Magda Soares, justo reconhecimento

O CNPq anunciou nesta semana, que, por decisão do seu Conselho Deliberativo, a ganhadora do Prêmio Almirante Álvaro Alberto de 2015 é a profa. Magda Becker Soares, professora Emérita da UFMG e professora titular da Faculdade de Educação. Segundo informações do site do CNPq, “o Prêmio Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia, instituído em 1981, de caráter individual e indivisível, é atribuído ao pesquisador que tenha se destacado pela realização de obra científica ou tecnológica de reconhecido valor para o progresso da sua área. É concedido anualmente, em sistema de rodízio, a uma das três grandes áreas do conhecimento: a) Ciências Exatas, da Terra e Engenharias; b) Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes; e c) Ciências da Vida.”

O prêmio que se concede a Magda Soares é um justo reconhecimento à sua inestimável contribuição à institucionalização e desenvolvimento da pesquisa brasileira nas áreas das ciências humanas e sociais e, mais particularmente, na área da educação. Mas não apenas isso: é também o reconhecimento de seu trabalho pela expansão e melhoria da escola básica no Brasil, pelo menos desde os anos de 1960, quando começou a trabalhar na e com as escolas públicas.

Como atesta seu currículo, Magda Soares esteve à frente de experiências pioneiras no âmbito da educação pública brasileira, como o foram o Colégio Universitário da UFMG nos anos de 1960, que propunha uma forma absolutamente nova de ensinar e aprender e que marcou toda uma geração de, hoje, cientistas, militantes políticos e professores universitários de todo o Brasil; a organização da Faculdade de Educação da UFMG, que veio a ser um dos centros de excelência na área no país; o ensino de língua portuguesa, por meio da elaboração de uma pioneira coleção de livros didáticos ainda nos ano de 1970; a institucionalização da pesquisa sobre a alfabetização, a leitura e a escrita por meio da criação do Centro de Alfabetização Leitura e Escrita, o CEALE, um dos mais importantes centros de pesquisa do mundo sobre o assunto.

Ancorada na pesquisa, no ensino e no envolvimento com a construção da UFMG e, particularmente, da Faculdade de Educação, no reconhecimento acadêmico que lhe foi sendo conferido pelos pares e na autoridade auferida junto aos professores da escola básica, Magda Soares não se furtou a atuar no campo mais amplo da organização da pesquisa e do ensino no Brasil e no exterior. Participou ativamente da consolidação da CAPES, do CNPq, e esteve à frente de importantes iniciativas promovidas pela UNESCO.

Todos sabemos que não é possível falar de alfabetização e, mais recentemente, de letramento, no Brasil e em vários outros países sem se referir ao nome da Magda Soares. Pioneira no Brasil ao articular o ensino de línguas com as condições políticas, sociais, econômicas e culturais em que as escolas e, portanto, seus agentes estão inseridos, foi capaz, também, de produzir uma teoria sobre a língua e, mais particularmente, sobre a alfabetização e o letramento que, articulando a contribuição das várias ciências, dialoga com as questões postas pelos pesquisadores e pelos professores da escola básica e nos oferece alternativas teóricas e metodológicas para pensar e ensinar o assunto.   

Mas, talvez, a maior contribuição da Magda Soares para a pesquisa educacional e para a escola básica brasileira seja a forma como ela sempre exerceu, e exerce ainda, a profissão de professora. A experiência que um dia teve, no ensino secundário, com uma excelente professora de português, e que mudou a sua vida, e o convite (ou a permissão) que ela um dia recebeu de seu professor na então Universidade de Minas Gerais – “Venia Legendi!”; “Venha Ensinar!”  – ela vem repetindo, convidando e abrindo portas a várias gerações de professores e pesquisadores do Brasil.

São inúmeros os depoimentos de ex-alunos de Magda Soares que ressaltam sua especial capacidade em transmitir-lhes o gosto pelo conhecimento e o desejo de conhecer como uma das mais importantes características daqueles(as) que querem ensinar, aqueles(as) que assumiram o risco e a responsabilidade de serem professores(as). É isto que, ainda hoje, depois de uma carreira universitária de muito trabalho, prestígio e sucesso, Magda Soares continuar a fazer toda semana com as professoras de Lagoa Santa, uma cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte: transmitir-lhes, ou cultivar com elas, o gosto pela leitura e pela escrita e a responsabilidade de receber as novas gerações, os mais pequenos e as mais pequenas, no mundo da alfabetização e do letramento.

Imaginamos, por fim, que, por meio da concessão do Prêmio Almirante Álvaro Alberto à Magda Becker Soares o CNPq e a comunidade científica nacional estão reconhecendo sua trajetória e suas contribuições para a pesquisa, a ciência e tecnologia do país, mas também, estão chamando a atenção para a fundamental importância da pesquisa sobre e com a escola pública para o desenvolvimento científico, tecnológico, social e econômico do país. Sem uma escola básica de qualidade, e para todos, inúteis serão nossos esforços por fazer do Brasil uma potência científica e tecnológica. Essa é, dentre outras, uma das grandes lições que nos ensina a justa homenageada com o Prêmio Almirante Álvaro Alberto de 2015!!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *