Mais promessas para a educação?

Nelson Pretto

Tempo de eleição, tempo de promessas, muitas promessas. A educação sempre esteve no foco das campanhas, demonstrando a importância da área. Mas isso não basta. Não esperamos dos candidatos propostas com um profundo nível de detalhamento, mas, sim, princípios que norteiem as ações futuras da governança no sentido de, a partir do Plano Municipal de Educação, que é Lei, promover o seu aprofundamento e, mais do que tudo, sua ampliação para resgatar o que lhe foi mutilado pela ação conservadora da Câmara dos Vereadores de Salvador.

As(Os) professoras(es) merecem ser fortalecidos, com salários dignos, formação continuada e condições de trabalho adequadas para os desafios contemporâneos. Não devem perambular de escola em escola, mas, sim, nelas serem “residentes”, constituindo-se, dessa forma, em verdadeiras lideranças acadêmicas e políticas na sua comunidade e cidade. Para tal, a carreira docente tem que ser valorizada, estimulando a procura pela profissão. Na formação continuada, necessário se vislumbrar um plano para a formação crítica do professorado e dos servidores da educação, levando-os a serem protagonistas na elaboração das propostas e políticas e não meros coadjuvantes.

Os desafios são enormes. As questões de base que dariam sustentação às políticas públicas para Salvador não estão sendo, minimamente, apontadas nos programas dos candidatos. Vejo-as muito próximas de tudo que se fala no campo educacional, em todas as campanhas. Pouca coisa me comove. É evidente que apontar com números possíveis realizações é importante, mas o que de fato faz a diferença é apresentação de políticas públicas que compreendam a educação inserida num contexto muito maior, envolvendo todas as áreas. Questões de princípios são fundamentais num momento em que o país vive tão difícil momento.

Como mencionado, liderar uma revisão no Plano Municipal de Educação, mutilado pela pressão dos conservadores, ao não permitir que houvesse referência alguma à fundamental temática de gênero, é imprescindível. Mais do que isso, temos acompanhado nas esferas legislativas o crescimento de um absurdo movimento denominado Escola sem Partido. Temos dito de forma enfática que não há possibilidade de se fazer educação sem política e isso tem que acontecer desde a mais tenra idade. Precisamos de candidatos e candidatas que sejam contundentes nessas questões.

Necessário ir além em termos de princípios, ao pensar a gestão municipal de forma integrada e integradora das diversas áreas, para, com isso e entre outras coisas, apontar para um corajoso plano de conexão das escolas em banda larga de qualidade, de um mais impetuoso ainda plano de articulação das escolas aos sabres e fazeres das comunidades onde estão inseridas. Para tal, é premente fortalecer os Conselhos Municipal de Educação e os Comunitários Escolares, na busca de comprometer poder público e sociedade numa transformação radical da educação em nossa cidade.

Mais do que tudo, necessário se faz considerar que cultura e arte não são adornos a conteúdos acadêmicos privilegiados, aqueles únicos valorizados nas avaliações que estimulam os rankings, mas são estruturantes da formação da meninada. Uma formação que acontece em privilegiado espaço para a convivência das diferenças, a escola pública. Esta não pode se constituir numa máquina de transformar o diferente no igual e com isso homogenizar todos os cidadãos, preparando-os meramente para essa sociedade que considera a máquina do mercado todo poderoso, centrado no consumo e na obsolescência programada dos bens consumidos.

A escola tem que ser um rico espaço de convivência e enaltecimento de todos os credos, raças, gêneros, de estímulo a comportamentos colaborativos, generosos e solidários, fortalecendo valores fundamentais para a cidadania.

Publicado em A Tarde de 22/09/2016, pag. 3

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