Minas Gerais no contexto curricular da educação básica: cultura, ecologia e mineridade

Vagner Luciano de Andrade
Alexandre Gomes Nick*
 

Educar pressupõe uma análise fenomenológica de formação de agentes socioculturais: Desde que o homem se humanizou, diferenciando-se dos demais seres vivos, o planeta não foi mais o mesmo. Assim as diferentes paisagens do planeta passaram a transmitir também o legado do homem pelo ecúmeno. Uma saga com diferentes permanências e rupturas no tempo e no espaço. Hoje praticamente todo o globo terrestre foi apropriado direta ou indiretamente pelos seres humanos. Estes deixam as marcas de sua historicidade impressas nos lugares e nas paisagens. E cada vez mais as paisagens dialogam em diferentes escalas, desde o âmbito global à realidade local. São tempos de globalização onde a égide urbano-industrial capitalista se expande e se condensa. Aqui no Brasil, mas especificamente, Minas Gerais, as paisagens falam de um jeito de ser e estar no mundo no mínimo peculiar. Eis o mineiro, habitante da Terra das Alterosas, pólo indutor minerário desde o Brasil Colônia. E Minas, com suas paisagens e pessoas, parece um segredo indecifrável. Um diamante inlocalizável.

Como diria Carlos Drummond de Andrade: “só os mineiros sabem e não revelam nem a si mesmos, o irrevelável segredo chamado Minas”. Desde os tempos dos primeiros bandeirantes, Minas parece um enigma a ser descoberto atrás das montanhas. Sabe aquele famoso jargão “Decifra-me ou te devoro”, pois é, talvez mais que em outros cantos do mundo, ele se aplique à Minas Gerais. Mas é claro que se trata aqui de uma generalização. Cada lugar é único, assim como as pessoas que o compõe e em Minas não seria diferente. Neste mix de particularidades destaca-se o mineiro e sua mineiridade. Minas é um mundo à parte, um pequeno mundo dentro do Brasil. Assim numa perspectiva fenomenológica é um vasto e complexo campo de estudo.  O mineiro com seus múltiplos saberes e fazeres formatam particularidades no que se refere a jeitos de ser e estar no mundo. A mineiridade, entendida aqui como o legado histórico-cultural dos mineiros se consolida em termos de cultura, de identidade, de territorialidade.

As especificidades deste sujeito sociocultural chamado mineiro vão além do peculiar gentílico e do sotaque. É um “trem” complicado esta forma de falar, o mineirês, digno de uma pesquisa na área de dialetologia. Para exemplificar isso, cita-se aquele famoso questionamento filosófico que diz: De onde vim? Onde estou? Para onde vou? No mineirês, o negócio fica mais ou menos assim: doncovim? oncotô? proncovô? Pois é, Minas é assim, a metade de um caminho, no mínimo misterioso e encantador, chamado Brasil. O mineiro e suas paisagens são um recanto brasileiro a se descobrir. Vários turistas desembarcam no estado e se surpreendem com as histórias locais, a culinária, os lugares, os pequenos mundos de um mundo maior.

O turismo traz novas perspectivas. Minas Gerais, historicamente consolidada no cenário nacional e mundial como local de mineração, experimenta novas possibilidades e potencialidades. Minas é mais que minério, seja ouro, diamante ou ferro. Minas é sinônimo de ruralidade, de oásis em meio às montanhas. E olha que nem existem, geologicamente, montanhas no Brasil, mas em Minas, elas são o imaginário coletivo de um povo. Minas é um território em transição onde modernidade e tradição dialogam, onde roça e cidade contam causos aos visitantes. Causos do Brasil Colonial, do Brasil Imperial e dos tempos republicanos. De todos os presidentes do Brasil, oito nasceram na terra das Alterosas. São daqui alguns nomes relevantes na economia e na política atual. São mineiros alguns dos grandes nomes da ciência, da música, das artes e da literatura. Carlos Chagas, Clara Nunes, Fernando Sabino, Grande Otelo, Guimarães Rosa, Joaquim José da Silva Xavier-Tiradentes, Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves, para lembrar alguns.

E as Minas Gerais, no dia a dia dos alunos mineirinhos como será que se projeta? Ao conceber a educação como meio de oportunizar aos indivíduos o acesso aos bens culturais de seu povo, Minas elenca possibilidades múltiplas. A educação mineira lança-se no desafio de prover aos alunos da educação básica, muito mais do que o previsto nos conteúdos curriculares. As Minas e as Gerais enquanto conteúdo didático-pedagógico vão além dos livros e das salas. É possível ver além das montanhas. Então saberes e fazeres não mais se limitarão à geografia e à história. Perpassarão todos os conteúdos científicos e abordagens possíveis. É preciso entender que a escola promove este diálogo e esta conexão. Em cada pensamento moram outros pensamentos.

Cada projeto social tem seus próprios erros e acertos. Assim cada realidade se faz e refaz empreendendo mudanças legitimadas e protagonizadas pelos seus diferentes atores. Além das montanhas vislumbram-se novos horizontes. Que a mineiridade renove suas bases curriculares no sentido de que a educação básica forme valores e cidadãos. Uma Minas com sujeitos protagonistas e contadores de suas próprias histórias existenciais. Um lugar que cada cidadão continue lançando-se no imaginário de uma nação.

 

*Bacharel-licenciado em Geografia e Análise Ambiental (UNIBH, Brasil) e Mestrando em Administração pela Centro Universitário Novos Horizontes (UNIHORIZONTES, Brasil). E-mail: alexandre nick1@yahoo.com.br


Imagens: Vagner Luciano de Andrade

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