Economista na educação: a continuidade do desmonte do MEC

Tiago Tristão Artero

Parece uma característica deste governo não tomar posições políticas a partir de avaliações conjunturais. O famoso QI (quem indica) virou método de nomeação. Uma afronta à meritocracia, não?

Inserir determinada ideologia acima dos interesses da educação no Brasil parece ser o rumo escolhido frente à tosca indicação de um economista com um “mini lattes”, aparentemente doutor (na prática não procede) e com vasta experiência em “não sei o quê” para assumir o Ministério da Educação.

Aquela história de Brasil acima de tudo e Deus acima de todos parece ter se perdido em meio a um Brasil sem projetos, portanto, inclinado cada vez mais para baixo, cada vez mais distante do “acima de tudo”. Já o “Deus acima de todos”, prefiro não comentar a não ser que a Constituição seja derrubada e o estado deixe de ser laico. Ou já foi?

A nomeação do novo ministro da educação materializa o descompromisso do presidente em exercício com a administração pública e a valorização de aspectos eminentemente ideológicos, em detrimento do conhecimento técnico e da seriedade que deveria estar presente em assunto tão caro, a Educação.

A promoção da percepção de que a corrupção é a grande causadora da desigualdade no país mascara o claro papel da política neoliberal como geradora de desigualdades. Atribuir à corrupção todas as mazelas parece não suscitar um raciocínio coerente com a realidade, uma vez que minora a possibilidade de questionar as falhas em curso. Assim, nem as contradições do sistema são resolvidas, nem mesmo os mecanismos geradores da corrupção são modificados.

Com o discurso de que a economia necessita estar “redonda” para que se dê início a reais melhorias nas políticas públicas, coloca-se claramente que a prioridade não são as pessoas, mas sim o mercado financeiro e a continuidade da exploração dos recursos de nossa terra para o abastecimento de outros países (o nosso fica em segundo plano).

Quando a corrupção política é considerada como principal motivo da desigualdade no país, inicia-se um direcionamento de forças que desconsidera que as bases do neoliberalismo estão calcadas na exploração do ser humano e da natureza e na supremacia do mercado financeiro em relação à vida como um todo. Se compreendido este fato, fica claro que as reiteradas vezes que a imprensa noticia determinado esquema de corrupção, nunca diz o papel das cidadãs e cidadãos frente àquela situação, muito menos os mecanismos pelos quais os brasileiros e brasileiras poderiam agir em busca da superação das contradições sociais. Nem mesmo os mecanismos de controle social são divulgados – pontos a menos para a democracia.

O fato de um economista estar à frente de tão importante ministério (talvez, o mais importante) corrobora as premissas contidas no Golpe de 2016 (golpe já assumido por Temer, quando disse que a Dilma caiu por não adotar o programa de seu partido “Ponte para o Futuro”) e no estudo encomendado pelo então presidente Michel Temer “Um ajuste justo: análise da eficiência e equidade do gasto público no Brasil” (que defende que a educação no Brasil deve conter princípios da iniciativa privada, como eficácia e eficiência, e funcionar melhor com muito menos recursos). Até porque um economista não se preocupará se está havendo um revisionismo nos materiais didáticos, com vistas a romper com o conhecimento científico e com o caráter histórico do conhecimento. Até pouco tempo atrás não era provável que um economista sem relação clara com a academia e com a educação estaria ocupando o posto de Ministro da Educação, hoje isso já é uma realidade.

Dado este cenário, a superficialidade parece dar o tom da inércia deste governo. Ledo engano, não há inércia, já que conquistas de décadas na área da educação estão sendo desmontadas em um processo muito mais ativo do que passivo. Estas ações decorrem do viés entreguista implantado e é agravada pelo método fugaz do atual presidente da república de usar as redes sociais para nomear ou exonerar ministros.

Um economista com as características apresentadas pelo atual Ministro da Educação ou um ministro com as características apresentadas pelo atual “economista” na educação prova que o caminho para não naturalizar as situações está cada vez mais distante, em especial no cenário meritocrático que foi enraizado em nossa sociedade e, consequentemente, na educação. Este fato faz com que o desenvolvimento da ciência dependa de um processo competitivo com cada vez menos recursos. Urge inserir nas políticas públicas em educação e na gestão do Ministério da Educação o que as pesquisas sérias em educação já mostram.

A glamourização do obscurantismo, o combate ao conhecimento e a criminalização da liberdade de cátedra está em voga. É isso que o novo ministro da educação representa, a continuidade do desmonte das conquistas no MEC.


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