Catástrofe no Brasil: uma análise do Manifesto dos ex-ministros de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação voltada à continuidade da vida na Terra

Tiago Tristão Artero

A automatização do trabalho humano, com o uso de robôs, anunciam a chegada de um novo tempo: o tempo da violência e do colapso da economia. As atividades rotineiras e previsíveis estão com os dias contados e o desemprego será em massa. É importante refletir que isso é um sintoma da sociedade que tem o capital como base de suas relações. A prostituição do trabalho fica evidente, em especial, quando notamos a uniformização de costumes que o capitalismo propõe. Investimento em ciência e tecnologia, sem a devida intersecção com a área de humanas fornece um cenário bizarro, aquele que os filmes mais futuristas revelam nas tragédias apresentadas.

O manifesto dos ex-ministros, são 10, diga-se de passagem, fornece uma reflexão sobre um cenário ainda pior: não seremos o país que produzirá tecnologia, mas aquele que terá suas trabalhadoras e trabalhadores substituídos por ela, comprometendo a soberania nacional, o desenvolvimento social e econômico.

O cenário caótico fornece uma oportunidade de repensarmos a sociedade, como um todo. É esse sistema social e econômico que queremos? A arte desenha, com suas obras, as projeções que advirão. A série 3% retrata bem a diferença do “Maralto” e do “Continente”, onde, em uma sociedade automatizada, um grupo abastece o outro, com clara diferenciação entre classes de indivíduos, a partir de uma falsa meritocracia (que gera a violência e a potencializa a hipocrisia).

Os ministros (todos homens, diga-se de passagem, mas esta é uma discussão para uma outra oportunidade) advogam que os cortes orçamentários retrocederão a posição do Brasil como produtor de conhecimento (atualmente, 13º maior produtor em revistas científicas indexadas). Fazem, muitos alertas, dentre eles:

– as nações desenvolvidas são aquelas nas quais a Ciência e Tecnologia possuem capacidade aprimorada de inovação, são soberanas e altivas e, do outro lado, outras dependentes e inseguras (estamos caminhando para isso);

– nas últimas décadas, um Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação constituiu-se como o principal passaporte para a sociedade do conhecimento;

– os ex-ministros deram exemplos, como tecnologias de ponta mais avançadas do mundo em exploração de petróleo em águas profundas, pesquisas voltadas para a alta produção agrícola, construção de acelerador de partículas de, enriquecimento de urânio, construção de um reator multipropósito para produção de radioisótopos para a Medicina, manejo ambiental para prevenção de desastres naturais para a preservação da Amazônia, produção de vacinas nas universidades públicas, construção de aviões, dentre outras conquistas que solidificaram a importância das universidades, institutos federais e o fortalecimento de empresas (dentre elas, “startups” tecnológicas);

– fortalecimento de grupos de pesquisa;

– consenso, nos governos anteriores, sobre a relevância do desenvolvimento científico e tecnológico;

– entendimento de que uma base econômica sólida necessita de um processo endógeno e dinâmico de geração de conhecimento e inovação, concomitantemente à expansão das universidades públicas e institutos federais.

– o funcionamento do Sistema Nacional de CTI necessita das bolsas de pós-graduação do CNPq e da Capes, da Finep, a Embrapii e fundos de financiamento que compõem o FNDCT (contingenciados neste governo atual)

– importância das ciências sociais e humanas, do desenvolvimento de novas tecnologias e de políticas socioeconômicas, que confiram o um crescimento mais inclusivo, sustentável e inteligente.

– que “vivemos hoje a maior das provações da nossa história”;

– que as autoridades do governo negam evidências científicas na definição de políticas públicas.

– os investimentos em CT&I é virtuoso e estratégico;

– a desqualificação das instituições públicas (produtoras de mais de 90% da pesquisa brasileira) e a privatização de empresas são equívocos prejudicam a sociedade brasileira.

– precisamos ser uma nação sustentada pelo conhecimento e não há tempo para estagnação.

– (finalizam, dizendo que) esse é um chamado para que “a sociedade brasileira se comprometa e se mobilize na defesa da Ciência, do Conhecimento e da Tecnologia, patrimônios de uma Nação”.

Esse manifesto foi realizado no Rio de Janeiro e datado em 1º de julho de 2019, com os ex-ministros de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação Aldo Rebelo, Aloízio Mercadante, Celso Pansera, Clélio Campolina, José Goldemberg, Luiz Carlos Bresser-Pereira, Marco Antonio Raupp, Roberto Amaral, Ronaldo Sardenberg e Sérgio Machado Rezende.

Se o desemprego em massa e o subdesenvolvimento parecem ser um horizonte para o qual estamos caminhando, a reflexão sobre o tipo de sociedade e de governo que queremos se faz ainda mais premente. Em tempos que vemos nossa liberdade de cátedra e de exposição do pensamento ameaçados, e notamos o risco de estarmo sujeitos a intensificação dos mecanismos de prostituição do trabalho, torna-se evidente o fato de que novas relações humanas são necessárias… e isso só será possível com um debate franco, no qual as áreas tecnológica e humanas estejam integradas, para que nossos esforços não se mirem na ciência bélica, pelo contrário, na humanização dos seres viventes; para que os sujeitos não queiram mais a exploração do petróleo, mas o desenvolvimento de tecnologias respeitosas dos direitos da natureza; para que as novas gerações clamem pelo direito de consumirem produtos que, desde o início, tenham seus processos garantidores da continuidade da vida na Terra. Se assim não for, seremos somente egoístas que estão privando as gerações futuras de terem acesso aos recursos e vidas que estamos violentando neste exato momento.


Imagem de destaque: Camila Souza/GOVBA

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