Democracia e justiça social: a defesa de Anísio Teixeira registrada no livro Educação no Brasil

Virgínia Pereira da Silva de Ávila

Compartilho com os leitores do Pensar a Educação em Pauta, artigo que escrevi em 2007 sobre a presença dos ideais democráticos e de justiça social, defendidos por Anísio Teixeira na sua obra Educação no Brasil. A leitura de sua obra nunca se fez tão necessária.

O livro “Educação no Brasil” de Anísio Teixeira teve sua primeira edição em 1969 e a segunda em 1976. Composto de artigos, conferências, análises e debates sobre a reconstrução educacional brasileira, entre 1947 e 1967, aborda a educação formal no contexto cultural da sociedade brasileira, sua atuação como expressão de continuidade e desenvolvimento. As mudanças sociais ocorridas a partir da Primeira Guerra Mundial e que se acentuaram após a Segunda Guerra Mundial refletiram profundamente na educação, levando-a a um estado de crise. Neste estudo, procura-se analisar, interpretar e acompanhar o esforço de adaptação nacional às novas condições sociais do país e sua marcha à modernização e ao desenvolvimento.

A trajetória de Anísio Teixeira traz a marca e o compromisso de oferecer a todos, indistintamente, uma escola democrática e de qualidade; a escola pública como ação estabilizadora dos novos processos sociais, econômicos e políticos que emergiram nas primeiras décadas do século XX. Para a entrada do país na sociedade industrial e moderna, era preciso, antes, dotar os indivíduos de conhecimentos básicos para bem desfrutar a vida individual e social. Educar para a democracia e a educação como direito de todos percorreu a sua obra.

Anísio Spínola Teixeira nasceu em Caetité, sertão da Bahia, em 12 de julho de 1900. Estudou em colégios católicos jesuítas e bacharelou-se em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, em 1922. Obteve o título de Master of Arts pelo Teachers College da Columbia University, em 1929. Casou-se em 1932, teve quatro filhos. Faleceu na cidade do Rio de Janeiro em 1971.

Em 1932, tornou-se um dos signatários do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, um movimento que divulgava as diretrizes de um programa de reconstrução educacional para o país. Anísio Teixeira fazia parte, com outros nomes, de um grupo denominado renovadores da educação, também conhecido como movimento da escola nova, cuja missão era a construção nacional por intermédio da ação fundamental da escola.

A ideia da integração da população e da constituição de uma cultura comum, mediante universalização e democratização da educação, são os principais aspectos defendidos por Anísio Teixeira. Sua trajetória traz a marca do pensamento dos intelectuais desse período, no qual as preocupações se relacionavam à construção da nação brasileira, ao desenvolvimento industrial, à fé no método científico e na técnica, à democratização do país; preocupações que traduzem um cunho cultural e civilizatório. Seu lema: a educação como um direito de todos.

Seu alerta é bastante claro, a privação da educação torna impossível até a simples sobrevivência e, portanto, a qualidade cognitiva e social das experiências de conhecimento que são fundamentais para as vivências da esperança também serão inexequíveis. Para ele, a escola é uma instituição fundamental para garantir a estabilidade e a paz social e a própria sobrevivência da sociedade humana, uma instituição obrigatória e necessária, sem a qual não subsistirão as condições de vida social, ordenada e tranquila.

Anísio Teixeira se faz incansável no seu devotamento à democracia e à democracia para a educação. Fez parte de uma geração de intelectuais, cuja preocupação maior, na primeira metade do século XX, foi organizar a nação e introduzir no povo os aspectos relevantes da cultura e da instrução pública mediante reformas de ensino. Sua preocupação estava diretamente ligada aos ambientes de ensino, sendo fundamental um plano de edificações escolares que permitisse não apenas a ampliação do número de matrículas, mas que levasse em conta o projeto pedagógico e o bem-estar do aluno. Na reforma do Distrito Federal em 1931, esses aspectos são considerados de fundamental importância e criam um clima favorável nas instituições escolares.

A escola dotaria os indivíduos de conhecimentos básicos que os introduziria na sociedade industrial e moderna. Para tanto, era preciso democratizá-la, oferecer a todos as mesmas oportunidades de acesso e ascensão social. Seria rompido o ensino elitista para poucos e oferecido a todos conhecimentos fundamentais para viver em sociedade, experienciando possibilidades e sonhos. Dotar a escola pública de um ensino de qualidade era o grande objetivo de Anísio Teixeira. Para ele, as reformas de instrução pública tinham como finalidade a redistribuição da educação com um bem social. É nesse aspecto que sua contribuição se faz presente, tanto como intelectual como administrador público.

A atualidade de Anísio Teixeira reside no fato de que, passados 85 anos da publicação do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, ainda está por se construir no Brasil a escola idealizada por eles, com oportunidades de acesso e permanência, que priorize o desenvolvimento das capacidades e interesses individuais, que prepare e estimule a participação na vida social e política por intermédio do desenvolvimento de indivíduos com espírito para o bem comum, em que a reconstrução das condições sociais e escolares para alargar as chances educativas das crianças pertencentes às classes populares sejam, de fato, medidas concretas e projeto prioritário para os governos.

Texto completo:
http://editora.unoesc.edu.br/index.php/roteiro/issue/view/26/showToc

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