Minha ingênua esperança

Yolanda Assunção

Temo que o resultado das urnas do último domingo se repita no fim do mês. Temo que seja eleito um discurso agressivo, a falta de carinho para com as minorias, o projeto inconsistente, o candidato com poucos resultados em sua longa carreira política. Mas não é o maior dos meus temores.

Não tenho tanto medo porque preciso acreditar na justiça e nos direitos estabelecidos na Constituição Cidadã. Preciso acreditar que o equilíbrio entre os três poderes será reestabelecido e que as instituições cumprirão as funções pelas quais são responsáveis, sem que as atribuições se confundam, sem que tudo vire um circo.  Preciso acreditar que no dia 2 de janeiro, o presidente eleito, seja ele qual for, estará na mesa de negociações com o legislativo, estará em diálogo com estados e municípios para que cada  escola, posto de saúde, aparelho cultural seja lugar de construção de uma sociedade justa e democrática. Minha expectativa não está de acordo com muitos dos cientistas políticos que não vêm estabilidade política ou social num futuro próximo, mas eu mantenho essa ingênua esperança.

Não tenho tanto medo porque preciso acreditar que os espaços de resistência social serão preservados. Que os caminhos de participação popular abertos nos últimos anos sejam reforçados, respeitados. Que fóruns, ordens, conselhos, associações, sindicatos, todo grupo ou movimento possam fazer pressão, pelas vias institucionais ou pela manifestação popular, para fazer avançar projetos para o bem comum e barrar iniciativas que segregam, limitam, prejudicam e excluem grupos ou indivíduos (e se isso quer dizer que MBLs da vida continuem atuando, que seja, a resistência à estes grupos também estará à postos).  Preciso acreditar no direito à greve, à livre manifestação, à liberdade de expressão. A história e os historiadores prevêm um cenário diferente, mas eu mantenho essa ingênua esperança.

Do que tenho tanto medo então? Que um cenário de barbárie se instale no Brasil! Parece que muitos entre nós enxergam na eleição de Bolsonaro um salvo-conduto pra “matar viado”, “dar ração pra feminista” ou “matar a imprensa toda”. Agressões que já eram registradas antes se intensificaram. As urnas mal tinham sido fechadas no domingo, quando Mestre Moa foi esfaqueado 12 vezes. As violências aumentam, gritam, marcam os corpos na do desenrolar da campanha dos que pretendem elegê-lo. E se Haddad sair vitorioso nas urnas?

Temo que o resultado das urnas do último domingo se repita no fim do mês, e faço campanha para que não aconteça. Mantenho a ingênua esperança de que a democracia seja preservada. Prefiro dizer, se eu puder dizer, “eu estava errada” do que “eu te avisei”. Mas temo por cada uma das vidas que é ameaçada, não por um candidato pessoalmente, não por seus planos de governo em si. Mas por seu discurso pela total falta de responsabilização pelos atos de seus seguidores.

 

Imagem de destaque: Cidoli

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