Memórias do “Arcebispo da Instrução” de Goyaz, Dom Emanuel Gomes de Oliveira – Vanessa Gomes

Memórias do “Arcebispo da Instrução” de Goyaz, Dom Emanuel Gomes de Oliveira

Vanessa Carnielo Ramos Gomes

Dom Emanuel Gomes de Oliveira nasceu em Benevente, atual Anchieta, no estado do Espírito Santo em 9 de janeiro de 1874. Filho de José Gomes de Oliveira e Maria Matos de Oliveira, e também irmão de Helvécio Gomes de Oliveira, futuro arcebispo da cidade de Mariana. Após a morte de seu pai, os irmãos Gomes de Oliveira foram morar com seu tio, o cônego Quintiliano José do Amaral, no Rio de Janeiro, onde receberam formação educacional e religiosa após passarem pelo Colégio São Luiz, dos Jesuítas, e posteriormente no primeiro colégio fundado pelos salesianos no Brasil, o Colégio Santa Rosa.

Influenciados pelo tio que já seguia a vida religiosa, os irmãos se envolveram no catolicismo e realizaram o sonho de sua mãe ao se tornarem padres. Dom Emanuel Gomes de Oliveira recebeu o hábito religioso no dia 29 de janeiro de 1891, pronunciou seus votos salesianos de pobreza, castidade e obediência em 1892, sendo ordenado sacerdote em 16 de junho de 1901. Em 1922 foi designado pelo papa Pio XI a assumir o bispado de Goyaz, recebendo a sagração a bispo em 15 de abril de 1923. Com a bula Quae in facidiorem do mesmo papa, escrita em 1932, a Diocese de Goyaz foi elevada à arquidiocese, fazendo com que Dom Emanuel se tornasse o primeiro arcebispo da nova província eclesiástica.

O passado de Dom Emanuel tem ligação direta com as ações promovidas por ele no decorrer de sua administração na diocese goiana. Ao se tornar padre, com 27 anos de idade, logo assumiu o cargo de vice-diretor do Colégio São Joaquim de Lorena em São Paulo, onde permaneceu de 1902 a 1904 quando foi transferido para Cuiabá, Mato Grosso, para assumir a função de diretor do Liceu São Gonçalo. À frente da gestão nesta instituição permaneceu até 1911, ano em que foi transferido para Campinas, São Paulo, para dirigir o Liceu Nossa Senhora Auxiliadora, onde permaneceu até 1917. Neste mesmo ano assumiu o cargo de diretor-geral das secretarias em Mato Grosso sob o governo diocesano de Dom Francisco de Aquino Correia adquirindo destaque em seu desempenho frente ao auxílio dado ao bispo. Ocupando provisoriamente, em 1922, a função de auditor do núncio apostólico no Rio de Janeiro, assumiu também a diretoria do colégio em que estudara, o Colégio Santa Rosa. No entanto, ficou pouco tempo ocupando tal cargo, já que foi designado para assumir o bispado de Goyaz.

A chegada do bispo à Goyaz proporcionou euforia entre a população e jornais que circulavam na época. O jornal Santuário da Trindade, importante periódico católico no Estado anunciou sua chegada e contou sua trajetória de vida em algumas edições para que os fiéis conhecessem melhor o novo “líder espiritual”. Dom Emanuel, por sua vez, precisou adiar duas vezes sua viagem de pose ao cargo, pois, a primeira marcada para maio foi impedida por questões diplomáticas que ainda precisavam ser resolvidas no Rio de Janeiro. A segunda, marcada para julho, foi impedida por uma gripe que acometeu ao novo bispo. Neste sentido, Dom Emanuel assumiu presencialmente o bispado apenas em agosto e, por isso, anunciou como vigário-geral e responsável temporário pela diocese o Monsenhor Joaquim Confúcio de Amorim.

A experiência frente à gestão de escolas e como auxiliar da administração diocesana, aliada à missão educadora dos Salesianos de Dom Bosco, influenciou diretamente as ações de Dom Emanuel, pois no decorrer de seu bispado no Estado goiano ele construiu e/ou articulou abertura e funcionamento de cinquenta e sete escolas de Ensino Primário, trinta e um Ginásios, cinco escolas de Ensino Médio, vinte e uma escolas de Ensino Normal, quatro de Ensino Técnico e seis Faculdades que, posteriormente, se unificaram como Universidade Católica de Goiás. Estas ações proporcionaram ao bispo a alcunha de “Arcebispo da Instrução” dada por autoridades goianas e por periódicos que circulavam em Goyaz, Minas Gerais e Espírito Santo.

A educação em Goyaz se encontrava bastante deficitária, quando da chegada de Dom Emanuel chegou ao Estado, pois contava apenas com escolas isoladas, alguns projetos de abertura de Grupos Escolares e somente um Liceu (na capital). Logo após se instalar territorialmente no novo cargo Dom Emanuel deu início a seu projeto de construir escolas para difundir, principalmente, os princípios católicos ao povo goiano. O ambiente encontrado pelo bispo em Goyaz parecia propício às suas ações, já que era notória a precariedade do sistema educacional, o advento da Reforma educacional de 1918 (a qual determinava novas regras para o funcionamento das escolas) e, por último, o projeto político do grupo oligárquico predominante na época, os Caiado, que assumiam a educação como “carro chefe” da modernização e progresso de Goyaz.

O principal colégio fundado pelo bispo foi o Ginásio Arquidiocesano Anchieta, localizado em Bonfim, atual Silvânia, local este em que residiu temporariamente após 1926, quando transferiu o Seminário Episcopal da capital para Bonfim, e permanentemente após 1933, com a criação da nova capital goiana, Goiânia. Em Bonfim ainda construiu outro colégio direcionado às meninas, o Colégio Nossa Senhora Maria Auxiliadora, além de levar água encanada para ambos os colégios (o que era considerado um progresso para o Estado), transferiu a sede do jornal católico Brasil Central da capital para Bonfim e articulou a criação de uma escola agrícola em anexo ao Anchieta. Estes feitos proporcionaram à cidade intenso progresso para a época, inclusive contanto com a instalação de energia elétrica.

O esforço de Dom Emanuel em modernizar e levar progresso à Goyaz estiveram presentes em suas ações até o fim de seu bispado em 1955, ano de seu falecimento. Seus feitos pelo Estado lhe proporcionaram a alcunha de “Arcebispo da Instrução” por meio de autoridades, tal como o governador de Goyaz Pedro Ludovico Teixeira, e jornais do Estado, tais como o próprio Brasil Central, Correio Popular, O Anápolis e O Bandeirante, além dos periódicos de Vitória, O Gazeta, e de Uberaba, O Lavoura e Comércio. Recebeu homenagens da Câmara dos Deputados do Rio de Janeiro e do Congresso Nacional devido sua dedicação à educação.

Dom Emanuel faleceu em Silvânia no dia 12 de maio de 1955 por complicações após uma queda e anemia profunda que agravou seu estado de saúde. As ações do bispo foram bastante importantes para o Estado, de forma que o governador decretou luto oficial e feriado escolar por três dias. Como “Arcebispo da Instrução”, ficou assim registrado na memória goiana o bispo Dom Emanuel Gomes de Oliveira.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *