Educação e Cultura: não juntos, mas misturados – exclusivo

Dalvit Greiner

D. Miguel, o Temeroso e seu ministério macho-branco ocupando cadeiras que não lhes pertencem, nem de fato nem de direito é, numa análise no calor da hora, resultados de nossa cultura política. Temos pequenos usurpadores do espaço público em cada família brasileira que, quando saem à rua, agem como se fossem os patriarcas, senhores de todos aqueles que os rodeiam. Mesmo em suas imperfeições, a escola continua tentando consertar o estrago feito pelas famílias, aquelas em que o pai, patriarca macho (assim mesmo, redundante) não fez o seu papel de interdição ensinando os limites necessários para o viver na cidade. Como, por exemplo, respeitar decisões coletivas. O voto. Felizmente, nem toda família é assim e, infelizmente, nem toda escola é assim.

Custou-nos muito ter um Ministério da Educação. Não o tivemos durante o Império. Só o vimos logo após a Revolução de 1930, quarenta anos após a República, vindo à luz pelas mãos de Francisco Campos. E o da Cultura então? Andou atrelado com o da Educação até o final do século passado. Mas, essa nova junção dos Ministérios da Educação com o da Cultura não é apenas um ato de força engendrado contra a educação e a cultura brasileiras. É uma tentativa de aniquilamento de ambos os ministérios, que fatalmente serão avaliados como incompetentes e, mais tarde, desnecessários. Como foram os outros: considerados incapazes em atender aos brasileiros em sua diversidade foram desconsiderados em suas grandezas. Apesar dos baixos orçamentos.

Essa tentativa de aniquilamento vem de um tiro certeiro: controlar a cultura, principalmente a cultura popular. Mas, não deveríamos falar de educação? Não. A cultura de um povo mostra como ele educa sua nova geração. A Educação, enquanto um sistema, é apenas uma das ferramentas da cultura. E a Educação (com letras maiúsculas e minúsculas) já tem um alto controle: financiamento, currículo, carreira de professores, formação continuada, avaliação sistêmica, etc. A Cultura, pelo contrário, tem um autocontrole. Faz-se cultura a despeito da vontade do governante. Lá na ponta, quando se encontram com o cidadão, a Cultura é mais livre que a Educação. A cultura contém a educação e a educação contida na cultura atualiza o culto e o lança ao futuro. É assim que a educação torna-se componente da cultura.

Quem mais perde com essa fusão é a Cultura. Primeiro, pelo baixo orçamento que tem; segundo, pelo grande impacto que provoca e que será diminuído. O seu já baixo orçamento será surrupiado para cobrir caixas de outros setores. Não haverá uma soma dos orçamentos. Com isso, o impacto provocado nas produções artísticas brasileiras será altíssimo pela não atualização tecnológica no cinema, por exemplo; pela dificuldade de espalhamento da cultura naqueles lugares distantes dos grandes centros; pela retração – ou até mesmo o desaparecimento – de um mercado de trabalho ligado às artes e à cultura. São pontos a serem observados. Do ponto de vista estritamente cultural, o não atendimento da diversidade que marca a singularidade dessa nação frente as outras do planeta. Voltaremos à pasteurização, à indústria cultural de massas. O produto pronto e enlatado (opa, zipado!) voltará com força. Faltava-lhe financiamento que agora há de jorrar, via BNDES, a agência que atende ao mercado.

Mas, perde também a Educação. Primeiro, pois parte de seu orçamento financiará a Cultura; segundo, fará o papel de moralizador da cultura. É isso que se pede a esse novo Ministério da Educação e Cultura: que o primeiro contenha o segundo. E o contenha no sentido mais perverso que se pode imaginar que é o de conduzir, moralizar, escolher o que se pretende corrigir na geração presente e o que se deve apresentar às novas gerações. Observemos os currículos a partir de agora. Observemos, de início, o próximo Exame Nacional do Ensino Médio e os livros que comporão o Programa Nacional do Livro Didático, se é que vão continuar existindo.

No governo, Educação e Cultura não podem ficar juntas. Na sociedade, devem estar misturadas. Nós, educadores que somos, que militamos na Educação e na Cultura – e vice-versa – não podemos permitir, nem contribuir para esse controle que se quer fazer à nossa cultura, dentro e fora da escola. A Escola, trincheira natural da educação, deve se tornar também trincheira da cultura até que esses tempos sombrios passem. Tempos de patriarcado branco, rico e corrupto. E hão de passar.

http://www.otc-certified-store.com/muscle-relaxants-medicine-europe.html https://zp-pdl.com/best-payday-loans.php female wrestling https://zp-pdl.com/get-quick-online-payday-loan-now.php http://www.otc-certified-store.com/mental-disorders-medicine-europe.html

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *