Mamãe, eu fui a Cuba

Dalvit Greiner de Paula

É isso mesmo. Passei alguns dias na Ilha. Para quem não sabe ou já se esqueceu era assim que chamávamos Cuba nos anos de 1970-80. Culpa do Fernando Morais, o jornalista. A Ilha era, e continua sendo, a nossa referência de um país socialista, nossa eterna Revolução. O rato que amedronta o leão! Uma visão romântica, de paraíso a ser conquistado tinha o nosso modelo em Cuba, a ilha de Fidel Castro. E lá fomos nós, eu e Vanilda, brasileiros que ainda acreditam que é possível. Sim, acreditamos que o “vá pra Cuba!” é um elogio. Mas, como ninguém nos financiou, gastamos o que tínhamos nos bilhetes de avião e nossas economias em euros para a nossa viagem dos sonhos.

Em pleno inverno cubano, chegamos ao cair da tarde e já do alto a visão de fazendas irrigadas já nos causava certa surpresa. Esperávamos chegar em terra e encontrar aquele monte de carro americano dos anos 1950, charmosos e enguiçados. Primeiro engano: a frota cubana se renova periodicamente. Ninguém tem carro do ano, claro, mas a frota de automóveis é renovada dentro das necessidades do país. Então saímos do aeroporto num Renault, cruzamos com vistosos Lada (não se engane, a marca é aquela mesma que circulou nos anos 2000 no Brasil, mas o desenho é outro: assemelha-se ao novo Voyage da Volkswagen) e com outros modelos de anos anteriores. Claro: aqueles carros charmosos não estão enguiçados e fazem o maior sucesso entre os turistas. Você chega no Paseo Marti, próximo ao Hotel Inglaterra ou ao Capitólio e escolhe um, a seu gosto, para uma volta por La Habana. O preço é em euro.

Fizemos nosso roteiro a pé e ficamos por ali mesmo em Havana. Caminhamos muito. A Velha Havana parou no tempo e transformou-se num museu a céu aberto, como a nossa Ouro Preto. É outro mundo. Os prédios do final do século XIX demonstram que a cidade era muito rica e opulenta. Alguns países vêm ajudando o governo cubano e restaurando vários prédios oficiais. Na medida do possível o governo cubano vai ajudando a população a melhorar os prédios residenciais. Mas, é preciso tomar cuidado com quedas de partes de prédios e ainda temos esgoto a céu aberto. O que nos deixou uma pontinha de interrogação: como se pode falar em qualidade na saúde com esgotos nas ruas?

Porém, precisávamos checar a informação do jornalista Ricardo Amorim, do Manhattan Conection, aquele programa de direita naquele canal de direita que passa naquele horário que só a direita assiste porque não tem que trabalhar e pegar metrô no dia seguinte. E o que ele disse: “Em Cuba, só três coisas funcionam: “segurança, educação e saúde”. E é verdade. Na Ilha tem muita coisa a ser feita, mas várias nos encantaram muito. Então, vamos lá:

Primeiro, segurança: o país não tem polícia. É essa a sensação que você tem quando chega já no aeroporto. Quem te recebe não é uma polícia local carrancuda e desconfiada. É um grupo de moças que te recepcionam e te encaminham para onde você deve ir. Vigiam malas? Claro que sim. Os cãezinhos Cocker são lindos, mas não brinquem com eles: estão trabalhando e são muito bem treinados para cheirar o que devem. Portanto, não faça bobagem que eles latem forte.

Quando saímos pela cidade, à noite, não sentimos medo. Não se vê polícia, mas não fomos abordados de maneira ofensiva por ninguém em nenhum lugar que passamos. Os cubanos sorriem muito, como os brasileiros, e apesar das dificuldades não transformam isso em motivação para crimes de qualquer espécie. Não é uma sociedade sem crimes. Um pequeno Poder Judiciário cuida dos delitos e crimes que porventura acontecem na Ilha. Com uma população aproximada de 11,5 milhões de habitantes, o judiciário trabalhou em 90 mil processos em 2018. Compare isso com o Rio de Janeiro.

Segundo, saúde: não dá para falar muito sobre esse item, mas percebe-se em toda a cidade farmácias que se parecem com centros de saúde funcionando 24h por dia. Poucos remédios, mas o necessário para cuidar da população. Não ouvimos nenhuma queixa e também não passamos mal para testar o sistema. No aeroporto, vários cartazes muito bem produzidos, chamavam estrangeiros para cuidar de sua saúde em Cuba. Fica evidente que há um forte turismo de saúde, na medida em que o cuidado é a principal marca da saúde cubana.

Terceiro, e por fim, a educação: uma imensa alegria demonstra que uma casa qualquer é um Círculo Infantil ou uma Escola de ensino fundamental. Várias vezes nos deparamos com ruas fechadas com um fio de barbante indicando que o que ali acontecia era uma aula, com professoras brincando e orientando crianças. Quando nos embrenhamos mais pela cidade, encontramos várias vezes com grupos de estudantes adolescentes bem alimentados, uniformizados, livros e um sorriso de quem estava bem. No museu, abre-se um espaço para que a escola se apresente aos que lá visitam, no caso, os turistas. Lá percebemos a qualidade

do aprendizado da escola cubana nos trabalhos de estudantes do ensino fundamental sobre os tainos, os antigos habitantes da Ilha. Uma educação que se revela também no trânsito. Ninguém corre, ninguém avança sinal. É uma vida desacelerada.

Ainda é um olhar romântico sobre a Ilha de Fidel. Ficamos apenas cinco dias e, portanto, não deu tempo para ver tudo o que gostaríamos de ter visto ou conversado. Visitinha rápida com vontade de continuar. Precisamos voltar mais, mas a impressão que ficou é de saudade de um Brasil que não aconteceu.


Imagem de destaque: Alexander Kunze / Unsplash

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