Ideologia cega e a destruição da Amazônia: um problema da educação

Tiago Tristão Artero

Não há de se atribuir à educação a responsabilidade pelo caos social que ora se desenvolve no Brasil, uma vez que ela (a educação) é produto do próprio meio, no entanto, é fundamental entender o aspecto transformador contido na ação das escolas.

Em Marx, ideologia refere-se não somente a um conjunto de ideias sobre determinado assunto ou a respeito da sociedade, mas a uma falsa consciência, advinda da ruptura entre as condições materiais e o entendimento dos elementos sociais e históricos, num contexto no qual o trabalho manual e intelectual são distanciados.

Ideologias destrutivas, por meio das mídias sociais, encontram terreno fértil nas mentes sem capacidade de entender o quanto os processos e relações sociais estão desumanizados dentro da organização política e econômica na qual estamos inseridos.

A educação, quando não reflete sobre suas práticas para além da aparência, cai na contradição de reforçar uma falsa consciência, ou seja, uma ideologia. É assim quando se comemora o dia do índio com uma pena na cabeça, entoando gritos em roda, ou resume-se o dia da Consciência Negra como uma data para experimentar comidas que supostamente serviam de alimentação pelos escravizados e para jogar capoeira. A lógica dos exemplos citados perpassa todo o currículo escolar, pois a escola que temos ainda é a escola burguesa, alinhada ao desenvolvimento do capital em detrimento da vida, nas suas mais diversas formas.

A destruição da Amazônia – e, consequentemente, o risco que isso impõe para o regime de chuvas e para o aquecimento global – foi gestada no seio da sociedade e, contraditoriamente, onde se deveria combater as ideias que sustentam esta destruição, a escola. A destruição não vem somente das queimadas ou do desmatamento criminoso, vem, também, da dita necessidade de “trazer desenvolvimento” para o referido local. O desenvolvimentismo está aliado a uma falsaideia de evolução, dadas as suas consequências nefastas.

É crescente a banalização da expressão “desenvolvimento sustentável” que está sendo usada para justificar a depredação do que deveria ser o santuário da Amazônia. Abastecer a população que reside nesta área, dando dignidade a estes povos não significa transportar o “modelo de desenvolvimento” das capitais e enxertar no meio da Amazônia, muito embora a intenção do governo atual não seja a de dar suporte aos moradores da referida região.

O que se vê, para além do cenário de supostamente desenvolver a Amazônia, é a depredação e “aproveitamento” das riquezas que ela pode proporcionar.

“A Amazônia é nossa”, ou seja, iremos depredar antes dos gringos, pois, supostamente, é isso que eles querem: acabar com a Amazônia.

Essa mentalidade traduz uma ideologia que relega a vida, em todas as duas formas, a segundo plano. Faz representantes políticos conceituarem como “de esquerda” quem se preocupe com questões ambientais. Nessa mesma linha, enaltecem a meritocracia como fórmula para enrijecer as relações do capital que, por si só, já são desumanizadoras e atacam os locais que, ao menos potencialmente, possuem condições de realizar ações contra hegemônicas, como escolas, Universidades Públicas, Institutos Federais, sindicatos, conselhos, etc.

A ideologia cega está contida em grupos que emergem em meio aos discursos de ódio. Estas falas fomentam o aumento no desmatamento, nas queimadas, na violência em relação aos índios, mulheres, negros e negras, crianças, deficientes e todo tipo de população vulnerável. Isso se mostra em números e 2019 é a prova de que grupos são mobilizados a partir da fala de representantes políticos, sendo legitimados por estas falas.

Hoje, somos vítimas de um capitalismo predatório e nossas escolas e relações sociais estão condicionadas à lógica deste sistema. A ideologia cega coloca a meritocracia como condição de desumanização, fazendo definhar os mais vulneráveis, e isso é posto pela mídia e refletido nas mídias sociais como algo natural.

A questão da Amazônia é a bola da vez, mas, concomitantemente à sua destruição, está à violência contra aqueles que são considerados mais fracos ou menos merecedores, ou ainda, sobre os que contestam a ideia de depredação e tentam realizar debates sobre o bom-senso e a proteção da vida.

É um problema da Educação, sim, refletir sobre estas contradições e combater, com toda intelectualidade e, também, com ações práticas a cegueira que, historicamente, está instalada em nossa sociedade e que culminou nesta crescente que choca os que ainda não estão embrutecidos pela cultura da guerra e da matança disfarçada de desenvolvimento.

Como tática, acusam daquilo que são seus próprios atos os defensores de uma sociedade que valoriza a vida, aparelhando as instituições de mecanismos baseados em uma ideologia predatória e legitimando as atrocidades daqueles que aguardavam ansiosos por representantes políticos que se comprazem com os retrocessos ora notados.

Cabe perceber o papel revolucionário que a educação deve assumir e rever, de maneira profunda, o tipo de saber a ser desenvolvido para que a liberdade e a democracia permitam o desmonte do patriarcado, da depredação do caráter pelo capital, dos mecanismos de destruição do meio ambiente, da falácia da meritocracia, do fascismo e de todo e qualquer discurso de ódio que venha a ser proferido.


Imagem de destaque: Paulo Pinto/Fotos Publicas

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