problemas de urbanização, instituição de poderes paralelos ao Estado, violência urbana e consequentes violações de direitos.

A concepção do Projeto “Mude sua mente, mude o mundo” visa reposicionar a Escola Aristides nesta comunidade como um verdadeiro centro de educação e cultura. Para isso, experiências diversas vêm sendo desenvolvidas a partir de 2018, reconfigurando as condições físicas da escola e ampliando suas vivências para além da instrução tradicional em salas de aula. A visão do Projeto é reconstruir o Projeto Político-pedagógico da escola com base em paradigmas contemporâneos, que visam o desenvolvimento integral dos sujeitos envolvidos na interação escolar, refletindo na aprendizagem acadêmica, que é o trabalho mais estrito de toda instituição escolar.

O Projeto “Mude sua mente, mude o mundo” atua em várias frentes no âmbito da escola e já recebe convites para atuar fora dela. Promove a formação continuada dos adultos – educadores, profissionais de apoio e familiares; atende no contra turno quarenta pré-adolescentes e adolescentes considerados em situação de vulnerabilidades diversas (sendo a demanda real levantada na escola a de cento e vinte estudantes); promove reconfiguração do ambiente escolar, através de ativação de programa de incentivo à leitura na biblioteca, criação de espaços alternativos, como horta, jardim e espaço de convivência, criação de sala de informática e laboratório de ciência e tecnologia, dentre outros. O atendimento aos estudantes acontece por meio de oficinas com parceiros, que inclui meditação e yoga educativa, teatro, culinária, esporte, música, artes visuais, esporte, jardinagem e alfabetização/letramento, dentre outras.

Nesta oportunidade, queremos refletir sobre a formação continuada dos adultos no âmbito do Projeto. A formação continuada tem sido considerada, pela pesquisa educacional e sua literatura específica, um pilar para melhorias educacionais na contemporaneidade. Isso porque as sociedades contemporâneas se caracterizam pela necessidade de aprendizagem contínua, devido às aceleradas mudanças culturais. E também porque a formação inicial dos profissionais da educação no Brasil apresenta várias lacunas, a exemplo de excessiva especialização, curta duração dos cursos e ausência de ligação com a prática durante os estudos.

Nas últimas décadas, múltiplas experiências e programas de formação continuada têm acontecido e os reflexos na aprendizagem acadêmica dos estudantes parecem ocorrer a passos lentos porque outras variáveis, além da formação dos adultos, precisam ser consideradas.

No âmbito do Projeto “Mude sua mente, mude o mundo”, consideramos que também os conceitos-base que regem a formação dos adultos precisam ser reformulados. Os programas de formação que focam em aspectos técnicos do trabalho escolar muitas vezes não consideram os sujeitos docentes e demais profissionais da educação, a intensificação que sua função social vem sofrendo e os desafios de receber a todos na escola. Além dos fracos estímulos à carreira, o recrutamento dos profissionais em setores desfavorecidos da sociedade, o intenso adoecimento que acomete esses profissionais.

Assim, como no Projeto “Mude sua mente, mude o mundo” como um todo, também na formação dos adultos, inclusive dos profissionais, adotou-se o paradigma do desenvolvimento integral da pessoa, visando seu bem-estar, sua qualidade de vida, seu mundo interior e o relacionamento com o outro. Como recorte, adotou-se o recente diálogo da neurociência ocidental com as tradições milenares orientais de busca do equilíbrio pessoal e societário, através de práticas holísticas e sistêmicas como a meditação e a yoga.

Os eventos de formação profissional na Escola Aristides, em 2018 e 2019, foram vivências proporcionadas por consultores parceiros do Projeto, como Júlio Machado, que trabalharam, além da meditação e da yoga, o psicodrama, a dança circular, a interação em volta da culinária, a expressão das demandas pessoais e o relacionamento.

Os eventos foram realizados por convite aos profissionais da escola, fora do horário de trabalho, e a adesão foi crescente. A partir daí, sentimos uma alteração positiva do clima institucional, das relações e compreensão mútua no ambiente escolar. Parcerias surgiram entre os educadores, para proporcionar aos estudantes vivências também integrativas, para além do currículo estabelecido. Outras escolas passaram a demandar parcerias junto à Escola Aristides, para estender a experiência, compreendida como primeiro voltada para a harmonização do profissional em conjunto com seus pares, para a afetividade e para sua expressão humana.

Também a formação continuada dos familiares, realizada em ocasiões menos numerosas, baseia-se nos mesmos princípios e será tratada em outra oportunidade. A intenção da escola é manter a perspectiva humanista em todo evento de formação dos adultos, mesmo aqueles em que temas específicos da aprendizagem acadêmica venham a ser tratados. Consideramos que o desenvolvimento das sensibilidades e do bem-estar dos adultos envolvidos com o cuidado educativo refletirá necessariamente na garantia das mesmas oportunidades e do progressivo respeito aos direitos dos estudantes. Essa perspectiva poderá ser determinante para a elevação do papel da escola numa comunidade vulnerável como a que é atendida pela Escola Aristides.

O Projeto tem em perspectiva a promoção dos direitos humanos na comunidade, na medida em que seleciona um público geralmente privado da garantia desses direitos e com ele trabalha a consciência dos mesmos, a compreensão crítica das condições familiares e sociais de privação de direitos e o trabalho para a transformação dessas condições. Essa abordagem holística, integral e integradora da pessoa e da comunidade fortalece o sujeito para o exercício dos Direitos Humanos. Essa ênfase no cuidado de adolescentes e professores favorece a disseminação da ideia do cuidado de si e do outro como direito inerente ao espírito da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

¹Professora e pedagoga (…). Coordenadora do Projeto Mude sua mente, mude o mundo.

²Professora e historiadora (Mestre em História/UFMG). Parceira do Projeto Mude sua mente, mude o mundo.


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