É hora de falar sobre o gênero nas escolas

Durante os dias 24 e 25 de outubro aproximadamente 7 milhões de pessoas, de toda parte do Brasil, dedicaram o final de semana ao Exame Nacional do Ensino Médio. O que para muitos significa a oportunidade de ingressar em uma Universidade, concluir o Ensino Médio através da prova ou até mesmo um treinamento para metas futuras. 

Após o início da prova do dia 25, o Ministério da Educação e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira divulgaram o tema da redação: “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”. O assunto vinha gerando curiosidade e apostas em conversas cotidianas, além de chamar atenção dos professores que se dedicavam a “adivinhar” a temática para preparar ainda mais os estudantes, sejam em escolas ou nos famosos cursinhos. Ao ser divulgado o tema, diversas pessoas e coletivos de caráter feminista por todo o Brasil comemoraram. Afinal, no ano em que surgiram discussões polêmicas, poucas pessoas esperavam que uma questão que precisa ser discutida, mas em diversos momentos é deixada em segundo plano, seria o foco para a redação na prova.

É válido dizer que foi realmente uma bela surpresa! O mais interessante é o uso da palavra “persistência” no enunciado. Persistência, ação ou efeito de persistir. Ora, após diversas conquistas sociais, políticas, trabalhistas e individuais por parte das mulheres, por que uma sociedade em pleno século XXI PERSISTE em violentá-las? A resposta é imediata para muitas pessoas: machismo, desigualdade de gênero, desvalorização da mulher, entre outros fatores, que ainda insistem em permear a vida cotidiana de mulheres brasileiras. Mas sabemos que não são todos que têm a oportunidade de refletir sobre o assunto de modo aprofundado. Infelizmente, as práticas violentas contra as mulheres são naturalizadas, tanto pelas vítimas, quanto pelos agressores.

Se a sociedade brasileira insiste em agredir e violentar as mulheres, diversos mecanismos devem ser estruturados em prol de mudanças. Além disso, não devemos nos esquecer que a escola é um dos meios fundamentais para proporcionar transformações. É necessário compreender que é de extrema importância debater a desigualdade de gênero em sala de aula, a fim de promover a igualdade tanto dentro quando fora da escola.

As políticas públicas voltadas para a educação devem ser planejadas de forma que as escolas brasileiras estejam cada vez mais aptas a debater sobre gênero de forma recorrente. Desse modo, professores, pedagogos, estudantes de diversas áreas, integrantes de movimentos sociais e demais interessados devem lutar para que haja o debate sobre essa temática. Os alunos do ensino médio devem ter a oportunidade de problematizar sobre as violências que as mulheres brasileiras sofrem, para produzir mudanças dentro da escola, no ambiente familiar, entre amigos e no campo do trabalho.

O tema da redação do ENEM pode, portanto, ser observado como uma fagulha de esperança em meio a tantos retrocessos que insistem em ocorrer. Porém, não podemos permitir que essas discussões se percam nas dissertações dos estudantes, afinal, corre-se o risco de proporcionar apenas uma reflexão momentânea que produzirá poucos efeitos. É preciso que a sociedade PERSISTA em debater sobre questões de gênero nas escolas.

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