Matar a Infância, Infantilizar os Adultos

EDITORIAL Nº 254, 27 de setembro de 2019

O assassinato da menina Ágatha Félix pela polícia militar do Rio de Janeiro é uma demonstração cabal de que a demanda de vários setores da sociedade por mais e mais autoritarismo e violência tem resultado, sistematicamente, na morte de sujeitos negros e pobres. A negritude dos mortos não é coincidência, assim como não é coincidência que sejam de crianças, adolescentes e jovens os corpos abatidos pelas forças de (in)segurança pública.

A morte ronda as políticas e as polícias de Bolsonaro e seus aliados em todo o Brasil. O desmantelamento das políticas públicas de educação, saúde e assistência, para dizer apenas de algumas, é parte das políticas de morte anunciada pelo então candidato à Presidência da República Jair Messias Bolsonaro e acolhidas e apoiadas por parcelas significativas da população, do empresariado nacional e estrangeiro, aí incluídos aqueles que detêm o monopólio das redes de televisão no país.

Ao assumir a Presidência, Bolsonaro anunciou que seu governo não tinha o objetivo de construir nada, e sim de destruir aquilo que havia sido feito nas últimas décadas e que lhe parecia coisa de “comunista”. A sanha avassaladora da destruição pegou de cheio as políticas de proteção à infância, à adolescência e à juventude, algumas das quais ainda incipientes no Brasil. Não bastasse a destruição, em vários outros momentos o Governo Federal apresentou ou endossou projetos – relativos à vacinação, às leis de trânsito, à educação infantil etc, etc, etc… – que visam a precarizar ainda mais a vida das novas gerações, sobretudo negras e pobres do país.

Ao mesmo tempo em que faz um investimento violento contra os corpos das crianças e jovens, ceifando suas vidas, Bolsonaro e seus aliados, como o Governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, um psicopata homicida, todo o aparato de Estado e dos meios de comunicação aliados, é mobilizado com vistas a infantilizar cada vez mais a população adulta, não lhe reconhecendo autonomia e esclarecimento para a tomada de decisão sobre seus corpos, seus prazeres, seus amores, seus modos de ser e estar no mundo.

A escolha de líderes autoritários e violentos é, já, um sintoma de que para parte significativa da população o envelhecimento etário não significou que tenha chegado à vida adulta e à autonomia necessária à política.  E é justamente isto que os “Bolsonaros” de todo o país e de todas as estirpes buscam mobilizar e ampliar. Um dos resultados disso é o enfraquecimento da política e o fortalecimento da polícia, de todas as polícias.

Matar as crianças, literal e simbolicamente, impedir que tenham vida e infâncias dignas, e infantilizar os adultos, mobilizando suas demandas infantis por violência e tutela, são fenômenos intrinsecamente relacionados à suspensão da política e ao império do medo e da violência que ele autoriza. Contra isso, não há outra saída que a reafirmação contínua da política e da necessidade de uma educação que, extrapolando os limites da escola, seja parte de um projeto político-cultural amplo, democrático e liberador das potências criativas dos sujeitos, de todos os sujeitos, em todas as suas diversidades de cores, dores e amores. É nessa educação que apostamos!


Imagem de destaque: Fernando Frazão/Agência Brasil

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Matar a Infância, Infantilizar os Adultos

O assassinato da menina Ágatha Félix pela polícia militar do Rio de Janeiro é uma demonstração cabal de que a demanda de vários setores da sociedade por mais e mais autoritarismo e violência tem resultado, sistematicamente, na morte de sujeitos negros e pobres. A negritude dos mortos não é coincidência, assim como não é coincidência que sejam de crianças, adolescentes e jovens os corpos abatidos pelas forças de (in)segurança pública.

A morte ronda as políticas e as polícias de Bolsonaro e seus aliados em todo o Brasil. O desmantelamento das políticas públicas de educação, saúde e assistência, para dizer apenas de algumas, é parte das políticas de morte anunciada pelo então candidato à Presidência da República Jair Messias Bolsonaro e acolhidas e apoiadas por parcelas significativas da população, do empresariado nacional e estrangeiro, aí incluídos aqueles que detêm o monopólio das redes de televisão no país.

Ao assumir a Presidência, Bolsonaro anunciou que seu governo não tinha o objetivo de construir nada, e sim de destruir aquilo que havia sido feito nas últimas décadas e que lhe parecia coisa de “comunista”. A sanha avassaladora da destruição pegou de cheio as políticas de proteção à infância, à adolescência e à juventude, algumas das quais ainda incipientes no Brasil. Não bastasse a destruição, em vários outros momentos o Governo Federal apresentou ou endossou projetos – relativos à vacinação, às leis de trânsito, à educação infantil etc, etc, etc… – que visam a precarizar ainda mais a vida das novas gerações, sobretudo negras e pobres do país.

Ao mesmo tempo em que faz um investimento violento contra os corpos das crianças e jovens, ceifando suas vidas, Bolsonaro e seus aliados, como o Governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, um psicopata homicida, todo o aparato de Estado e dos meios de comunicação aliados, é mobilizado com vistas a infantilizar cada vez mais a população adulta, não lhe reconhecendo autonomia e esclarecimento para a tomada de decisão sobre seus corpos, seus prazeres, seus amores, seus modos de ser e estar no mundo.

A escolha de líderes autoritários e violentos é, já, um sintoma de que para parte significativa da população o envelhecimento etário não significou que tenha chegado à vida adulta e à autonomia necessária à política.  E é justamente isto que os “Bolsonaros” de todo o país e de todas as estirpes buscam mobilizar e ampliar. Um dos resultados disso é o enfraquecimento da política e o fortalecimento da polícia, de todas as polícias.

Matar as crianças, literal e simbolicamente, impedir que tenham vida e infâncias dignas, e infantilizar os adultos, mobilizando suas demandas infantis por violência e tutela, são fenômenos intrinsecamente relacionados à suspensão da política e ao império do medo e da violência que ele autoriza. Contra isso, não há outra saída que a reafirmação contínua da política e da necessidade de uma educação que, extrapolando os limites da escola, seja parte de um projeto político-cultural amplo, democrático e liberador das potências criativas dos sujeitos, de todos os sujeitos, em todas as suas diversidades de cores, dores e amores. É nessa educação que apostamos!


Imagem de destaque: Fernando Frazão/Agência Brasil

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