Concepções de gestão escolar e as consequências no processo de ensino-aprendizagem – exclusivo

Tiago Tristão Artero

A gestão escolar é influenciada por fatores diversos constituídos no decorrer das relações estabelecidas na humanidade. Conhecê-la é um desafio aos gestores e também aos educadores, na perspectiva de situar-se nesse processo. Nesse sentido, é imprescindível entender os aspectos da formação de alunos plenos, integrais, nos ambientes escolares.

Este meio é gerido com concepções a respeito do ser humano, quer exista consciência disto ou não. Embora haja meios de gestão que considerem o ser humano em sua totalidade, ajustando as práticas e currículos a essa perspectiva, historicamente existe uma fragmentação na concepção de ser humano, dicotomizado e assim tratado nas instituições as quais participa, em evidência, nas instituições escolares. Logo, considerar as influências das escolas no trato de seres humanos integrais proporcionará a formação de futuros cidadãos conscientes de sua totalidade, seja biológica, social, psicológica, entre outras possibilidades de entendimento. A constituição do sujeito enquanto ativo na sociedade, quando considerada sua integralidade na formação escolar, influenciará as gerações vindouras.

Buscando entender algumas possíveis classificações que possibilitem a compreensão dos aspectos que limitam ou expandem o conceito de ser humano, enquanto aluno, citaremos algumas abordagens que tratam da organização escolar, explicitadas por Libâneo, sejam as sociocríticas e a tecnicocientífica. A tecnicocientífica demonstrará diferenças significativas quando comparada à sociocrítica. A visão burocrática da tecnicocientífica, com decisões de cima para baixo, controlada em seus objetivos de eficiência, hierarquizada em sua estrutura, possui um baixo grau de participação das pessoas e dos planos de ação. Assim, não há um vínculo ativo que considere a manifestação dos envolvidos no processo educacional. É gerida como uma empresa, com funções definidas e com pouco espaço de readequação dos objetivos, buscando o tecnicismo em detrimento da flexibilidade necessária ao ambiente escolar para manutenção de um ambiente participativo, correndo o risco de perder-se no processo de não abertura às reais necessidades docentes e dicentes presentes no ambiente educativo.

Em contraponto, a concepção sociocrítica traz como características ser um sistema que valoriza as interações sociais e o contexto sócio-político democrático – ao possibilitar aos membros do grupo escolar discutir e deliberar colaborativamente. Logo, é uma construção social coletivamente definida e aberta a contribuições. A gestão sociocrítica, possui uma característica fundamental, a descentralização.

Direcionando nossa atenção para a formação dos indivíduos, enxergamos na gestão sociocrítica as variadas possibilidades de ampliarmos nossa visão para a existência de uma prática educacional que valorize a formação do ser humano integral.

Pensar a origem da violência é um desafio, pois não podemos nos apegar a justificativas simplistas que culpam a família ou o professor. É válido ampliar nossa visão para uma análise de sistema. Imaginando uma agressão física entre alunos, de aluno para professor ou de professor para aluno, notadamente percebemos o uso da força, mas, segundo Marília Pontes Sposito a violência rompe um nexo social pelo uso da força. Ora, como a autora também cita que a consequência do uso dessa força é a negação da relação social, esta negação em si, pode ser configurada como um tipo de violência, já que priva os indivíduos da comunicação, da palavra, do diálogo e do próprio conflito.

Sendo, segundo Vigotski, o meio social determinante para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores que irão dar suporte para o aprendizado escolar ou extraescolar, entendemos a relevância de estudarmos esse meio social, entendermos como se darão as relações entre os indivíduos, quais conteúdos estarão contidos nesta interação e de que forma tudo isso influenciará o indivíduo em sua formação e desenvolvimento.

Logo, relacionar as possibilidades de gestão – vinculadas ao olhares de concepção das instituições e do ser humano de cada uma – com a aprendizagem e o desenvolvimento do sujeito social, orgânico, corporal, emocional, psicológico, entre outras percepções de indivíduo, é condição essencial para aventarmos os direcionamentos e limitações presentes nos sistemas de gestão no âmbito educacional.

Os processos que cada estabelecimento passa varia de acordo com as ações existentes em determinado sistema, sujeito a mudanças, podendo ser a origem da violência. Abramovay critica o ambiente escolar, na perspectiva da violência, enumerando fatores que concorrem para isto, entre eles, a gestão das escolas, com suas estruturas deficientes, marginalização e tensões internas. Preciso, se torna, ampliar a base de conhecimento de gestão, compreendendo as questões citadas para considerar os alunos em perspectivas mais amplas.

O princípio cartesiano, em que o corpo, fragmentado em sua essência, corpo-máquina, entendido e tratado pela medicina, valorizado por sua materialidade, não ajuda nos processos de gestão em que a aprendizagem voltada ao indivíduo pleno será viabilizada.

As conduções que o processo de gestão provoca nas mediações existentes, devem ser analisadas desde a elaboração do projeto político da escola, até a repercussão desse projeto no trato com o aluno e na relação docente/dicente. Como nota Vaz (2002, p.95), observar a arquitetura da escola, o planejamento dos espaços de deslocamento, as regras e proibições, até mesmo a dinâmica dos castigos, são aspectos importantes, pois muitos deles vem da concepção de ser humano e estão relacionados às privações corporais. Assim, mais uma vez nos deparamos com as limitações e possibilidades advindos do olhar de ser humano integral ou fragmentado, incrustado nas práticas e políticas adotadas.

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