Eleições: de que educação se falou?

Os debates políticos eleitorais que acompanhamos nos últimos meses e que se encerram, definitivamente, no próximo domingo, significaram um momento importante de exposição pública das posições sobre  a “agenda Brasil” dos próximos 4 anos. Dentro dessa agenda, evidentemente, como já se disse neste espaço, a educação escolar ocupa lugar de destaque.

Há o que se comemorar quando a  questão da educação de qualidade ou, o que não é o mesmo, a qualidade da educação, entra de maneira obsessiva nos debates eleitorais?  Em princípio, parece-nos que sim. No entanto, quando adversários políticos que se digladiam no espaço público dizem as mesmas coisas sobre a educação,  há que se duvidar dos sentidos das palavras.

Se há uma consenso sobre a importância do tema, nem sempre há o mesmo entendimento quanto ao que seria uma educação de qualidade e, sobretudo,  como chegar a ela.  Até há bem pouco tempo, a sociedade brasileira estava convencida de que uma boa escola  era aquela que  preparava bem nossas crianças e jovens para passar no vestibular das boas universidade públicas brasileiras. Com o fim dos vestibulares, mas não da visão estreita que se tinha sobre qualidade, agora persiste a ideia de que uma boa escola  é  aquela que  prepara bem nossas crianças e jovens para conseguir uma boa pontuação para entrar numa das boas universidade públicas brasileiras!

É evidente, para quem acompanhou as propagandas partidárias, que pouco se aprofundou sobre as características de uma educação de qualidade para todos.  Como já se disse, capturadas pelas estratégias de marketing, as campanhas políticas contemporâneas nada mais fazem do que apresentar produtos políticos a serem assistidos ou adquiridos pelo público, entendido este como espectador e/ou como consumidor. 

Não por acaso, muito se falou de qualidade da educação como estando relacionada ao desenvolvimento econômico, à formação para o trabalho, ao  emprego, às  competências, à renda, à segurança pública, à inclusão no mercado de trabalho… Capturada mais uma vez pela economia, à educação parece restar o papel de parteira ou coveira de um novo ciclo de desenvolvimento!

No entanto, há que se reconhecer que alguns pequenos partidos tentaram sim, estabelecer outra posição para a discussão sobre a educação e, assim, utilizar a campanha como um momento de educação da população. Aí, a educação deixou de ser palavra de ordem vazia e adquiriu a coloração das escolas, dos professores, dos alunos e, enfim, da população  brasileira. Nessa outra retórica, a palavra de ordem continua a ser a educação para a  cidadania, para a diversidade, para o alargamento do espaço público.  Mas esses partidos também não estavam sozinhos:  não foram poucas as vozes, também de pequenos partidos, que se levantaram para defender uma educação contra tudo isso e algumas coisas mais!

Não se pode deixar de dizer, finalmente, que as diversas opções que se digladiam no espaço social, inclusive neste 2º turno das eleições, parecem convergir para duas posições quando se trata do lugar do Estado na consecução de uma educação de qualidade para todos: é preciso maior e melhor atuação do Estado e controle da iniciativa privada, defendem uns; é preciso que o Estado diminua a sua presença e que se incentive a iniciativa privada, defendem outros.  Numa sociedade como a nossa, em que há uma  tradição de privatização do espaço e das instituições públicas, corre-se o risco de, mais uma vez, se vender à população que a iniciativa privada é mais eficiente do que as instituições públicas e, assim, contribuir, na verdade, para um esvaziamento ou uma redução da qualidade da educação à preparação para a empregabilidade em temos de empregos e de trabalho precários.  Se, continuamente, nos momentos de crise,  o Estado é chamado a socorrer, com recursos públicos,  a iniciativa privada, por que deveríamos acreditar que mais iniciativa privada pode ser uma boa saída  para a educação pública?

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