Monica Abranches
A extensão universitária, no país, vem desempenhando um papel importante tanto na formação acadêmica de futuros profissionais quanto no atendimento aos desafios sociais, políticos e econômicos da sociedade através de sua vocação para a sistematização de ideias e a produção de conhecimentos. Em tempos de pandemia as universidades atingiram milhões de pessoas através de intervenções de programas, projetos e eventos de extensão universitária que atenderam demandas relacionadas à saúde das comunidades, divulgação de informações confiáveis sobre a doença e soluções sociais e ambientais para a situação crítica de alguns territórios mais vulneráveis no país. De outra forma, a extensão também promoveu acolhimento e conforto através de ações culturais, educativas, psicossociais e de lazer a diversos públicos etários e étnicos.
Esse é um dos exemplos dos compromissos sociais das Universidades expressos por meio de sua missão, impressos nos documentos das Instituições e colocados em prática através das ações de extensão universitária.
Mas nem sempre foi assim! As instituições de ensino superior públicas, privadas e comunitárias estão, há muitos anos, estabelecendo um processo de institucionalização da extensão universitária, muitas vezes, acelerado ou freado por suas próprias políticas institucionais ou por falta de orientação adequada das diretrizes nacionais para a educação superior. Soma-se a isso a dificuldade de pessoal para a gestão das ações extensionistas e a escassez de recursos institucionais para o funcionamento e financiamento da extensão.
Muitos caminhos foram percorridos pela institucionalização da extensão universitária até o resultado das discussões mais recentes sobre esses desafios, que nos é apresentado pela Política Nacional de Extensão Universitária, produzida pelo Fórum de Pró-Reitores das Universidades Públicas, aprovada em 2012. Esse documento é um marco dessas lutas e uma referência para as instituições de ensino superior organizarem a sua gestão e implementação da extensão. Outros documentos determinam e orientam como a extensão deve ser inserida nas atividades acadêmicas e administrativas das universidades como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), de 1996; o Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior (SINAES), de 2004 e a Política Nacional de Graduação, também de 2004.
Sendo as diretrizes apresentadas por esses documentos importantes para as Instituições de Ensino Superior, como materializá-lo no âmbito da academia? Como associar essas orientações nacionais com as políticas institucionais de cada universidade? Cada instituição deve inserir essas orientações em seus processos acadêmicos e administrativos e elaborar suas próprias políticas e documentos que garantam a institucionalização da extensão universitária, sendo que estes servirão de parâmetro para o Ministério da Educação balizar a avaliação das IES.
Também está em curso a exigência legal do processo de curricularização da extensão nas IES, após determinação do Conselho Nacional de Educação (CNE), em 2018, prevendo a integralização do percentual mínimo de 10% da carga horária total dos cursos de graduação, por meio da formação em extensão universitária. Esse processo deverá ser concluído até 2021 pelas universidades.
Destaque entre os processos de institucionalização da extensão foi a aprovação em outubro de 2020, pela Universidade Federal de Minas Gerais, da institucionalização dos Centros de Extensão (CENEX) como órgãos colegiados em todas as unidades acadêmicas da universidade. É um exemplo de reconhecimento do potencial formador da extensão na vida acadêmica de alunos, professores e técnicos administrativos, bem como da vocação extensionista de cada curso de graduação e pós-graduação perante as demandas da sociedade.
Essa decisão aponta para os gestores, professores e alunos as inúmeras possibilidades de implementar programas, projetos, eventos e cursos de extensão na vida acadêmica e de ampliar a relação de cada curso com as comunidades e as instituições públicas e privadas externas à universidade. Essa iniciativa aproxima as questões da sociedade dos alunos em formação, promovendo a formação de profissionais cada vez mais sensíveis aos desafios de nosso tempo – profissionais tecnicamente competentes e eticamente mais comprometidos com a sociedade. Através dos CENEXs, as decisões sobre a extensão em cada curso pode ser partilhada entre os representantes de alunos, de docentes e de técnicos, facilitando a implantação de diversas experiências, facilitando a burocracia dos processos de seleção, monitoramento e avaliação das ações de extensão e democratizando a participação e a publicização das ações.
Decisões como esta da UFMG são parte de respostas concretas das instituições de ensino superior para garantir que a extensão universitária possa enriquecer mais os currículos e que a universidade possa dialogar cada vez mais com a sociedade e o poder público, com intuito de contribuir com a transformação social e a inovação necessária e urgente de nosso país.
E no seu curso de graduação ou pós-graduação? E na sua universidade? Como vai a institucionalização da extensão?
Imagem de destaque: Caminho dentro da UFMG campus Pampulha. Entrada do CAD II. Foto: Andrevruas