Avaliações de risco

Ivane Laurete Perotti

 

No muro das lamentações escolares, um professor escreve: Para quem avalio o que avalio? A escrita em letras trêmulas “não pegou bem”! Fez-se uma reunião pedagógica motivada pelo “desconhecimento” dos tipos e formas de avaliar o desempenho e as habilidades do aprendente dentro dos ciclos pré-determinados pelo calendário. Reunião posta, assunto desnutrido. Segue-se a rotina do deslocamento cognitivo até que, na mesma escola, na mesma semana, um genitor (responsável?) toma para si as deliberações de uma cobrança:

Não aceito a nota que o professor deu para o meu filho. Isso é perseguição. Quero ver a cara desse safado… ele não tem coragem de me enfrentar.

Na mediação, coordenadores explicam didaticamente os elementos que compõem uma avaliação.

Não quero saber disso. O professor não gosta de meu menino, isso é preconceito.

O professor é chamado para fazer parte da reunião inesperada e deixa a sala de aula com mais de 40 alunos e seus instáveis arroubos juvenis às mãos de uma sentença: concluam as atividades! Cético, caminha em direção ao cadafalso. Não “deu” outra: a genitora, ao ver o professor, gritou impropérios e avançou sobre o mesmo com os braços em riste. Triste cenário de reinvindicações sujeitas ao vazio circense. Perdem as partes. E de partes destituídas claudica a escola em seu processo público de agonia: ataduras não seguram diques. Diques têm vontade própria. Carregam úteros de força em pulsos de emoções líquidas. Quando começa a conversa?

Que conversa? Eu não quero conversar.

Mãe… é uma forma de fazermos a escola caminhar junto com a família! Precisamos…

Tão de gozação comigo, né?

Não! É uma proposta de educação que…

Que nada! Vocês não sabem o que estão fazendo aqui. Mas mexeram com a pessoa errada.

Entre as páginas do processo que corrobora o boletim de ocorrência, uma delas mancha mais uma vez a história da educação pública generalizando-se como um “boom” de tendências: a cobrança sobre um mito alquebrado. A avaliação escolar toma caráter pessoal e, constituir o papel do ensinante e do progenitor/responsável/família nesta floresta de relações truncadas implica assumir incompletudes em constante devir.

Baseada em fatos reais, esta crônica não contempla o quadro fidedigno ao qual se remete, uma vez que as palavras da narrativa não alcançam as estruturas subjacentes às ações em seus ângulos de causa e efeito. Contudo, cabe pensar nos turnos de fala apagados ao logo da história da educação fora e dentro da escola: vozes esvaziadas não projetam escolhas.

O Brasil se perde por entre dedos crispados: as mãos que balançam o “berço esplêndido” escrevem um conto de fadas moderno, sombrio, dramático e fantasioso, muito longe do estilo consagrado por Tim Burton (1990), em Edward Mãos de Tesoura, mas próximo demais de uma paródia insípida e perigosa de quem somos e desejamos ser.

Vale conversar? – foi a questão escrita pelo professor agredido antes de se retirar da escola. Agora, basta não esquecer as lições de casa, para a casa e para além dela, mesmo que não seja possível retornar ao professor uma resposta imediata.

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