Como, enfim, me aproximei dos alunos. Ou como vencer a lógica da substituição

Raquel Melilo

Renata Fernandes

Minha experiência com ensino remoto me aproximou dos meus alunos. E tentei entender isso refletindo sobre as transformações sociais impulsionadas pela revolução (constante) dos meios de comunicação.

Mas… Como analisar as transformações sociais impulsionadas pelas novas tecnologias da informação e da comunicação e escapar de clichês? Eu podia começar esse texto com “estamos numa era em que cada vez mais é necessário dominar os recursos digitais” ou “vivemos num mundo cercado de novas tecnologias e precisamos nos reinventar”. O problema é que se eu ancorar minha análise nesses clichês o leitor mais atento vai desistir da reflexão ou achar que estou oferecendo um curso, Live ou Webnar (ou isso tudo).

Eu também pensei em descrever as transformações sociais da “era digital” à luz do pensamento de Milton Santos e resgatar tudo o que aprendi sobre a Revolução Técnico-Científica-Informacional. Mas eu estou, como professora, no centro do processo que quero analisar. E só consigo refletir sobre ele examinando minhas experiências pessoais. Daí, vou ter que fugir de alguns academicismos para responder:

 “Em que medida o comportamento e hábitos das novas gerações, os nativos digitais, afeta e afetará as relações sociais hoje e amanhã?”  “O ensino remoto substitui o ensino presencial?”

Primeiro, gostaria de demarcar que não concordo com o termo “nativos digitais”. Coloquei por pura provocação. O termo carrega uma falsa ideia de que as novas gerações dominam os recursos e ferramentas digitais. Para ser bem genérica, podemos dizer que eles dominam os signos que os conectam a grupos sociais aos quais eles se identificam. Isso inclui redes sociais, aplicativos de baixar e ouvir músicas, edição de vídeos e imagens… E exclui todo o resto (como a capacidade de criar um aplicativo ou dominar a linguagem de programação, por exemplo). Além, é claro, da distância entre jovens ricos e pobres.

No que tange as relações sociais, mediadas por redes digitais, parece óbvia a constatação de que são essas relações superficiais. Mas isso é só mais um clichê. A superficialidade, em alguma medida, sempre esteve presente nas relações sociais públicas. A questão é mais emblemática que a “superficialidade” das relações humanas, já que os modelos de organização social modernos, sobretudo pós Revolução Industrial, nunca estimularam um aprofundamento das relações entre indivíduos. Muito pelo contrário, a criação dos Estados Nacionais Modernos rompeu o vínculo que as pessoas tinham com a comunidade para forjar um sentimento nacionalista. A partir daí, assumimos institucionalmente uma superficialidade nas relações sociais.

Não é a pretensa superficialidade que me incomoda. O que me espanta hoje é o fato de que toda uma gama de vivências coletivas, como a participação política, se reduza ao plano de uma escolha privada (o sujeito escolhe gostar ou não de política, por exemplo, e sua participação se define em função desta escolha). E o que era do nível do privado se torna público. Nunca compartilhamos tanto com estranhos o que fazemos e sentimos.  Cientistas sociais já se debruçam sobre este fato ao tentar entender os efeitos que isto pode trazer para nossa sociabilidade. Rafael Pavan e Marina Beccari, em estudo sobre conceitos e novas formas de socialização, concluem que estas novas formas não são virtuais, apesar de ocorrerem no ciberespaço. Segundo eles “o ciberespaço aflora uma nova forma de sociabilidade, diferente da forma tradicional que se dava através da presença física, mas ressurge uma interação virtual onde há vontades, emoções e sentimentos, posto que do outro lado da rede existem pessoas reais”.

Ou seja, a socialização das novas gerações é real, embora os signos que a rege sejam diferentes e mais complexos. E eu não conseguia entender isso. Até me conectar com meus alunos digitalmente. Descobri formas de expressão das emoções e pensamentos que eram totalmente ocultos pra mim. Inclusive, de alunos que não se manifestavam presencialmente. Eu, que sempre achei que nada substituiria o contato físico com meu aluno, descobri outra linguagem para me comunicar com ele. Ainda acho que nada substitui o ensino presencial e minha leitura humana de olhares e expressões corporais.  Mas eu não estou falando em substituição, estou falando de ampliação.


Imagem de destaque: Nick Morrison / Unsplash

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