Cuidar-se

Dalvit Greiner

Nossas vidas biológicas – que não são separadas de nossas vidas sociais – sempre foram reguladas pelos vírus, bactérias e outros bichos, não bichos, grandes, pequenos, etc. Ao nosso lado, dentro e fora temos a nossa fauna e a nossa flora. Somos parte de tudo isso. O problema do nosso tempo é a rapidez com que um vírus circula. Antes, qualquer bichinho estranho tinha que vir de navio. Com isso, tinha tempo para diagnosticar, colocar todo o navio de quarentena e prevenir um pouco ou alguma coisa. Hoje não: qualquer vírus viaja de avião. E, com tamanha rapidez, devemos pensar e repensar o que devemos fazer para nos manter vivos.

E qual deve ser o papel da escola, seja ela de qualquer grau, nesse repensar. Primeiro, dizer para as crianças da nossa fragilidade. Não somos esses seres tão fortes quanto parecemos ser. Zenon já dizia, lá na Idade Média europeia: tape três buracos e o homem morre. Ou seja, não temos reserva de gás. É nesse lugar que o vírus gosta de ficar, na maioria dos casos. Tudo é síndrome respiratória. Devemos ensinar nossos estudantes que a boca e as narinas são a principal porta de entrada para coisas boas, para coisas ruins. Por isso, devemos aprender a cuidar muito mais da boca e do nariz, mas também de nossas mãos que conduzem coisas boas e coisas ruins.

Devemos ensinar, exageradamente, o cuidado de si. Tornar uma obsessão a nossa limpeza diária do corpo: é preciso dar um novo valor ao corpo. Se já é fonte de prazer é preciso aumentar esse cuidado para ter muito mais prazer. Se não, é preciso torná-lo fonte de prazer e assim aumenta a responsabilidade sobre o corpo, numa perspectiva física e emocional. Novas e velhas práticas de higiene devem ser ensinadas e repetidas à exaustão pela escola. Da chegada à saída do turno escolar, deve-se ensinar a observar os colegas. Deve-se ensinar a observar a si mesmo num gesto de responsabilidade coletiva. Deve-se ensinar a observar e cuidar muito mais do ambiente. Não devemos deixar a responsabilidade desse ensinar para os pais afirmando que faz parte da educação doméstica: estamos falando de saúde pública e, portanto, a iniciativa desse cuidado deve ser pública. A escola deve também ensinar as famílias seja a distância, seja em pequenos contatos diretos para mostrar aos estudantes que é um cuidado coletivo, de todos para todos.

Nesse cuidar-se é preciso incluir a necessidade de uma mudança na alimentação. Ensinar nossos estudantes a cuidar da sua alimentação. Não apenas do valor dos nutrientes, mas do valor da limpeza dos alimentos, desde a produção até o consumo. Ensinar a cuidar intensivamente de tudo aquilo que está em torno da alimentação. O cuidado com a casa, o ambiente em que ficamos a maior parte de nossas vidas. Aprender a separar a casa da rua, não moralmente que é o que muito se faz, mas materialmente de forma a reduzir ao máximo essa entrada de germes, bactérias e vírus. Nossa primeira barreira sanitária deve ser o tapete de “benvindo”. Devemos aprender a deixar lá fora e limpar tudo aquilo que vai entrar em nossa casa.

Diferente da dengue e outras doenças que nos trazem os insetos, esse vírus nos traz a solidão. Quando não cuidamos de nossas casas – e a tornamos num criadouro de aedes – estamos próximos do risco. Nessa pandemia, nosso maior choque é que tivemos que nos apartar das pessoas, não abraçá-las, não tocá-las. Ficar de longe. Essa deve a nossa postura a partir de agora? Sim e não. Devemos aprender a nos cuidar e cuidar do outro. Qualquer sinal em nós ou no outro deve ser anunciado, não denunciado, e redobrar nossos cuidados.

Casa, água, comida. Materiais de limpeza, comida, trabalho, etc. E aqui entra a nossa maior luta. Várias pessoas não tem casa: incia-se a nossa luta para que tenham. Várias pessoas não tem dinheiro para os materiais de limpeza: incia-se a nossa luta para que tenham. Várias pessoas não tem água: incia-se a nossa luta para que tenham. Para muitos, essa luta é uma continuidade, para aqueles que ainda não aprenderam que ela é contínua deve ser ensinada, pois se o meu colega de sala de aula não tiver o mínimo, não poderá se cuidar. Não podendo se cuidando, a tendência do poder público é isolar.

Nossa luta pelo cuidado é uma luta política. Mais do que uma luta sanitária, individual e isolada ela é uma luta política, coletiva: política habitacional, de alimentação, de saúde, de transporte, de educação, de trabalho. Para toda a cidade. É isso que precisamos ensinar: o cuidar-se é um ato político que deve ser de todos para todos.


Imagem de destaque: @unitednations / Unsplash

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