Ciência e Tecnologia nas eleições: silêncio comprometedor

Ciência e Tecnologia nas eleições: silêncio comprometedor

Ciência, tecnologia e inovação são termos ausentes nas campanhas e nos debates que antecedem as eleições de 3 de outubro. Apesar da centralidade desses temas para os projetos e para as políticas de desenvolvimento social e econômico de qualquer país na contemporaneidade, os candidatos não os colocam no centro de suas preocupações quando buscam dialogar com o eleitor ou definir os aspectos centrais de suas plataformas.

As campanhas, na verdade, não conseguem ultrapassar os chavões e apresentar ao eleitor o modo como os candidatos pretendem, de fato, enfrentar os grandes problemas vividos pela população. Mesmo os temas que mobilizam amplamente as campanhas, como educação, saúde, segurança e transporte, não logram ultrapassar as palavras de ordem, dando ao eleitor, no mais das vezes, a sensação de estar sempre e sempre ouvindo mais do mesmo.

O caso da ciência, da tecnologia e da inovação é ainda pior. Apesar de ser amplamente reconhecido que no mundo contemporâneo é impossível falar de desenvolvimento econômico e social sustentável sem o concurso da C&TI, o tema nem aparece nos discursos de campanha. Essa ausência é, em todos os sentidos, preocupante.

Amparadas nas estratégias do marketing político, as campanhas tendem a apresentar (e vender) aos eleitores aquilo que, supostamente, eles já estão dispostos a aderir (ou a comprar). Assim, os temas ad nauseam apresentados e debatidos são sempre os mesmos. A espetacularização da política compromete a própria política, inclusive das chamadas políticas públicas.

Mas a responsabilidade pela ausência da ciência, da tecnologia e da inovação das campanhas e dos debates não é apenas dos profissionais da política, sejam eles os candidatos ou os marqueteiros. Também os profissionais da imprensa que cobrem as eleições não conseguem deslocar o olhar dos temas eleitos pelas campanhas e resgatar outros que, apesar de relevantes socialmente, permanecem obscuros ou que não mereceram a atenção dos candidatos.

As instituições científicas, amplamente preocupadas com o funcionamento e regramento do sistema de ciência, tecnologia e inovação, não conseguem reunir força política para trazer o tema para o centro do debate. Do mesmo modo, ensimesmados em seus laboratórios e em suas pesquisas, os pesquisadores não conseguem estabelecer no espaço e nos debates públicos a relevância atual da ciência, da tecnologia e da inovação.

Com isso, perdemos todos nós: o eleitor, que vota sem saber as posições dos candidatos sobre um tema de grande importância e centralidade em sua vida cotidiana; as instituições do sistema de ciência e tecnologia, que se veem não poucas vezes sob a ameaça de visões obscurantistas ou retrógradas do desenvolvimento científico e tecnológico; e, finalmente, os próprios cientistas que veem aumentar a perda da legitimidade sociocultural da comunidade científica e, no limite, da própria ciência.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *