Educação, História e Cinema – exclusivo

Evelyn de Almeida Orlando

A relação Educação (ou História)/Cinema já vem sendo largamente trabalhada nos cursos de Pedagogia e História como estratégia pedagógica para estimular debates. Por que trazer, então, a reflexão sobre uma temática já mobilizada de forma quase natural por professores dos dois cursos? Esse texto nasceu de um incômodo que me acompanha há algum tempo, e de um conjunto de reflexões propostas por alunos de diferentes cursos de Mestrado e Doutorado da PUCPR, para pensar estratégias de formação docente.

O incômodo se relaciona à extensão universitária e, mais precisamente, o lugar que a História da Educação vem assumindo nesse cenário. Toda demanda de produção da CAPES, como um algoz para que os professores se mantenham nos programas de pós-graduação, inibe algumas discussões essenciais que passam pelo retorno das nossas pesquisas para a sociedade. Vou me manter no campo da docência e pensar nos rebatimentos das nossas pesquisas na educação básica.

Em primeiro lugar, não há uma identidade na categoria docente. Os professores do ensino superior pouco dialogam com os professores da rede básica. Cada um dá conta do seu rol de problemas como se não tivessem relação uns nos outros. Os problemas de formação básica que acompanham o aluno do ensino superior são mencionados recorrentemente nas reuniões de colegiado, mas pouco se discute sobre o que o ensino superior faz para melhorar a formação desse aluno ou mesmo a formação do professor que está nessa linha de frente da educação.  

Em paralelo, ao trabalhar com alunos de diferentes cursos de Mestrado e Doutorado em uma disciplina intitulada Processos Pedagógicos no Ensino Superior, usando filmes como forma de refletir sobre abordagens pedagógicas utilizadas pelo professor, os alunos sugeriram que esse tipo de trabalho fosse ampliado. As propostas passam por não apenas usar os filmes como ilustração das práticas pedagógicas, mas como ferramentas para compreender as representações de imagens de professor, de propostas pedagógicas eficazes considerando os contextos particulares em que foram usadas e com quais objetivos, perceber a concepção político-pedagógica que mobiliza o professor em sua sala de aula e as condições de possibilidade que a escola, a família e a sociedade, de modo geral, colocam como limites para o exercício da profissão docente.

Incomodada com a questão da extensão e com o pouco diálogo com os professores da educação básica, e estimulada pela proposta dos alunos, tracei com eles o desenho de um curso de extensão que veiculasse Educação, História e Cinema. A proposta é, a partir do Cinema, refletir sobre problemas distintos do horizonte educacional, abraçando alunos (não necessariamente das licenciaturas) que pretendem se envolver com a docência e professores que já estão no exercício da profissão, promovendo um caminho de formação continuada.

O cinema, nesse contexto, é outro tipo de fonte, presente no cotidiano da maioria das pessoas. Consumido quase sempre como entretenimento, estimula o interesse pela cultura, aguça e sensibiliza o olhar para sua diferentes representações e seus aspectos sociais, éticos, estéticos, dentre tantos outros que emergem de diferentes formas. 

E a História da Educação? Considerada por boa parte dos alunos da Pedagogia e das Licenciaturas como uma das disciplinas mais desprestigiadas, sobretudo pela sua função pouco pragmática, é retomada aqui de forma sutil. Ora, se na vida acadêmica, os professores enfrentam o dilema de ponderar entre o importante e o urgente, cedendo quase sempre ao último, isso não é diferente para os alunos. Para estes, disciplinas de cunho teórico não dão conta dos problemas urgentes das salas de aula, logo têm prestígio entre os alunos, que não percebem o peso delas em sua formação.

Assim, pensar Educação/História/Cinema é um modo de não impor a História da Educação aos professores e alunos, mas de expô-los a reflexões e conceitos deste campo a partir de histórias produzidas em um determinado tempo/espaço, em condições específicas, perpassando aspectos do econômico ao social, representações ali veiculadas e a história produzida pelo filme.  

O cinema veicula uma pedagogia da imagem utilizada cada vez com mais força. Se essa pedagogia emerge no século XIX, pode-se dizer que, de lá pra cá, intensificou-se significativamente. Todos os dias somos assolados por imagens de inúmeros canais, que vão formando sutilmente nossas opiniões, comportamentos e modos de pensar. A vulgarização da imagem e do que ela apresenta funciona como importante dispositivo de educação e reorganização da sociedade, sem que boa parte desta se dê conta do processo. Nossos sentidos são expostos às imagens, mas nosso olhar é pouco educado para lê-las.

Se o cinema traz histórias, também faz história. O filme, entendido dentro do contexto da pedagogia da imagem, educa. Mas educa para quem? E como? Sendo produto da História, com uma função social que é, dentre outras, pedagógica, torna-se objeto e fonte para pesquisas em História da Educação, e uma nova tecnologia para o seu ensino. Recentemente, foi lançado o livro “Cinema e Ensino de História da Educação”, organizado pelos professores Sauloéber Társio de Souza, Carlos Henrique de Carvalho e Betânia de Oliveira Laterza Ribeiro, da UFU. Sua chegada, em boa hora, aponta a importância de pensar o cinema no Ensino de História da Educação e do uso dessa ferramenta como opção por um caminho mais sensível e, culturalmente, mais próximo de nosso tempo, para provocar nossos alunos e professores em suas interpretações dos fenômenos relacionados, sobretudo, à Educação.

Cabe ainda uma última consideração sobre o link Educação/História/Cinema. O exercício da crítica, tendo o cinema como instrumento pedagógico, demanda abertura para a pluralidade de leituras que emergem dessa reflexão e o desprendimento da leitura certa ou errada ou que se pretendia que fosse feita do filme. Tal pedagogia carrega consigo a força do exercício de reflexão, e nele a subjetividade das interpretações está carregada dos repertórios que cada um traz em sua bagagem. Como ferramenta pedagógica, seu uso tem o sentido de orientar o olhar, mas cabem duas questões nas quais esbarramos: até onde essa orientação deve cercear a apropriação que cada um faz da leitura desse texto veiculado pela imagem? E até onde, nós professores, estamos prontos para lidar com as pluralidades e singularidades dos sujeitos em nossa prática pedagógica?

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