Direitos Humanos, uma experiência para além dos muros da escola

Eduardo José Machado Monteiro

Aquela imagem do menino Sírio, Alan, refugiado, que caíra de um barco, na areia da praia carregado pelas ondas do mar e acolhido por um policial, tão divulgada nas diversas mídias em 2015, foi o mote de uma aula para falarmos dos caminhos que nós, seres humanos, estávamos escolhendo para a vida, para o mundo.

A foto projetada causou impacto e os alunos se pronunciaram a respeito. Mas um deles provocou espanto na turma ao afirmar que aquele fato representado na foto não lhe causava surpresa, pois a história já lhe tinha apresentado várias situações aterrorizantes como aquela, em que nós, seres humanos, deixamos de lado o nosso próprio semelhante. Citou as Cruzadas, o holocausto, as diversas guerras, entre outras atrocidades resultantes de ações humanas.

Trabalhar a sensibilidade dos alunos para os Direitos Humanos tem se tornado um desafio para nós professores. Esse aluno, acima citado, possibilitou grandes reflexões entre os colegas. Ele trouxe um raciocínio diferente ao afirmar que não estávamos nos desumanizando, pois aquilo que víamos na foto era obra da humanidade, nenhuma outra espécie faz, com seus semelhantes, coisa igual, a não ser que seja em nome da sobrevivência. Causou polêmica e deixou vários colegas reflexivos e sem contra argumentos.

Trabalhando em escolas em que os alunos possuem uma condição financeira mais favorecida, torna-se cada vez mais necessário desenvolver a sensibilidade para os Direitos Humanos. Esses alunos, muitas vezes, não percebem a existência do ser humano de condições e realidades diversas a deles, a não ser apenas pela perspectiva teórica ou do ponto de vista da filantropia.

Sendo assim, possibilitamos a eles uma experiência além dos muros da escola, em um contato direto com outras realidades, inicialmente com os associados da ASMARE – Associação dos Catadores de Papel e em seguida um almoço no restaurante Popular de Belo Horizonte.

Para todos, foi uma experiência inédita. Conversar com os catadores de papel e dividir a mesa do restaurante popular com pessoas em condições sócio-econômicas desfavoráveis, deflagrou sentimento de tristeza, solidariedade, empatia e um questionamento a respeito dos direitos humanos.

Sensíveis à experiência vivenciada, conversamos sobre os sentimentos aflorados, as curiosidades, os incômodos, os problemas visíveis encontrados, os pré-conceitos estigmatizados e os aprendizados.  Nesse momento, manifestaram a tristeza por ver de perto uma realidade tão adversa e diferente da deles. Manifestaram a alegria de perceber, no depoimento das pessoas encontradas, que para ser feliz não é necessário ter muito. Manifestaram indignação com a realidade daquelas pessoas. Manifestaram uma ansiedade de querer ajudar de alguma forma.

Após a catarse de sentimentos e emoções, continuamos reunindo os alunos em grupos para que discutissem quais questões mais lhes chamaram a atenção para elaborarem um trabalho. O lixo e a desigualdade social foram os temas mais ressaltados e, a partir deles, desenvolvemos pesquisa e busca de solução dos problemas.

Em seguida, debates foram promovidos para se discutir os conhecimentos adquiridos e as sugestões de ação concreta para transformar a realidade presenciada. Os direitos humanos se fizeram presentes em diversos grupos e posições políticas e econômicas antagônicas polemizaram as discussões e sugestões de ações.

Finalizamos o processo com uma apresentação das pesquisas elaboradas e das propostas de solução para os problemas levantados a uma banca de professores.

Esse trabalho, com a experiência do contato direto com pessoas de outra realidade socioeconômica, com as pesquisas desenvolvidas, com os debates e suas discussões acirradas, com os conhecimentos construídos e com as propostas de solução sugeridas, transformaram pessoas, provocaram reflexões à própria escola e ao nosso fazer do ensino-aprendizagem.

Trazer a realidade da sociedade, que extrapola as condições de existência dos alunos, propiciou um processo de aprendizagem significativo em que eles se tornaram protagonistas da construção do conhecimento tendo os Direitos Humanos como pano de fundo para isso.

Direitos Humanos estão associados direta ou indiretamente a cada conteúdo trabalhado na escola, de que disciplina for, entretanto, abordá-lo a partir de um contato direto com a realidade estabelecida da nossa sociedade e em conjunto com as diversas disciplinas torna-o mais desafiante para os alunos.

Nessa jornada, descobrimos que, à luz da experiência da realidade, para muito além da teoria e da zona de conforto dos alunos, era possível levá-los a compreenderem que os direitos humanos são para todos os seres humanos e não somente para alguns.


*Eduardo José Machado Monteiro É Graduado em Ciências Sociais – FAFICH/UFMG, Professor de Sociologia para Ensino Médio em escolas particulares de Belo Horizonte. Autor de livro didático de Sociologia da Rede Pitágoras para Ensino Médio.

e.mail: eduardojmonteiro@yahoo.com.br

Imagem de destaque: Edilson Rodrigues/Agência Senado

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