Escolas, Estudantes e Política

EDITORIAL Nº259, 1 de novembro de 2019

A presença de coletivos estudantis no cenário público marca a história da cidade no mundo ocidental há vários séculos. Pelo menos desde que se inventou as universidades como tempo e espaço de ensino e aprendizado coletivo, passando pela organização dos colégios modernos e, sobretudo, desde a organização da escola pública de massas a partir do século XIX, as instituições escolares têm sido lugares de fermentação da rebeldia e de elaboração de projetos políticos questionadores da ordem social vigente.

Os(as) estudantes, que sempre ocuparam a cena pública e inspiraram utopias político-literárias as mais diversas, continuam a incomodar, hoje, os defensores do status quo. Apesar das enormes mudanças nas formas de viver e compreender a infância e, sobretudo, a adolescência e a juventude, estes sujeitos continuam a utilizar os espaços-tempos das escolas para elaborar identidades geracionais, de gênero, de raça, de classe e outras, que têm um importante rebatimento no espaço público e nas disputas políticas pelos sentidos da vida e da história humana sobre a terra.

Não é por acaso que, desde sempre, houve um grande investimento das forças da ordem religiosa e política por conter e/ou canalizar os ímpetos políticos criativos e questionadores trazidos pelas novas gerações que sempre e sempre estão a chegar à escola. Ao longo do tempo a escola foi alvo de disputa política pelos sentidos da educação e, portando, pelos sentidos da política.

Cabe à política tão somente criar condições (e instituições!) para que as novas gerações deem continuidade ao antigo ou pode, também, ser uma maneira (ou várias maneiras) de criar um mundo diferente daquele que já existe? Nos dois últimos séculos, com a organização da escola de massas, os partidários da ordem sempre quiseram colocar a instituição a serviço do capital e, portanto, organizar a educação como uma eficiente máquina de integração das novas gerações no mundo social tal como ele é. Nesta perspectiva, muito mais do que uma formação para a criação e para a subversão, a escola ensinaria conhecimentos, valores e sensibilidades que funcionassem como uma importante força de contenção social.

O jogo que estamos jogando neste momento, no Brasil e no mundo, mostra que o projeto autoritário e conservador em relação à escola continua mais vivo do que nunca. De outra parte, a presença subversiva dos estudantes na cena pública tem demonstrado que, a despeito disso, a escola não consegue conter a força das contradições do mundo social do qual ela participa e que explodem, continuamente, nos corpos e nos pensamentos das novas gerações.

A escola é a única instituição social que, todos os dias e em todo o mundo, cria condições para que bilhões de indivíduos se encontrem, se identifiquem e construam os coletivos os mais diversos. Ela é, por isso mesmo, o espaço e tempo em que todas as contradições sociais se explicitam todos os dias do ano, e ao longo de muitos anos para boa parte dos sujeitos que a frequentam. A escola, sobretudo a pública, é, neste sentido, ingovernável e é por isso mesmo que ela tem uma potencialidade política sem tamanho. Destruí-la é a única forma de conter o ímpeto criativo e subversivo que a habita. Defendê-la é um imperativo político e democrático ao qual não podemos nos furtar.


Imagem de Destaque: Thiago Rosado

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Escolas, Estudantes e Política

A presença de coletivos estudantis no cenário público marca a história da cidade no mundo ocidental há vários séculos. Pelo menos desde que se inventou as universidades como tempo e espaço de ensino e aprendizado coletivo, passando pela organização dos colégios modernos e, sobretudo, desde a organização da escola pública de massas a partir do século XIX, as instituições escolares têm sido lugares de fermentação da rebeldia e de elaboração de projetos políticos questionadores da ordem social vigente.

Os(as) estudantes, que sempre ocuparam a cena pública e inspiraram utopias político-literárias as mais diversas, continuam a incomodar, hoje, os defensores do status quo. Apesar das enormes mudanças nas formas de viver e compreender a infância e, sobretudo, a adolescência e a juventude, estes sujeitos continuam a utilizar os espaços-tempos das escolas para elaborar identidades geracionais, de gênero, de raça, de classe e outras, que têm um importante rebatimento no espaço público e nas disputas políticas pelos sentidos da vida e da história humana sobre a terra.

Não é por acaso que, desde sempre, houve um grande investimento das forças da ordem religiosa e política por conter e/ou canalizar os ímpetos políticos criativos e questionadores trazidos pelas novas gerações que sempre e sempre estão a chegar à escola. Ao longo do tempo a escola foi alvo de disputa política pelos sentidos da educação e, portando, pelos sentidos da política.

Cabe à política tão somente criar condições (e instituições!) para que as novas gerações deem continuidade ao antigo ou pode, também, ser uma maneira (ou várias maneiras) de criar um mundo diferente daquele que já existe? Nos dois últimos séculos, com a organização da escola de massas, os partidários da ordem sempre quiseram colocar a instituição a serviço do capital e, portanto, organizar a educação como uma eficiente máquina de integração das novas gerações no mundo social tal como ele é. Nesta perspectiva, muito mais do que uma formação para a criação e para a subversão, a escola ensinaria conhecimentos, valores e sensibilidades que funcionassem como uma importante força de contenção social.

O jogo que estamos jogando neste momento, no Brasil e no mundo, mostra que o projeto autoritário e conservador em relação à escola continua mais vivo do que nunca. De outra parte, a presença subversiva dos estudantes na cena pública tem demonstrado que, a despeito disso, a escola não consegue conter a força das contradições do mundo social do qual ela participa e que explodem, continuamente, nos corpos e nos pensamentos das novas gerações.

A escola é a única instituição social que, todos os dias e em todo o mundo, cria condições para que bilhões de indivíduos se encontrem, se identifiquem e construam os coletivos os mais diversos. Ela é, por isso mesmo, o espaço e tempo em que todas as contradições sociais se explicitam todos os dias do ano, e ao longo de muitos anos para boa parte dos sujeitos que a frequentam. A escola, sobretudo a pública, é, neste sentido, ingovernável e é por isso mesmo que ela tem uma potencialidade política sem tamanho. Destruí-la é a única forma de conter o ímpeto criativo e subversivo que a habita. Defendê-la é um imperativo político e democrático ao qual não podemos nos furtar.


Imagem de Destaque: Thiago Rosado

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