Marcas na vida de uma estudante no século XXI

Gabrielly Cristina Pereira

Revivo minha vida, marcando então o dia dois de março do ano 2000. Nasci em Enéas Marques, interior do Paraná, na virada do século. Fui cuidada integralmente por minha mãe e também por minha avó até o início do ano de 2002. Depois disso fui matriculada em uma creche municipal chamada “Anjo da Guarda”. Como a proposta sugerida pela disciplina de História da Educação, ofertada pelo Curso de Licenciatura em Química do Instituto Federal Catarinense – Campus Araquari é a constituição de consciência histórica, fiz algumas pesquisas, e observei que enquanto eu vivia a infância, em 2003, destacava-se no âmbito político, a posse do Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, o primeiro brasileiro operário que conseguiu chegar a esse patamar. Este governo elegeu algumas prioridades, que se materializaram como políticas públicas, por meio de Programas tais como o “Fome Zero” e o “Bolsa Família”.

Nesse governo pode-se dizer que no aspecto econômico, em relação a governos anteriores, ampliou-se a parceria comercial estrangeira (principalmente com a China), mas o que me mobiliza neste pequeno escrito, é o campo da educação: neste aspecto ocorreu uma grande expansão da educação brasileira por meio de sua interiorização, com a criação de várias Universidades e Institutos Federais; é deste último que compartilho minhas memórias sobre a trajetória educacional.

Do acesso ao “Anjo da Guarda” não há muitas memórias, mas a partir do ano de 2006, quando fui matriculada em uma escola municipal, comecei a dar os primeiros passos rumo à caminhada até os dias atuais. E foi um caminho que toda criança passou ou pelo menos deveria ter passado: tive o apoio da minha mãe em boa parte dessa trajetória de iniciação escolar, sempre com boas notas; era uma aluna que até hoje os professores relembram com muita alegria quando nos encontramos. Contudo, eu nasci e fui criada em uma cidade consideravelmente pequena, longe de centros movimentados, uma das gratificações que tenho, foi a de ter uma infância muito bem aproveitada: brincar com aquilo que a natureza nos proporcionava não tem preço e uma das brincadeiras que eu mais adorava era brincar de casinha com as minhas colegas de classe e também com as filhas das vizinhas.

Já nos anos de 2014/15 participei de um concurso municipal na minha cidade para menores aprendizes e fiquei em segundo lugar: pude optar pelo local onde iria atuar e, entre as diversas áreas possíveis do setor público, escolhi a Farmácia municipal, em que ajudei em tarefas desde contar o estoque até o atendimento ao público; foi uma experiência incrível. O meu Ensino Médio foi cursado em escolas públicas no Paraná até o segundo ano. Nessa mesma época houve a greve dos professores da Rede Pública Estadual do Paraná: fui aluna nesse período entre o nono ano e o primeiro ano do Ensino Médio e, de fato, esses episódios foram muito marcantes; ouvi muitos relatos feitos por professores que estiveram presente nos protestos feitos em Curitiba. O resultado desse movimento dos professores foi mais de duzentos feridos, e os manifestantes foram contidos com tiros de bala de borracha e jatos d´água e revidavam com pedras e pedaços de pau. Cerca de 20 mil pessoas participavam do ato onde ocorreram confrontos nos arredores do Centro Cívico: uma creche foi fechada, e as crianças, não tiveram aulas. A tentativa dos professores de impedir a votação foi inútil e o projeto foi aprovado.

Nesse período, cerca de 1 milhão de estudantes ficaram sem aula no estado. O motivo das reivindicações foi o projeto do governo estadual de mudar a forma de custear a Paraná Previdência, o regime da Previdência Social dos Servidores do Estado.Diante disso, foram vários sábados letivos até retomar o calendário no qual a escola se encontrava antes dos manifestos.

Do segundo ano do Ensino Médio em diante escolhi novas metas para alcançar e com elas um dos desafios mais difíceis: deixei o interior do Paraná com 16 anos e migrei para Santa Catarina. Fui morar junto com a minha tia em Jaraguá do Sul e foi um momento bem complicado em minha vida, pois, a adaptação não foi tão simples como eu esperava; por mais que os meus sonhos estivessem apenas começando, a saudade de casa e o sentimento de solidão eram em alguns momentos intoleráveis. Deixar a família como uma estrutura objetiva da qual sofria interferências me tornou de certo modo uma pessoa incompleta.

No dia 8 de fevereiro de 2017, iniciei o meu terceiro ano do Ensino Médio, no Instituto Educacional Jangada e a metodologia de ensino era totalmente diferente da qual estava habituada e com isso, tive muita dificuldade para conseguir chegar ao final do ano com êxito. Fiz vários vestibulares, porém, o temor era gigantesco em fazer para instituições públicas de ensino, devido ao imaginário social que se tema respeito da concorrência: o medo de errar se tornou muito frequente e paralisador.

Em 2018, com os meus 18 anos completos – e sem perspectiva diante dos vestibulares, pois as perspectivas eram todas para universidades particulares, e isso não fazia parte daquilo que imaginei ao fazer a minha mudança de cidade – resolvi me inscrever no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e dar início à procura de emprego. Em setembro do mesmo ano, por indicação, entrei em uma empresa multinacional brasileira sediada na cidade de Jaraguá do Sul/SC, no setor de automação, para trabalhar no primeiro turno.Sem sombra de dúvidas, foi um momento sensacional: trabalhei com uma equipe maravilhosa, o tratamento era igualitário e o meu chefe foi essencial diante da minha escolha, pois tive que optar entre continuar com o meu trabalho, no qual estava registrada, e o ingresso no curso de Licenciatura em Química. Ele soube agir de forma racional e amigável perante minhas escolhas.

Atualmente faço o curso de Licenciatura em Química no Instituto Federal Catarinense(IFC), Campus Araquari. Esta instituição escolar fez-se presente em minha vida em um momento muito importante de crescimento pessoal e profissional. O ENEM como uma forma de democratização da Educação Superior, contribuiu para que eu pudesse usufruir de uma vaga em uma escola pública, gratuita, laica e de qualidade social referenciada.Dessa forma, as minhas expectativas foram elevadas diante da realidade que vivia desde então: não ter condições materiais para cursar uma graduação em instituição pública.

Nessa mesma perspectiva, posso afirmar que devido a tantas experiências vividas no meio educacional, algumas delas boas e outras nem tanto, optei por dedicar-me àeducação, pois é uma área que necessita de revigoramento, para fazer com que as futuras gerações a vejam como uma forma de integração e de vida, tanto acadêmica, quanto a interação pessoal e social.


Imagem de destaque: Leon Seierlein / Unsplash

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