Maiêutica da alfabetização emergente

Marcelo Silva de Souza Ribeiro

 “Maiêutica” é o conceito grego que indica a ação de sustentar a efetivação de processos considerados internos e naturais. A parteira que ajuda a gestante a dar à luz ou o professor que problematiza uma situação para que o aluno reflita e produza conhecimentos são exemplos da “maiêutica”. Isso era o que o filósofo Sócrates perseguia em sua filosofia viva ao dialogar com os transeuntes, ou seja, ajudá-los a dar à luz as suas próprias respostas.

A ideia, portanto, de “maiêutica” pode ser uma inspiração para fazer frente às pressões do alto desempenho escolar e suas métricas, além da obsessão por acelerar o desenvolvimento infantil. As reduções do tempo de brincar nas escolas, as cobranças excessivas feitas às crianças e adolescentes, além das pesadas expectativas incididas aos jovens para que, supostamente, assegurem um futuro promissor são sinais de um mundo performático, produtivista e fortemente competitivo que oblitera o bem-estar e a própria potência do desenvolvimento. Não é por menos que vemos, de maneira estarrecida, crianças expressando depressão e até mesmo vontade de morrer. O que será que estamos fazendo com nossas crianças e adolescentes? Será que estamos criando demandas que são completamente externas às suas possibilidades e as respostas dadas exigem um caro preço a pagar?

No que toca a linguagem oral e a alfabetização, por exemplo, é possível constatar uma preocupação por parte de pais e professores quanto a aceleração da conquista dessas competências. A angústia e ansiedade parecem tomar conta dos adultos no sentido de que as crianças logo aprendam a falar, a ler e a escrever, mesmo que isso possa trazer custos em termos de efetividade da aprendizagem e qualidade de vida. Obviamente que em muitas situações, sobretudo as que atingem crianças de classes baixas, a negligência do estado e os desdobramentos em termos das relações familiares impactam os seus processos de aprendizagem e de desenvolvimento. Nesses casos não são as acelerações obsessivas, mas justamente o oposto, que é tão danoso quanto.

Voltando ao contexto de desenvolvimento onde o que impera é a visada pela aceleração, os efeitos colaterais são indeléveis. As pretensões no sentido de antecipar etapas do desenvolvimento para dar conta de um mundo competitivo e meritocrático contribui, muitas vezes, para um processo de falsa aprendizagem, onde crianças são treinadas para dar respostas, mas não efetivamente conquistam as competências linguísticas, como é o caso da alfabetização.

A “maiêutica”, nesse sentido, é um contraponto à medida que barra essa obsessão de demandas eminentemente externas pela aceleração do desenvolvimento. Em consonância com esse conceito, a ideia de “alfabetização emergente” está de acordo com o entendimento que a melhor forma da criança conquistar sua oralidade e ser alfabetizada é na inserção natural de contexto social marcado por falas, escritas e leituras. Isto significa dizer que a maneira mais efetiva de alfabetizar uma criança não é querer antecipar obsessivamente as etapas, mas antes conversar com elas naturalmente, ler para e com elas, contar histórias, oferecer livros e tudo isso num clima que acompanhe o seu interesse. Isso porque preserva o prazer em interagir numa mediação que respeita o que emerge da criança.


Imagem de destaque: Gerd Altmann / Pixabay

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