Lição de mestre: quando “perder” significa “vencer”

Marileide Lázara Cassoli

Elaine Teixeira Pereira

 

O professor

Os alunos do sexto grau, numa escola de Montevidéu, tinham organizado um concurso de romances.

Todos participaram.

Éramos três no júri. O professor Oscar, punhos puídos, salário de faquir, uma aluna, representante dos autores, e eu.

Na cerimônia de premiação, foi proibida a entrada dos pais e de qualquer adulto. O júri fez a leitura da ata final, que destacava os méritos de cada trabalho. O concurso foi vencido por todos, e para cada premiado houve uma ovação, uma chuva de serpentina e uma medalhinha doada pelo joalheiro do bairro.

Depois, o professor Oscar me disse:

– Nós nos sentimos tão unidos que me dá vontade de fazer todos eles repetirem de ano.

E uma de suas alunas, que tinha vindo para a capital de um povoado perdido no campo, ficou falando comigo. Contou que, antes, ela não falava nunca, e rindo me explicou que seu problema era que agora não conseguia parar. E me disse que ela gostava do professor, gostava muuuuito, porque ele tinha lhe ensinado a perder o medo de se enganar.

Eduardo Galeano, Bocas do tempo

Bocas do tempo reúne, nas palavras de seu autor, histórias que ele ouviu ou viveu e que foram publicadas, originalmente, em jornais e revistas. Recordações que, ao passarem novamente pelo coração do autor, transformaram-se em livro no ano de 2004.

Nesse segundo semestre de 2018, nós, editoras da coluna Entrememórias, incentivamos os leitores e leitoras do Pensar a Educação em Pauta a buscarem em seus corações recordações de vivências educacionais, especialmente as escolares. A pequena história, que escolhemos do livro de Eduardo Galeano, oferecemos a vocês em agradecimento pela inestimável colaboração.

Os textos publicados na Entrememórias possibilitaram que, por meio de relatos pessoais, construíssemos uma breve memória dos caminhos que a educação e as práticas em sala de aula trilharam nas últimas décadas. Nesse sentido, essas memórias possibilitam uma visão crítica e reflexiva da atuação docente e seus impactos na vida dos estudantes. Boas memórias – e outras não tão boas assim – compuseram esse pequeno retrato da educação em nosso país.

Buscamos, com a historieta narrada por Galeano, relembrar a importância do professor ou professora na formação de pessoas, de todas as idades, que frequentam as escolas em condições, na maioria das vezes, extremamente adversas. Tornar o espaço da sala de aula no locus onde perdemos – ambos, professores e alunos, – o “medo de errar” talvez seja o passo mais importante na construção de uma cidadania plena, pautada na aceitação do debate, na profundidade dos argumentos, na liberdade de expressão e no respeito à diversidade.

Deixamos aqui, como já dito, nossos agradecimentos. Que muitas outras recordações “passem pelos corações” e aportem nessa coluna!

 


Imagem de destaque: Marileide Cassoli

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