Brasilidade, festas populares e saberes escolares: uma interseção necessária a partir da Lenda Urbana da Maria Papuda

Vagner Luciano de Andrade
Lídia Costa*

 

Os festejos, mais que simbólicos, portanto intencionais, no âmbito da rica e diversa cultura popular, expressam múltiplos conteúdos cada vez mais diretos e expressivos. O presente texto busca brevemente relacionar festas populares e saberes escolares enquanto uma interseção mais que necessária, portanto emergencial. Tal escolha se deve ao fato da data do Carnaval ocorrido em fevereiro desde ano ter sido um fato marcante na história brasileira. Escolas carnavalescas trouxeram para o sambódromo questões relevantes relacionadas à atual conjuntura politica, com importantes recortes históricos. Diante das crises recentes que expõem o Brasil no âmbito mundial, o povo brasileiro se viu representado pelas alegorias do desfile que denunciavam fatos gritantes relacionados à escravidão contemporânea, sucateamento do poder público, corrupção e criminalidade, negligenciamento de diretos e anulação de conquistas civis.

Assim, o recente desfile nos mostrou veementemente que as festas populares vão muito além do que simples arranjos coloridos e alegorias simbólicas. O carnaval brasileiro é uma das muitas expressões desta riqueza popular que se comunica e se materializa no tempo e no espaço. As escolas de samba, campeãs de 2018 no carnaval carioca demonstraram que as festividades são veículos comunicadores de seu tempo, e de seu espaço, consolidando experiências e demandas dos diferentes sujeitos e atores que compõem a coletividade. Festejar vai além do simples “comemorar”. Expressando religiosidade, política e projeto de sociedade proponho questionamentos e reflexões possíveis de serem apreendidos, introjetados, repensados e ressignificados. Assim, no âmbito do contexto escolar, tradicionalmente voltado para as disciplinas de Português e Matemática, novos saberes a partir da cultura popular são apresentados e elencados a discentes e docentes propondo novos caminhos e interseções pelas áreas de História, Filosofia e Sociologia. É um contexto interdisciplinar de aproximação e reaproximação que se impõe como desafio a milhares de educadores e educadoras de todo país.

Foto: Cris Dias/Sputnik

A cidade de Belo Horizonte apresenta em seu contexto cultural algumas lendas urbanas, em especial, a Maria Papuda, a Loira do Bonfim e o capeta da Vilarinho. A lenda da Maria Papuda, por sua vez, narra a transferência da capital de Ouro Preto para a região do Curral Del Rey, com permanências e rupturas. Entender sua contextualização é compreender a mudança de uma paisagem cultural rural para outra urbana, no âmbito da Proclamação da República e seus ensejos modernistas. Maria Papuda representa o imaginário social e sua riqueza enquanto patrimônio imaterial. Conhecedora de saberes etnobotânicos, das tradições camponesas e dotada de espiritualidade, Maria Papuda eterniza-se como ícone do resguardo da memória coletiva quando esta se vê ameaçada de desaparição imediata. O antigo arraial de Nossa Senhora da Boa Viagem do Curral del Rey deixou de existir para se construir a nova capital entre 1894 e 1897. Os moradores destas paragens também foram expulsos, e expropriados de suas paisagens de referência. A cidade dos funcionários estaduais nasce polêmica e perturbadora. A Praça da Liberdade, onde morava Maria Papuda é a consolidação deste conflito histórico. Atualmente, não abriga mais o Executivo Estadual, tendo se transformado num centro sociocultural de grandiosidade para a capital e para o Estado. Neste contexto, os equipamentos públicos disponibilizados à coletividade, são significativos quanto à sua historicidade e perspectivas. É preciso discutir junto à coletividade sua  requalificação urbana no sentido de se potencializar ainda mais a visitação pedagógica e apropriação cultural por parte de turistas e moradores.

 

Maria Papuda e seu casebre. Fonte desconhecida.

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Lendas urbanas e não-urbanas: Maria Papuda

* Lídia Costa é licenciada em Letras/LIBRAS pela FAAT –Faculdade Atual, licenciada em Letras/Inglês pela Unimontes  e licenciada em Educação do campo, com habilitação em Ciências Sociais e Humanidades pela FaE/UFMG.

Foto de destaque: @rawpixel via Unsplash

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