Indústria de multas

Dalvit Greiner de Paula

O assunto que quero conversar hoje é sobre trânsito. O trânsito como medida da educação de um povo. Roberto Damatta alerta-nos que no trânsito brasileiro todo mundo é rei. Abram alas, lá vem o rei! E ninguém obedece ninguém. Há tempos venho pensando em escrever sobre isso. Nosso trânsito é a demonstração do nosso caráter. E creio que qualquer trânsito no mundo é demonstrativo da educação que a população conseguiu assimilar ao longo da vida. Da formação que a geração anterior conseguiu transmitir à atual. O que, invariavelmente, vemos no Brasil é o jeitinho brasileiro tentando se dar bem no trânsito.

Estive em Cuba em janeiro. Largas avenidas, poucos carros (nem todos são velhos como nos mostram) e todos os motivos para correr. Curiosamente, Havana é uma cidade para se andar a pé. Ande sem susto, ninguém vai te atropelar. Apesar das pistas largas e bons automóveis, não presenciei ninguém disposto a disputar corridas, avançar sinais, buzinar nos seus ouvidos, oferecer dedinhos, xingar palavrões e outras coisas muito comuns por aqui. Atirar em outros motoristas, nem pensar.

O carro como extensão do corpo é usado para ir até a esquina e deve ser estacionado, de preferência, bem em frente ao local desejado. Impossível a um motorista andar a pé. Parece que lhe cortaram as pernas e a sua condição de deficiente físico se dá no momento em que se senta ao volante. Daí a ocupar todas as vagas para os deficientes físicos reais. O drive thru então, melhorou de vez essa relação. O motorista, proibido de comer ao volante, sai do drive thru bebendo e comendo. Em breve, os automóveis virão com latrinas.

O carro como extensão do caráter é usado para furar filas; tentar e conseguir assassinar pessoas avançando os sinais vermelhos; formar filas duplas como se o automóvel parado na vaga estivesse errado e a rua fosse de seu uso único e exclusivo. Assassinar com o automóvel não é problema legal. É possível se safar, mesmo estando alcoolizado ou com o automóvel sem condições de tráfego.

O carro como extensão do ego serve para encantar. O carro, imenso, é inversamente proporcional à autoestima do motorista. Ele deve mostrar ali toda a sua frustração de não ter ou não ser grande. Então desfilamos caminhonetes imensas, ocupando espaços e gastanto combustível para conduzir uma única pessoa e seu ego inflado. No país do consumo, educação ambiental tem nota zero. E mais: a demonstração de força contra os motoristas de carros menores. São como aqueles bad boys que se acham donos do território, da rua.

Então agora é fácil falarmos da indústria de multas que existe no Brasil. Parece-me que só aqui existe essa imensa empresa estatal (deve ser comunista) que lucra (ops, capitalista?) com a multa dos desavisados. Não consigo entender a expressão “indústria de multas” e considero-a demonstrativa do baixo letramento de muitos brasileiros. Esse baixo letramento ainda se reflete no fato do motorista não compreender que a sinalização e as regras de trânsito são para proteger todos, inclusive ele, e não o contrário. A impaciência, com tudo e todos, é a demonstração definitiva da incapacidade de viver em sociedade. E, apenas seres educados são capazes de viver em sociedade.

Uma cidade educadora deve tornar o trânsito mais didático, num processo de educação permanente, de maneira que todos possam usufruir da cidade. Quando o presidente da república fala em acabar com a tal indústria de multas, fico buscando entender como isso é mais uma demonstração de que tem nos faltado um projeto educacional mais amplo, mais abrangente, mais incisivo. Uma educação permanente em todos os níveis e sentidos. Por todos os meios. E assim, cumprindo a lei, acabar com a tal indústria de multas.

Em Cuba, imagino que não existe uma indústria de multas. Lá, todo mundo anda tão certinho. É muita educação!


Imagem de destaque: Unsplash

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