Classificar e desclassificar: o legado da perpetuação do vestibular

Marcos Rogério dos Santos

Data de 1911 a criação do vestibular no Brasil. Mesmo tendo se passado mais de um século, o exame continua existindo, assim como a justificativa que levou à sua criação, ou seja, a falta de vagas para todos nas instituições de ensino superior. A lacuna que historicamente deveria ter sido corrigida com políticas educacionais voltadas à ampliação do número de vagas nas universidades perdeu espaço para a meritocracia escolar. Assim, o vestibulun se tornou a forma de selecionar os mais aptos, os candidatos que conseguiam transformar privilégios socialmente condicionados em mérito, dons e talentos individuais.

Ao retomar a historicidade do arcabouço das instituições públicas de ensino é possível perceber que diversamente dos demais países da América Latina, o advento da educação superior no contexto brasileiro ocorreu tardiamente. Nada muito diferente do processo de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI). Se num primeiro momento a criação das universidades públicas surgiu para atender, principalmente, à juventude mais abastada, posteriormente, o legado de mudanças veio respaldado pela ampliação do número de vagas e pelas políticas de ações afirmativas, mas sem conseguir atender toda a demanda.

Nota-se que as mudanças mais contemporâneas contribuíram para a inclusão de parcelas da população que antes ficavam à margem das instituições de ensino superior, mas o processo de inclusão continuou sendo respaldado por exames classificatórios e referendado pelo mérito. Cabe ressaltar que o modelo tradicional de vestibular no Brasil é único no mundo. Em outras paragens, o acesso às universidades mais prestigiadas é feito sem processo seletivo ou por meio de um conjunto de avaliações que leva em conta, dentre outras coisas, a participação dos candidatos em atividades sociais.

Como se não bastasse o legado histórico de naturalização e perpetuação do exame classificatório, nos últimos tempos tem sido comum ver escolas públicas de Ensino Médio se auto intitulando escolas preparatórias para o vestibular. A iniciativa desponta com uma das principais formas de dar identidade a um ciclo de ensino que historicamente ficou à margem das políticas públicas de educação. Não por acaso, o Ensino Médio se constituiu no gargalo da educação no Brasil. Os altos índices de evasão, repetências e distorção idade-série são indicativos que revelam um modelo de escola pouco atrativo.

Em suma, nota-se que não tem sido levado em conta que as escolas preparatórias tornam o ensino ainda mais formal, acadêmico e com a necessidade de decorar e repetir certos conteúdos, proposta que não leva em conta os interesses dos estudantes que querem trilhar outros caminhos que não seja o vestibular.


Imagem de destaque: Pessoas conferem a lista de aprovação no vestibular da Uepa. 2015. Foto: Cláudio Santos/ AG. PARÁ otc-certified-store.com https://zp-pdl.com/emergency-payday-loans.php https://zp-pdl.com https://zp-pdl.com

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