Minorias – Mulheres?

Dalvit Greiner de Paula

Para o sistema capitalista, o conceito de minoria é sinônimo de improdutivo, colocando uma grande quantidade de pessoas à margem da produção econômica. E à margem não quer dizer fora. Como numa fotografia é uma questão de enquadramento quando você retira do contexto uma parte do todo. Quando se apresentam estatísticas verdadeiras sobre a quantidade de homens na liderança das empresas, dos bancos, da política. São estatísticas verdadeiras que devem ser problematizadas. Por que muitos homens e poucas mulheres se na sociedade é o contrário?

Esse enquadramento também quer dizer contenção – muitas vezes nos diz do encarceramento – significa uma tentativa de desintegração, de desarticulação com outros grupos ditos minorias para aumentar o grau de exploração, precarizando a todos. O conceito de minoria é um conceito ideológico, para fazer crer que o grupo não é importante, é descartável e que, a seu tempo, será substituído por outro. Mas, como substituir maiorias numéricas? Nesse caso, convencendo mulheres a serem e criarem machistas, incluindo outras mulheres.

Assim, no caso brasileiro, apesar de que em nossa população 51,7% são mulheres e o restante 48,3% são homens, elas estão listadas no grupo de minorias e lhes é destinado tudo aquilo que é menor em nossa sociedade. Salários, empregos, escolas, saúde: os destaques individuais e coletivos são o resultado de muita luta, principalmente na educação. Sendo destinada uma menor parte do que se produz às  mulheres o aumento das exigências em torno do seu fazer é cada vez maior. O sistema capitalista não reconhece nem mesmo o trabalho de reprodução social da mulher. O cuidar da casa e dos filhos ainda é visto pelos homens como obrigação de mulher. No público, poucos homens aparecem, por exemplo, na reunião de pais em uma escola. A obrigação feminina do cuidar está dos dois lados do fazer escolar.

A maioria das mulheres que se aventuram na política partidária – sim, a política partidária no Brasil é uma aventura tamanha a confusão legal – o fazem de duas formas antagônicas: se sozinhas, agem como homens para ocupar esse espaço como se não existisse uma forma feminina de exercitar o poder; se em grupo buscam reinventar o poder e seu exercício. Porém ainda não existe uma brecha que as contemple no modelo de democracia que exercitamos. O povo, levado por um discurso machista, não as consideram como legítimas nesse campo. Em geral, mulheres não votam em mulheres. Se assim fosse, a regra partidária dos 30% elegeria todas as candidatas. Mesmo assim, creio que essa regra deveria ser modificada: não é o número de candidatas num sistema totalmente machista e masculinizado que vai criar a igualdade de representação no Congresso Nacional. Nosso sistema de representação deveria contemplar a quantidade de representados. Se temos uma maioria de mulheres, as mulheres também deveriam ser maioria no Congresso, maioria na condução dos poderes do Estado. E este não é um mecanismo espontâneo: ele tem que ser ordenado. Portanto, numa democracia verdadeira não podemos nos contentar com trinta por cento de candidatas, mas com 52% de deputadas.

Nossas leis não favorecem as mulheres porque não são preparadas e votadas por mulheres. O macho não vê um problema feminino como seu porque não é seu mesmo: ele não dá conta! O máximo que pode fazer é solidarizar-se e buscar a compreensão do problema. Daí a decidir, não. Cumprir, sim! Porque quando lemos as reivindicações das mulheres não se vê revanchismo, porque elas sabem que onde há revanchismo não há sociedade, pois a violência continua. Ao contrário: vê-se um mundo solidário, igualitário, com a isonomia necessária a uma sociedade que se quer unida, companheira.

Quando vemos nas manchetes o aumento das agressões domésticas, a paulatina retirada de direitos, a rebeldia contra situações de miserabilidade e outras agressões públicas, tudo isso tão negativo, tem uma positividade: as mulheres estão se revoltando em casa e na rua; estão ocupando espaços na escola e no trabalho; estão fazendo política de uma forma diferente na medida em que o poder não está apenas no parlamento.

E é uma pena que a reação masculina não seja à mesma altura: em dignidade, respeito e diálogo. Se assim o fosse, este texto não faria sentido algum.


Imagem de destaque: Jefferson Rudy/ Agência Senado

 

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