Balbúrdia ou Barbárie!

Editorial do Jornal Pensar a Educação em Pauta nº 236 – 10/05/2019

A universidade, essa instituição milenar, sempre foi local de pensar e fazer diferente, de criar coisas novas e ensinar as antigas. Por mais que os poderes, todos eles, tenham investido força e energia em controlá-las, por mais que estas tenham se institucionalizado e burocratizado, as universidades atravessaram a história como um local em que é possível pensar e agir contra os poderes instituídos, de questionar e deslocar os sentidos já estabelecidos, de estudar e ironizar, de fazer pesquisa e arte.

Não foram poucas as vezes que, diante do ímpeto rebelde e criativo das universidades, as autoridades constituídas as qualificaram como lugares de “grande balbúrdia”, como fez o Ministro da Educação há poucos dias. O que ocorre hoje, como em muitos outros momentos da história, é que os governos autoritários detestam aqueles e aquelas que não são cúmplices de seus desmandos e violência, de suas vilanias e malandragens. Não suportam aqueles e aquelas que insistem em apontar o dedo e dizer em alto e bom som que “o rei está nú”.

No lugar da balbúrdia, o governo Bolsonaro e seu Ministro da Educação propõem a barbárie. Sob o pretexto de combater a balbúrdia, o MEC busca não apenas criminalizar e impedir o pensamento divergente, mas impedir o próprio pensar. Daí, sua aversão às ciências humanas e sociais.

A barbárie não é apenas a suspensão da balbúrdia, mas a suspensão da própria política e das possibilidades de convivência das e nas divergências e diferenças. O pensamento único ou pensamento nenhum propostos pelo atual governo, são parte do mesmo plano de imposição de um governo baseado na força, na violência, na eliminação do outro. Daí, o seu particular apreço pelas armas e total desapreço pela palavra, pela explicação e pela verdade.

A barbárie é quando as armas passam a valer mais do que os livros, quando as milícias valem mais do que a política, quando a prisão vale mais do que a educação, quando a polícia vale mais do que a professora, quando os corpos negros são utilizados para a prática de tiro ao alvo. A barbárie é o governo Bolsonaro!

Assim, ao ressignificar a palavra balbúrdia, utilizada pelo Ministro da Educação para desqualificar as universidades e para justificar a perseguição às mesmas, a comunidade acadêmica brasileira retoma as mais antigas tradições universitárias: a disputa pelos sentidos das coisas e a crítica aos poderes instituídos.

Lá onde o Ministro reacionário e autoritário vê balbúrdia, desencanto e doutrinamento esquerdista, há muita gente criando um mundo novo, o qual vem de mãos dadas, na maioria das vezes, com nossas melhores tradições. Nas universidades são produzidos remédios, músicas, danças, conhecimentos, sentimentos, sensibilidades, amizades, encontros, tecnologias, política….

Às universidades tudo que é humano lhes interessa, seja para preservar, criar ou combater. Vivemos tempos em que é preciso combater para continuar criando e preservando. O nosso inimigo é, mais do que nunca, a barbárie, e esta tem, hoje,nome e endereço claramente estabelecidos no coração da República.


Imagem de destaque: Assembleia de Estudantes no gramado da Reitoria da UFMG – 09/05/2019

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Balbúrdia ou Barbárie!

A universidade, essa instituição milenar, sempre foi local de pensar e fazer diferente, de criar coisas novas e ensinar as antigas. Por mais que os poderes, todos eles, tenham investido força e energia em controlá-las, por mais que estas tenham se institucionalizado e burocratizado, as universidades atravessaram a história como um local em que é possível pensar e agir contra os poderes instituídos, de questionar e deslocar os sentidos já estabelecidos, de estudar e ironizar, de fazer pesquisa e arte.

Não foram poucas as vezes que, diante do ímpeto rebelde e criativo das universidades, as autoridades constituídas as qualificaram como lugares de “grande balbúrdia”, como fez o Ministro da Educação há poucos dias. O que ocorre hoje, como em muitos outros momentos da história, é que os governos autoritários detestam aqueles e aquelas que não são cúmplices de seus desmandos e violência, de suas vilanias e malandragens. Não suportam aqueles e aquelas que insistem em apontar o dedo e dizer em alto e bom som que “o rei está nú”.

No lugar da balbúrdia, o governo Bolsonaro e seu Ministro da Educação propõem a barbárie. Sob o pretexto de combater a balbúrdia, o MEC busca não apenas criminalizar e impedir o pensamento divergente, mas impedir o próprio pensar. Daí, sua aversão às ciências humanas e sociais.

A barbárie não é apenas a suspensão da balbúrdia, mas a suspensão da própria política e das possibilidades de convivência das e nas divergências e diferenças. O pensamento único ou pensamento nenhum propostos pelo atual governo, são parte do mesmo plano de imposição de um governo baseado na força, na violência, na eliminação do outro. Daí, o seu particular apreço pelas armas e total desapreço pela palavra, pela explicação e pela verdade.

A barbárie é quando as armas passam a valer mais do que os livros, quando as milícias valem mais do que a política, quando a prisão vale mais do que a educação, quando a polícia vale mais do que a professora, quando os corpos negros são utilizados para a prática de tiro ao alvo. A barbárie é o governo Bolsonaro!

Assim, ao ressignificar a palavra balbúrdia, utilizada pelo Ministro da Educação para desqualificar as universidades e para justificar a perseguição às mesmas, a comunidade acadêmica brasileira retoma as mais antigas tradições universitárias: a disputa pelos sentidos das coisas e a crítica aos poderes instituídos.

Lá onde o Ministro reacionário e autoritário vê balbúrdia, desencanto e doutrinamento esquerdista, há muita gente criando um mundo novo, o qual vem de mãos dadas, na maioria das vezes, com nossas melhores tradições. Nas universidades são produzidos remédios, músicas, danças, conhecimentos, sentimentos, sensibilidades, amizades, encontros, tecnologias, política….

Às universidades tudo que é humano lhes interessa, seja para preservar, criar ou combater. Vivemos tempos em que é preciso combater para continuar criando e preservando. O nosso inimigo é, mais do que nunca, a barbárie, e esta tem, hoje,nome e endereço claramente estabelecidos no coração da República.


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