Educação e Direitos Humanos: experiências de uma escola em Betim/MG

Fabiana Vilas Boas Borges¹

Aline Choucair Vaz²

Neste ano de 2020, Paulo Freire, se estivesse vivo, completaria 99 anos de vida. Este importante pensador e educador nos deixou um legado fundamental para pensar as relações educativas também no âmbito da escola. Em seu livro “Pedagogia da autonomia – saberes necessários à prática educativa”¹, Freire pontuou vários elementos fundantes de uma práxis libertadora entre alunas, alunos, professoras e professores. Freire critica a educação bancária – aquela que se preocupa em “depositar” conhecimento e informação na cabeça dos educandos, como se não fossem sujeitos e não tivessem saberes importantes a compartilhar com os educadores. Ele nos evoca a prática da rebeldia contra o bancarismo “[…] o educando mantenha vivo em si o gosto da rebeldia que, aguçando sua curiosidade e estimulando sua capacidade de arriscar-se, de aventurar-se, de certa forma o ‘imuniza’ contra o poder apassivador do bancarismo” (FREIRE, 1996, p. 25).

Para isso é necessário que o educando lute pela sua autonomia como sujeito que pensa, reflete e age ao seu redor. Deste modo, seja um agente transformador de sua própria história. Neste sentido, Freire convida o professor e professora a respeitar a curiosidade do/a educando/a, “o seu gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem, mais precisamente, a sua sintaxe e a sua prosódia; o professor que ironiza o aluno, que o minimiza, que manda que ele se ‘ponha em seu lugar’ ao mais tênue sinal de sua rebeldia legítima, tanto quanto o professor que se exime do cumprimento de seu dever de propor limites à liberdade do aluno, que se furta ao dever de ensinar, de estar respeitosamente presente à experiência formadora do educando, transgride os princípios fundamentalmente éticos de nossa existência” (FREIRE, 1996, p. 60). Freire proporciona uma aula sobre Direitos Humanos, embora não tenha tratado diretamente sobre eles com este nome. No entanto, evoca o direito à educação e, sobretudo, aquela de qualidade. E uma educação com princípios éticos e de humanização que marque a vida dos/as envolvidos/as.

Hoje gostaríamos de mencionar a experiência de vanguarda que vem sendo construída de forma inspiradora por uma escola municipal da rede pública de Betim em Minas Gerais, “Aristides José da Silva”, que nesse ano completa 30 anos e celebra essa jornada, contrariando todos os planejamentos de 2019, com recuos, pausas, isolamento, afastamentos e tantos condicionamentos impostos pelas circunstâncias da Pandemia e protocolos da Covid. No entanto, celebra com confiança os sentidos construídos pelos passos percorridos até aqui e com esperança renovada para recomeços, ancorados em novos tempos e paradigmas mais progressistas e humanistas. Essa época desafiadora provoca inexoravelmente avaliações e ajustes de percurso para o novo. Pode-se pensar que “A nova pedagogia para a educação da humanidade não é apenas uma pedagogia da resistência, mas, sobretudo, uma pedagogia da esperança e da possibilidade.” ²

O desenvolvimento do trabalho da escola Aristides pode ser melhor conhecido, acompanhado e apoiado por uma plataforma criada com essa finalidade. Destacaremos por hora somente os eixos norteadores do seu Projeto Político Pedagógico (PPP) e os projetos institucionais em desenvolvimento, que de alguma forma, ainda que genérica, nos apresenta essa perspectiva mais autônoma na construção de uma Educação pública de qualidade. O contexto é complexo e dimensionado, são mais de 1000 alunos e 100 profissionais envolvidos, três turnos, uma área construída de mais de 2000 metros quadrados inserida numa comunidade em altíssima vulnerabilidade social, Jardim Terezópolis, Betim/MG.

O seu PPP está exatamente nesse momento, em processo de construção, sistematização e escrita coletiva, com base em eixos norteadores apontados até aqui por suas práticas e projetos pedagógicos: a) Escola leitora que investe na formação de leitores com foco na alfabetização e letramento; b) Formação Humana, sistêmica e integrativa, objetivando a compreensão de si e do outro com identidades diferentes, de forma a exercitar o respeito à diferença em uma sociedade plural e promover os direitos humanos, ao mesmo tempo com análise crítica; c) Gestão pedagógica e administrativa democrática, garantindo o acesso, o respeito à diversidade e sustentabilidade dos recursos materiais e humanos; d) Sustentabilidade e a consciência socioambiental com base científica, desenvolvendo ações para o cuidado com o meio-ambiente e o equilíbrio do bem-estar; e) Proatividade e coparticipação, promovendo o trabalho em equipe, estimulando o debate, a integração de ideias em constante inovação e incentivando o protagonismo e o espírito coletivo. Também se pensa numa educação articulada com os recursos tecnológicos na promoção do conhecimento e interação humana durante e pós-pandemia.

Os projetos que vêm sendo desenvolvidos e institucionalizados nos últimos anos buscam desenvolver esses eixos e também compartilham bastante inspiração. Pelo endereço eletrônico, podem ser melhor apresentados por imagens e descrições. Fica o nosso convite para conhecerem! Concluímos, endossando que esses ingredientes humanistas, juntos e misturados, podem produzir potência para mudanças necessárias e nos ajudar esperançar por novos tempos, interligando Educação e Direitos Humanos na Educação Básica.

¹FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia – saberes necessários à prática educativa. 35 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

²GADOTTI, Moacir. “Boniteza de um sonho: ensinar-e-aprender com sentido”. Novo Hamburgo: Feevale, 2003.

*Pedagoga e professora da Rede Pública Betim/MG.
E-mail: bianavilasboas@yahoo.com.br

**Professora da Faculdade de Educação da Universidade do Estado de Minas Gerais – FaE/CBH/UEMG. E-mail: alinechoucair@yahoo.com.br


Fonte da imagem: Escola Aristides

 

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