Descartando a Oportunidade

Dalvit Greiner

 

As escolas municipais de Belo Horizonte estão em campanha para eleição de seus próximos dirigentes. Isso deveria significar a escolha de um projeto de escola, uma visão de mundo, um modo de vida coletiva que deveria, em princípio demonstrar a vitalidade da diversidade e da democracia para o melhoramento dos seres humanos. Não é o que vemos. E, o que é pior, por defeito genético, na origem das regras que regem o processo eleitoral em Belo Horizonte. O problema, a meu ver, reside no comando mal dado pela Secretaria Municipal de Educação.

Trabalhei tanto tempo em escolas sob intervenção que não atinei para o disparate de dar o direito de voto apenas para os estudantes maiores de dezesseis anos. Argumentos vários, da similaridade e legalidade à moralidade, tentarão sustentar essa ideia de que apenas maiores de dezesseis anos tem capacidade intelectual de decisão. Porém, parto do princípio que toda (isso mesmo, toda!) atividade dentro de uma escola tem que ser pedagógica. Para mim é um imperativo moral. O que significa uma intencionalidade do ato em conduzir alguém (em geral os mais novos) a uma situação que nós (em geral os mais velhos) acreditamos que é melhor.

Assim, a eleição de um dirigente escolar deve ser uma ação pedagógica que ponha um estudante numa situação real de decisão. Muitas escolas promovem entre os estudantes momentos de decisão desde os primeiros ciclos de formação. São exercícios que vão levar o estudante a pensar e amadurecer suas decisões coletivas, devendo coloca-lo em situações o mais reais possíveis para que o gesto democrático não promova o contrário: a deseducação para a Democracia, votando em coisas desimportantes. No momento mais importante de sua vida escolar que é a eleição do dirigente, o estudante é alijado do processo. Ele fica de fora olhando.

Vamos defender que todos votem? Claro que não. Não estou aqui fazendo apologia do voto para uma criança de seis anos de idade. Nem para aquele de treze. Estou aqui defendendo o voto para o adolescente de catorze/quinze anos, aqueles e aquelas do final do terceiro ciclo, em quem já se fez um trabalho grande sobre o assunto. Este um ano, entre o que defendo e o que foi legislado pela Secretaria de Educação, faz uma enorme diferença. Para o estudante do terceiro ciclo é o coroamento de um processo de aprendizagem, o fato de poder decidir de forma contundente sobre algo tão importante na vida da Comunidade Escolar. É também a entrada num exercício de cidadania extremamente importante, pois no ano seguinte, aos dezesseis anos ele poderá (e tomara que assim o queira) eleger o seu prefeito ou o seu presidente.

Além dessa questão pedagógica, o cerceamento do voto aos estudantes do terceiro ciclo provoca um desequilíbrio entre candidatos. Naquelas escolas que tem a modalidade Jovens e Adultos, os candidatos que de lá saem já carregam a preferência de um eleitorado cativo, adulto e pronto para enchê-lo de votos. Os que transitam no diurno acabam por tornar-se ilustres desconhecidos que chegaram agora pedindo voto.

Dessa forma, vimos descartando a grande oportunidade de educar nossos jovens para a Democracia quando, colocados diante de problemas reais, não lhes é dada a oportunidade de discutir e decidir que rumo tomar, coletivamente, na tentativa de intervir na sua pequena e diversa sociedade: a escola. Adianta discutir educação e escola com este adolescente se ele não pode votar? Que sentido faz? Fica aí uma dica para a Secretaria Municipal de Educação para o próximo pleito em 2020. Até lá, temos muito tempo para pensarmos uma forma de inclusão no exercício democrático daqueles mais afetados por nossas escolhas.

female wrestling http://www.otc-certified-store.com/respiratory-tract-medicine-usa.html www.zp-pdl.com https://zp-pdl.com/fast-and-easy-payday-loans-online.php

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *