Das novas possibilidades de fazer escola – exclusivo

Dalvit Greiner

Ou, das novas possibilidades de fazer escolhas. Afinal de contas, fico me perguntando todos os dias se não é esta a nossa verdadeira vocação de professores/as. Colaborar – naquele sentido de laborar juntos, trabalhar com alguém e não em alguém – para que os mais novos tenham opções e façam suas escolhas com segurança e tranquilidade. Quando falo de fazer escola é atentar para o fato de que precisamos ofertar algo novo dentro dessa novidade de duzentos anos. Integrar a escola à comunidade, creio, é uma delas.

Hoje gostaria de falar de uma dessas novas possibilidades de fazer escolas e escolhas. No último dia do mês estive no Parque Ecológico Lagoa do Nado para o 7⁰ Festival das Escolas Integradas da Regional Venda Nova. É um momento em que as Escolas Municipais, através do Programa Escola Integrada, se reúnem para festejar os estudantes, o programa, a escola. Fui convidado e é uma pena que não foi um convite divulgado pelas escolas a todos da Comunidade. A plateia estava cheia com os estudantes, porém a Prefeitura de Belo Horizonte ainda não viabilizou a ida dos pais, obviamente aqueles disponíveis. Além da beleza do parque, a plasticidade das apresentações da gurizada. De encher os olhos. Essa nova possibilidade de fazer escola é a possibilidade que se dá à criança de fazer outras escolhas, de fazer vir à tona outras possibilidades de vida naqueles pequenos seres humanos.

Numa conversa que tivemos com o professor Jailson de Souza e Silva, da Faculdade de Educação da UFF e do Observatório das Favelas sediado na Favela da Maré, RJ concordei prontamente com sua observação: não é a escola, nem o esporte, nem a cultura que tiram a criança ou o adolescente do tráfico. Ele sairá se quiser. É uma decisão pessoal e intransferível. Aparentemente é uma fala desoladora: então não adianta fazermos nada? Pelo contrário: é hora de estarmos prontos para acolher tanto aquele que não quis ir quanto aquele que quer sair. É hora de criarmos e ofertarmos possibilidades para esta criança ou adolescente. É nesse sentido que educação, cultura, esporte e lazer são direitos inalienáveis da criança e não mecanismos de contenção do tráfico, da prostituição ou da bandidagem. É por isso que temos que fortalecer essas ações e lutar cotidianamente pela sua permanência como Política de Estado e não como política de governo. É nessa garantia do direito que se abrem as possibilidades de escolha.

O 7⁰ Festival das Escolas Integradas teve, nesse ano, uma novidade que me maravilhou. Não se abandonou aqueles heróis negros do passado, nem a capoeira como trilha sonora já bastante cultuados em nossas escolas. Porém priorizou-se gente que está aqui, no meio da gente, respirando esse ar belorizontino com todos os seus problemas e suas belezas. Vi ali uma intenção de mostrar como se constroem elos com nosso passado. Até então, ficávamos presos num passado distante de Zumbi dos Palmares ou de Chica da Silva, de Machado de Assis ou de Luiz da Gama, heroicizados e quase mitificados que, de certo modo, distanciava no tempo as lutas dos povos africanos escravizados no Brasil. Uma intenção de mostrar às crianças e adolescentes que a luta é permanente. De fazê-las perceber que quem sustentou a memória daqueles heróis do passado ainda está no meio de nós fazendo da luta o seu cotidiano. O seu ganha-pão. Cada um com sua voz, seu talento, sua alegria, sua negritude. Vivos.

A pesquisa dos estudantes se revelou na alegria de conhecer pessoas muito vivas. Na construção de visuais que mostrassem para os demais o seu homenageado. Na condução dos arte-educadores (que a prefeitura insiste em chamar de monitores) da disciplina criativa das crianças. Assim, desfilaram por lá Grande Otelo, Diva Moreira, Madu Costa, Doris do Samba, Jorge Luiz dos Anjos, Jussara Santos, Vander Lee, Luciana (jogadora de futebol feminino), Milton Nascimento, Chico Rei, Gil Amâncio, João Bosco “Mestre João”, Meninas de Sinhá, Ronaldo Coisa Nossa, Nilma Lino, Evandro Passos, Conceição Evaristo, Mamour Bá, Aleijadinho, Teatro Negro e Atitude, Mestre Conga, Dokktor Bhu, Babilak Báh, Flávio Renegado, Dora Alves, Tizumba, Clara Nunes, Hudson Ice Band e Ricardo Aleixo.

Pois é nesse desfile de gente viva que se pode tocar, para quem se pode sorrir, com quem se pode conversar e ouvir histórias de vida muito parecidas com as nossas que reside a esperança de outras escolhas. Ser herói é muito difícil: “só quem tentou sabe como dói”. A grande mídia não vê esses autores de luta e de vida. Então, é papel da escola trazê-los para esse novo público. Dá-los a conhecer para que essa nova geração não os desconheça, mas os saboreie-os e os homenageiem enquanto é possível abraçá-los. Em vida. É este o trabalho da Coordenação Regional do Programa Escola Integrada – PEI e dos vários professores e professoras Coordenadoras do programa no interior das escolas em Belo Horizonte. É assim que nossas crianças perceberão que elas têm Escola e escolhas.

P.S.: É necessário lembrar, também, o belo presente ofertado à Educação de Jovens e Adultos da EM “Josefina Souza Lima”, na Regional Norte, pelos meninos da Escola Integrada sob o comando do arte-educador Negro Dê, por meio de um emocionante Sarau de poesias, no dia 29.06.2016. Parabéns a todos aqueles que provocam essas possibilidades.

 

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